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Como a pecuária pode ajudar a combater o aquecimento global?

Objetivo é desenvolver uma pílula capaz de transformar as bactérias intestinais dos animais de forma que emitam menos ou nenhum metano

Redação

em 27 de janeiro de 2025


O cientista brasileiro Paulo de Méo Filho faz parte de um projeto de pesquisa cujo objetivo é evitar que o gado emita metano, um dos principais gases causadores de efeito estufa. Ele, que é pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Califórnia (UC), participa de um experimento para desenvolver uma pílula capaz de transformar as bactérias intestinais dos animais, de forma que emitam menos ou nenhum metano. Ou seja, o brasilerio trabalha em uma solução que pode ajudar a combater o aquecimento global via pecuária. 

O setor entrou para a lista das preocupações climáticas devido ao volume de emissões gasosas produzido por bovinos. “Quase metade do aumento da temperatura (global) que tivemos até agora foi devido ao metano”, explica Ermias Kebreab, professor de ciências animais da UC.

O gás metano é considerado o segundo maior fator de influência das mudanças climáticas após o dióxido de carbono. Segundo Kebreab, o metano dura cerca de 12 anos na atmosfera, enquanto o dióxido de carbono (CO2) persiste por séculos. Ele afirma que “se começarmos a reduzir o metano agora, poderemos ver o efeito na temperatura rapidamente”.

O projeto na prática

O projeto de pesquisa, na prática, usa um tubo para extrair líquido do rúmen dos animais, o compartimento do estômago que contém comida parcialmente digerida. São as amostras do líquido do rúmen que permitem que os cientistas estudem os micróbios que transformam o hidrogênio em metano (que não é digerido pelo bovino, mas arrotado). Um bovino, por exemplo, arrota cerca de 100 kg de gás por ano.

Durante a pesquisa, os bezerros recebem uma dieta suplementada com algas marinhas usadas para reduzir a produção de metano. 

A proposta é introduzir micróbios geneticamente modificados para absorver hidrogênio, o que mataria a fome das bactérias produtoras de metano nos bovinos.

Apesar de ter um controle sobre a pesquisa, Matthias Hess, diretor do laboratório da UC, adverte: “não podemos simplesmente reduzir a produção de metano eliminando as bactérias produtoras deste gás, pois o hidrogênio poderia se acumular e afetar a saúde do animal”, explicou.

De acordo com o divulgado pela universidade, os alunos de Hess testam diferentes fórmulas em biorreatores para reproduzir as condições de vida dos microrganismos dentro do estômago. Os cientistas do Instituto Genômica Inovadora (IGI), da UC em Berkeley, que atuam em parceria no projeto, trabalham para identificar o micróbio correto, na tentativa de alterá-lo geneticamente e substituir os produtores de metano. Os microrganismos modificados serão todos testados na Universidade da Califórnia, em laboratório e também nos animais. 

O resultado esperado é um tratamento com dose única administrado nas primeiras etapas da vida do bovino.