Chifre de boi: mais um tesouro escondido da pecuária
Descubra como este subproduto da pecuária se transforma em joias, fertilizantes e muito mais
Você já imaginou que algo tão comum como o chifre de boi pudesse ser transformado em joias diferenciadas, fertilizantes orgânicos eficientes e até mesmo em produtos industriais inovadores? No Brasil, um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, milhares de toneladas de chifres são geradas anualmente.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse volume representa não apenas um desafio de gestão de resíduos, mas também uma oportunidade única para a criação de valor e promoção da sustentabilidade no setor agropecuário.
O que é feito com o chifre de boi?

O chifre de boi, composto majoritariamente por queratina, é um material natural com características únicas que o tornam valioso para uma variedade de aplicações, dentro de uma cadeia produtiva diversificada, que movimenta diferentes setores da economia.
Sua estrutura robusta e resistente permite que seja trabalhado de diversas formas, especialmente quando aquecido, tornando-o maleável e moldável. Essa propriedade possibilita a criação de objetos artesanais, ferramentas e até mesmo instrumentos musicais. Conheça os principais usos do chifre de boi.
- Artesanato e decoração: o chifre de boi é transformado em peças diferenciadas, com grande valor cultural.
- Adubo orgânico: processado, o chifre de boi pode virar um fertilizante natural, rico em nutrientes.
- Indústria: o chifre de boi também pode ser utilizado pela indústria para a produção de cola animal e outros produtos, como a gelatina, por exemplo.
- Ferramentas: a resistência do material o torna adequado para a fabricação de cabos de ferramentas, como facas e martelos, proporcionando durabilidade e ergonomia.
- Instrumentos musicais: o chifre de boi é utilizado na confecção de instrumentos de sopro, como trompas e chifres, devido à sua capacidade de produzir sons ricos e ressonantes.
- Medicina tradicional: em algumas culturas, o chifre de boi pode ser usado na preparação de remédios naturais.
Artesanato e decoração

O uso do chifre de boi no artesanato é uma tradição antiga, presente em diversas culturas ao redor do mundo, incluindo o Brasil. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a tradição de trabalhar o chifre de boi deu origem a empreendimentos como a “Jóias do Pantanal”, que produz acessórios diferenciados e sustentáveis. Artesãos transformam o material em pentes, botões, cabos de faca e outras peças decorativas.
O processo de fabricação envolve o aquecimento do chifre para moldá-lo. Isso permite que ele seja cortado, moldado no formato desejado e polido. Como resultado, produtos duráveis, com padrões naturais únicos e uma conexão tangível com a cultura local. Além do valor estético, o artesanato em chifre de boi contribui para a sustentabilidade, reutilizando um subproduto da indústria pecuária e reduzindo o impacto ambiental.
Adubo orgânico produzido a partir do chifre de boi
Uma das aplicações mais inovadoras do chifre de boi é na agricultura sustentável, por meio da produção de farinha de chifre. Trata-se de um adubo orgânico rico em nitrogênio, nutriente essencial para o crescimento saudável das plantas. O processo envolve a moagem do chifre até que ele se transforme em um pó fino, que pode ser incorporado ao solo.
Farinha como fertilizante

O uso da farinha de chifre é valorizado na agricultura orgânica, uma vez que ela beneficia diversas culturas, além de promover a economia circular. O nitrogênio é liberado gradualmente, nutrindo as plantas por mais tempo. Outro benefício está atrelado à melhoria da estrutura do solo, pois a farinha contribui para a textura e retenção de água do solo. Um produto biodegradável que colabora com a manutenção de práticas agrícolas ecológicas.
Outras aplicações
Além do artesanato e do adubo, o chifre de boi é utilizado na produção de cola animal, um adesivo natural para marcenaria fina. Na medicina tradicional, algumas culturas utilizam o material para a produção de remédios naturais. O chifre de boi também é usado na fabricação de utensílios específicos, como recipientes para pólvora.
Benefícios da utilização do chifre de boi na propriedade rural

Entre os benefícios na produção rural estão a redução de custos e a geração de renda. Os produtores podem reduzir gastos com fertilizantes, aumentando a produtividade e a lucratividade da propriedade.
O produto também auxilia os produtores rurais na manutenção de práticas mais sustentáveis para suas propriedades. A utilização integral do chifre reduz não só os resíduos, mas também aumenta a incidência da agricultura orgânica.
Com a criação de empregos, o uso do chifre de boi promove o fortalecimento da economia local, fomentando o empreendedorismo local e, em alguns casos, pode se tornar também um atrativo de turismo rural.
Curiosidades

Você sabia que a queratina, o principal componente do chifre, é a mesma proteína encontrada em cabelos e unhas humanas? Outra curiosidade está relacionada ao fato de o chifre de boi ser um material renovável. Ele cresce continuamente ao longo da vida do animal.
Ainda sobre as curiosidades do chifre de boi, a técnica de moldagem do chifre é utilizada há séculos por diversas culturas ao redor do mundo.
Na cultura africana, as tribos Maasai (Quênia e Tanzânia), utilizavam chifres de boi para confeccionar pulseiras, brincos e outros adornos, demonstrando status social e identidade cultural. Outros povos da África Ocidental produziam recipientes, colheres e utensílios domésticos a partir de chifres, aproveitando a durabilidade e maleabilidade do material.
Na cultura asiática o material também é bastante utilizado. Na China, os chifres de búfalo eram transformados em pentes, botões e objetos decorativos, apreciados por sua beleza e simbolismo. Enquanto no Japão, a técnica de moldagem era utilizada para criar “netsukes” (pequenos objetos esculpidos) e outros adornos, demonstrando habilidade artesanal e atenção aos detalhes.
Na Europa, os vikings utilizavam chifres de animais para confeccionar pentes, colheres e outros objetos do cotidiano, demonstrando sua praticidade e versatilidade. Já na idade média, os chifres eram transformados em recipientes para beber, instrumentos musicais (como trompas) e até mesmo em janelas translúcidas, devido à sua capacidade de transmitir luz.
A cultura nativa americana, como os povos Indígenas das planícies, utilizava chifres de bisão para confeccionar colheres, pentes e outros utensílios, demonstrando sua adaptabilidade e conhecimento dos recursos naturais. As tribos da Costa Noroeste esculpiam chifres de carneiro selvagem em elaboradas máscaras e outros objetos cerimoniais, representando figuras ancestrais e espíritos da natureza.
Aqui no Brasil, os indígenas da Amazônia utilizavam chifres de animais para confeccionar adornos e instrumentos musicais, demonstrando sua conexão com a fauna local e a rica cultura. A técnica de moldagem do chifre ainda é utilizada em algumas regiões para criar objetos artesanais, transmitindo conhecimentos tradicionais de geração em geração.