Combinação de insumos favorece agricultura sustentável
Avaliação é de especialistas que perticiparam do Global Agrobusiness Festival
A alta exposição do Brasil à importação de fertilizantes – 85% do volume consumido – ficou evidente durante a pandemia de coronavírus e continua crítica no país. Para Ernani Judice, CEO da Agrion Agrisolutions, essa dependência precisa mudar e a combinação de insumos pode ser uma das soluções.
Judice não acha que a dependência dos insumos químicos vai mudar rapidamente, mas aposta nos fertilizantes organominerais como um meio de transição, até que se amplie a adoção de insumos biológicos. Em resumo: o ideal é que haja uma maior combinação de todas as opções. Quem ganha é o produtor rural.
Para ele, o uso dos adubos NPK, sigla para nitrogênio, fósforo e potássio, precisa ser mais eficiente – evitando as perdas, apontadas por ele como de 60% – e contaminando menos o meio ambiente, além de ter preços mais acessíveis.
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O uso deles, de acordo com o especialista, pode ser combinado com materiais orgânicos, de liberação gradual de insumos, e com soluções biológicas, com redução do custo de aplicação e menor impacto ambiental.
O executivo lembra, no entanto, que as soluções precisam chegar ao produtor rural com viabilidade econômica. Isso inclui, também, a maior produção, por exemplo, de NPK no Brasil. Ou seja, nada é excludente.

“Uma forte vertente no país é o desenvolvimento de soluções alinhadas com meio-ambiente e com a produtividade”, afirmou.
Segundo Judice, o mercado é receptivo às novas tecnologias. No caso da Agrion, a empresa já vendeu o conceito de produzir insumos biológicos a partir da produção local, dentro de usinas sucroalcooleiras, mas essa etapa já foi vencida e ela disputa o mercado com outros concorrentes.
De acordo com ele, a tecnologia envolve uma solução dentro de casa, onde o insumo produzido pode ser usado na adubação da cana-soca (que brota após o primeiro corte) com vinhaça localizada, dispensando a compra de cloreto de potássio.
Por ser uma proposta de fábrica integrada, dentro de uma usina de açúcar e de álcool, os custos de produção e transporte são bastante reduzidos e os ganhos ambientais seamplificam. A Agrion, que tem operação próxima à Uberlândia (MG), projeta dez fábricas a serem construídas nos próximos cinco anos.
Sustentabilidade também envolve garantia de renda aos produtores
A pegada sustentável também está na agenda de produção de insumos da CropLife Brasil (CLB), associação civil sem fins lucrativos que representa empresas especializadas nos setores de germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e bioinsumos.
Na avaliação do diretor executivo da entidade, Arthur Gomes, a bandeira da sustentabilidade envolve a proteção dos recursos naturais, mas também a garantia de renda para os produtores.
Nesse sentido, a tecnologia precisa ser acessível e preencher lacunas como a falta de insumos inovadores já adotados por outros países, como a Austrália.

“Existem produtos usados no exterior, mas que não foram aprovados aqui e há insumos aprovados, mas que não chegam por problemas dos países exportadores”, resume Gomes.
A solução, de acordo com ele, passa pela maior agilidade na burocracia de órgãos como a Anvisa, no primeiro caso. Em relação à importação, o Brasil pode “exportar” o modelo bem resolvido da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para outros países.
“É um sistema multiministerial, que agrega também outras organizações e funciona muito bem”, resume.
Gomes igualmente defende um diálogo maior entre todo o ecossistema de produção e chama a atenção para que a mudança da reforma tributária não traga desincentivos para a área de biotecnologia.
Assim como Judice, o especialista aposta na combinação de vários insumos, inclusive do uso de fertilizantes químicos mais seletivos. “É preciso avaliar os riscos e entender a necessidade da agricultura”, explicou.
Mão de obra e acesso a crédito são desafios da cadeia
O debate do Global Agrobusiness Festival também trouxe Paulo Pianez, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da BRF e Marfrig. O executivo destacou que as duas empresas atuam para entender o papel de insumos sustentáveis na cadeia dos produtores de proteína.
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“Nossa cadeia é longa e os produtores estão na ponta”, reforçou, a respeito dos integrados, que fazem parte do fornecimento de proteína a partir de frango e suínos, e das fazendas de corte de carne bovina.

Segundo Pianez, são mais de 10 mil no primeiro caso – integrados – e mais de 50 mil produtores entre aqueles que fornecem a proteína de carne bovina.
O executivo destacou a interdependência do agronegócio e a defesa do acesso ao crédito para toda a cadeia, com destaque para os pequenos produtores. Para isso, a BRF e a Marfrig, segundo ele, têm trabalhado para estimular o trabalho de bancos mais ligados ao segmento e de fundos internacionais com ações no agro.
Para o executivo, outro desafio é o de mão de obra, o que envolve a continuidade dos negócios no campo. Em todas as suas operações, com 130 mil colaboradores, os imigrantes respondem por 10 mil vagas ativas.
Pianez lembrou, ainda, que a Marfrig sozinha realizou um intenso programa de suporte a mais de 3,5 mil fazendas entre 2021 e 2023, de forma a assegurar que essas propriedades tivessem condições de se manterem como parceiros adequados no fornecimento de proteína animal.