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Cadeias produtivas livres de desmatamento é tema no World Agri-Tech South America 2024

Tema foi associado à necessidade dos produtores estarem em conformidade e a possibilidade de certificação

Nai Fachini

em 27 de junho de 2024


“Garantir a conformidade e a certificação de consórcios livres de desmatamento”. Esse foi o tema de um dos painéis do World Agri-Tech South America 2024, em uma mesa redonda coordenada por Juliana Lopes, Diretora Técnica, de Natureza e Sociedade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.

Para ela, é preciso que o Brasil e o mundo assumam posições sobre o agronegócio, para estarem em conformidade e, “mais do que isso, para que se tenha uma cadeia produtiva certificada e livre de desmatamento. Esse é um tema essencial para manter o foco em regulamentações e rastreabilidade”, apontou Juliana, logo no início do painel. Ela, que esteve ao lado de convidados como Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF Brasil, Flávia De Souza Mendes, gerente de Programa, Florestas e Uso da Terra, e Marcos Botta, cofundador e diretor de Inovação e Operações da ucrop.it, apresentou sua visão sobre o desmatamento no Brasil e a necessidade de reversão do quadro.

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Foto: Reprodução/Linkedin World Agri-Tech

“Eu estou muito feliz por poder discutir esses aspectos. Nosso tema tem a ver com a garantia da conformidade e a certificação de consórcios livres de desmatamento. Não é todo dia que se fala sobre as estruturas legais e certificações, bem como sobre os desafios e as barreiras para gerenciar e monitorar cadeias de suprimento livres de desmatamento, e tudo isso atrelado ao papel das tecnologias e plataformas de dados”, completou Juliana. 

O desmatamento no mundo

“O desmatamento ainda é um problema muito grande em todo o mundo, especialmente aqui no Brasil”, apontou Mauricio Voivodic. Para ele, se trata de uma questão global, com sérios reflexos sobre o planeta. “A taxa de desmatamento da Amazônia ainda é bastante alta, embora recentemente tenha havido alguma queda. Estamos prestes a ter um dos maiores registros de seca, e isso tem a ver com a conversão das leis dos ecossistemas naturais. Portanto, acho fundamental que comecemos a reconhecer que isso é algo que está realmente se tornando um problema global”, ponderou. 

Mauricio Voivodic (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

Assim como o meio ambiente é afetado, o setor produtivo também é impactado pelo desmatamento. “Confiabilidade, esse é o ponto. É uma discussão importante que está acontecendo sobre qual é a regulamentação para garantir a rastreabilidade, não apenas para fornecer para a União Europeia, mas em geral, mais para saber de onde os produtos vêm e para se ter um melhor controle sobre a soja e a carne bovina, entre outros”, apontou o especialista do WWF. 

Juliana Lopes (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

Para Juliana Lopes, o mundo precisa entender o senso de urgência desses fatores. “E, particularmente no caso do Brasil, há um claro apelo à ação em relação à descarbonização, à redução da depreciação da biodiversidade. Portanto, isso está conectado para garantir essa rastreabilidade e há um ingrediente fundamental para permitir a transformação da prática agrícola, que são os dados”, complementou. Segundo ela, o momento é altamente favorável para “controlar” cadeias produtivas, uma vez que se tem mais ferramentas, o que torna o processo tecnicamente possível.

Tecnologia e a inovação para melhorar a rastreabilidade e a transparência

Marcus Botta destacou o papel da tecnologia e da inovação com os satélites, além da presença de blockchain para melhorar a rastreabilidade e a transparência nas cadeias de abastecimento que auxiliarão no combate ao desmatamento. Segundo ele, os agricultores já estão trabalhando para melhorar o cenário brasileiro, mas enfrentam uma série de desafios para alcançar escalabilidade.

A blockchain para sustentabilidade da cadeira é essencial para ajudar na questão do rastreamento, disse Botta. Para ele, a tecnologia viabiliza o acompanhamento da produção desde a sua origem até o final do sistema produtivo e a entrega ao consumidor. Além disso, o apoio de satélites, que fazem o acompanhamento das florestas por imagens, facilita a tomada de decisão baseada em dados reais. 

Marcus Botta (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

“Vejo muitos desafios em países do continente africano ou do continente asiático, por causa da falta de dados, às vezes, ou de soluções. O Brasil é amplamente apoiado pela disponibilidade de dados. Temos sistemas de alerta para detectar a degradação do desmatamento. Portanto, acho que a tecnologia é o ponto-chave”, justificou Botta, ao falar sobre o apoio tecnológico para melhorar as florestas e a inovação aplicada para auxiliar o Brasil na sustentabilidade no campo. 

Quando questionado sobre como a tecnologia e a inovação, como o satélite e o blockchain, podem melhorar a rastreabilidade, ele logo respondeu: “a transparência nas cadeias de suprimentos deve evitar o desmatamento. Isso porque, nos últimos cinco anos, tentamos descobrir uma maneira de avançar em direção à sustentabilidade. Para provar essa sustentabilidade, será preciso criar uma  interface com o usuário, executor, capaz de reivindicar uma API padrão. Também em termos de trabalho, essa solução, ou esse algoritmo, deve identificar quem é quem no processo de governança. Tudo será em torno da governança”, ponderou. Para ele, trata-se de um sistema cíclico, no qual um fator depende do outro para a produção sustentável e com responsabilidade sobre a natureza. “O desmatamento está ligado à umidade do solo, que impacta diretamente as pastagens e, por consequência as espécies, que dependem de áreas de preservação, e assim por diante, é sistêmico”. 

De acordo com Juliana Lopes, manter as cadeias produtivas livres de desmatamento não se trata de um desafio puramente técnico, mas que “tem na tecnologia a permissão para garantir o saldo positivo do processo, no caso, a rastreabilidade”.