Foto: Fernando Branco – AeroCam / Shutterstock
Foto: Fernando Branco – AeroCam / Shutterstock

Chifre de boi: mais um tesouro escondido da pecuária

Descubra como este subproduto da pecuária se transforma em joias, fertilizantes e muito mais

Redação

em 7 de março de 2025


Você já imaginou que algo tão comum como o chifre de boi pudesse ser transformado em joias diferenciadas, fertilizantes orgânicos eficientes e até mesmo em produtos industriais inovadores? No Brasil, um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, milhares de toneladas de chifres são geradas anualmente. 

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse volume representa não apenas um desafio de gestão de resíduos, mas também uma oportunidade única para a criação de valor e promoção da sustentabilidade no setor agropecuário. 

O que é feito com o chifre de boi?

O artesão de couro usa um martelo especial feito de chifres de boi para criar uma de suas peças (Foto: Atiwat Witthayanurut / Shutterstock)

O chifre de boi, composto majoritariamente por queratina, é um material natural com características únicas que o tornam valioso para uma variedade de aplicações, dentro de uma cadeia produtiva diversificada, que movimenta diferentes setores da economia.

Sua estrutura robusta e resistente permite que seja trabalhado de diversas formas, especialmente quando aquecido, tornando-o maleável e moldável. Essa propriedade possibilita a criação de objetos artesanais, ferramentas e até mesmo instrumentos musicais. Conheça os principais usos do chifre de boi.

  • Artesanato e decoração: o chifre de boi é transformado em peças diferenciadas, com grande valor cultural.
  • Adubo orgânico: processado, o chifre de boi pode virar um fertilizante natural, rico em nutrientes.
  • Indústria: o chifre de boi também pode ser utilizado pela indústria para a produção de cola animal e outros produtos, como a gelatina, por exemplo.
  • Ferramentas: a resistência do material o torna adequado para a fabricação de cabos de ferramentas, como facas e martelos, proporcionando durabilidade e ergonomia.
  • Instrumentos musicais: o chifre de boi é utilizado na confecção de instrumentos de sopro, como trompas e chifres, devido à sua capacidade de produzir sons ricos e ressonantes.
  • Medicina tradicional: em algumas culturas, o chifre de boi pode ser usado na preparação de remédios naturais.

Artesanato e decoração

Cuia de Tereré ou tererê, feita com chifre de boi. (Foto: RHJPhtotos / Shutterstock)

O uso do chifre de boi no artesanato é uma tradição antiga, presente em diversas culturas ao redor do mundo, incluindo o Brasil. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a tradição de trabalhar o chifre de boi deu origem a empreendimentos como a “Jóias do Pantanal”, que produz acessórios diferenciados e sustentáveis. Artesãos transformam o material em pentes, botões, cabos de faca e outras peças decorativas.

O processo de fabricação envolve o aquecimento do chifre para moldá-lo. Isso permite que ele seja cortado, moldado no formato desejado e polido. Como resultado, produtos duráveis, com padrões naturais únicos e uma conexão tangível com a cultura local. Além do valor estético, o artesanato em chifre de boi contribui para a sustentabilidade, reutilizando um subproduto da indústria pecuária e reduzindo o impacto ambiental.

Adubo orgânico produzido a partir do chifre de boi

Uma das aplicações mais inovadoras do chifre de boi é na agricultura sustentável, por meio da produção de farinha de chifre. Trata-se de um adubo orgânico rico em nitrogênio, nutriente essencial para o crescimento saudável das plantas. O processo envolve a moagem do chifre até que ele se transforme em um pó fino, que pode ser incorporado ao solo.

Farinha como fertilizante

Foto: OlgaGi / Shutterstock

O uso da farinha de chifre é valorizado na agricultura orgânica, uma vez que ela beneficia diversas culturas, além de promover a economia circular. O nitrogênio é liberado gradualmente, nutrindo as plantas por mais tempo. Outro benefício está atrelado à melhoria da estrutura do solo, pois a farinha contribui para a textura e retenção de água do solo. Um produto biodegradável que colabora com a manutenção de práticas agrícolas ecológicas.

Outras aplicações

Além do artesanato e do adubo, o chifre de boi é utilizado na produção de cola animal, um adesivo natural para marcenaria fina. Na medicina tradicional, algumas culturas utilizam o material para a produção de remédios naturais. O chifre de boi também é usado na fabricação de utensílios específicos, como recipientes para pólvora.

Benefícios da utilização do chifre de boi na propriedade rural 

Foto: joseluizweb / Adobe Stock

Entre os benefícios na produção rural estão a redução de custos e a geração de renda. Os produtores podem reduzir gastos com fertilizantes, aumentando a produtividade e a lucratividade da propriedade.

O produto também auxilia os produtores rurais na manutenção de práticas mais sustentáveis para suas propriedades. A utilização integral do chifre reduz não só os resíduos, mas também aumenta a incidência da agricultura orgânica.

Com a criação de empregos, o uso do chifre de boi promove o fortalecimento da economia local, fomentando o empreendedorismo local e, em alguns casos, pode se tornar também um atrativo de turismo rural. 

Curiosidades

Jovem de Guangxi, na China, molda chifre de boi em uma máquina de rolo caseira para fazer pente. (Foto: Robert Way)

Você sabia que a queratina, o principal componente do chifre, é a mesma proteína encontrada em cabelos e unhas humanas? Outra curiosidade está relacionada ao fato de o chifre de boi ser um material renovável. Ele cresce continuamente ao longo da vida do animal. 

Ainda sobre as curiosidades do chifre de boi, a técnica de moldagem do chifre é utilizada há séculos por diversas culturas ao redor do mundo.

Na cultura africana, as tribos Maasai (Quênia e Tanzânia), utilizavam chifres de boi para confeccionar pulseiras, brincos e outros adornos, demonstrando status social e identidade cultural. Outros povos da África Ocidental produziam recipientes, colheres e utensílios domésticos a partir de chifres, aproveitando a durabilidade e maleabilidade do material.

Na cultura asiática o material também é bastante utilizado. Na China, os chifres de búfalo eram transformados em pentes, botões e objetos decorativos, apreciados por sua beleza e simbolismo. Enquanto no Japão, a técnica de moldagem era utilizada para criar “netsukes” (pequenos objetos esculpidos) e outros adornos, demonstrando habilidade artesanal e atenção aos detalhes.

Na Europa, os vikings utilizavam chifres de animais para confeccionar pentes, colheres e outros objetos do cotidiano, demonstrando sua praticidade e versatilidade. Já na idade média, os chifres eram transformados em recipientes para beber, instrumentos musicais (como trompas) e até mesmo em janelas translúcidas, devido à sua capacidade de transmitir luz.

A cultura nativa americana, como os povos Indígenas das planícies, utilizava chifres de bisão para confeccionar colheres, pentes e outros utensílios, demonstrando sua adaptabilidade e conhecimento dos recursos naturais. As tribos da Costa Noroeste esculpiam chifres de carneiro selvagem em elaboradas máscaras e outros objetos cerimoniais, representando figuras ancestrais e espíritos da natureza.

Aqui no Brasil, os indígenas da Amazônia utilizavam chifres de animais para confeccionar adornos e instrumentos musicais, demonstrando sua conexão com a fauna local e a rica cultura. A técnica de moldagem do chifre ainda é utilizada em algumas regiões para criar objetos artesanais, transmitindo conhecimentos tradicionais de geração em geração.