carne cultivada

Conheça a carne cultivada em laboratório

Saiba mais sobre a carne cultivada em laboratório e os desafios regulatórios para essa produção

Redação

em 28 de agosto de 2024


A carne produzida em laboratório, também conhecida como carne cultivada ou carne sintética, geralmente é criada a partir de células animais. E como todo produto alimentício fabricado no Brasil, também deve atender à regulamentação e às normas sanitárias exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Recentemente, o órgão publicou uma lei que regulamenta o registro desse tipo de alimento. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 839/2023) moderniza as regras, delimita fluxos e alguns procedimentos para a comprovação de segurança e autorização de uso de novos alimentos e novos ingredientes. Ou seja, carne cultivada, produzida em laboratório, também deve seguir os padrões da agência. 

De acordo com a nova resolução, que entrou em vigor em 16 de março (2024), o uso dos novos alimentos e novos ingredientes deve atender a padrões mais específicos. Além da criação de procedimentos administrativos, o produtor deve detalhar, nos mais altos níveis, os requisitos para uma avaliação de segurança satisfatória. O fabricante também deve manter a Anvisa atualizada sobre a lista de novos alimentos e novos ingredientes, com as devidas especificações, atendendo aos limites e condições de uso dos produtos.   

O que é uma carne cultivada?

carne cultivada

De acordo com o Food Connection, quando falamos em carne cultivada em laboratório, estamos tratando de um produto fruto do cultivo a partir de células animais, em um ambiente controlado. Na prática, um processo que envolve a reprodução de células musculares, gordura e tecidos, ou seja, a criação de um produto semelhante à carne em textura e valor nutricional, mas que não necessariamente é carne como costumamos consumir (pelo menos por enquanto). 

A carne cultivada em laboratório tem como ponto de partida o uso de amostras dos animais, entre eles: bovinos, suínos, aves e peixes, excluindo completamente processos de engorda e abate animal.    

Geralmente o cultivo passa por quatro etapas: coleta de células, proliferação em biorreatores, diferenciação celular e estruturação em suportes.

Coleta de células

A obtenção de células-tronco de um animal é o ponto de partida. Depois, elas são cultivadas com nutrientes e crescem com a diferenciação de células musculares e adiposas. O passo seguinte é a seleção e a validação em pequenos lotes, o que permite o uso gradual ao longo do tempo (reduzindo a necessidade de novas coletas).

Proliferação em biorreatores

Os biorreatores são usados para provocar as condições ideais de crescimento celular em grande escala. Uma curiosidade aqui está relacionada aos experimentos com as impressoras 3D, que serão capazes de estruturar a carne a ponto de “imitar” cortes específicos.

Diferenciação celular

Depois da coleta e a proliferação em biorreatores, as amostras cultivadas são isoladas em uma cultura apropriada, o que é fundamental para o processo, uma vez que pode modificar a eficiência e as características finais do produto. 

Estruturação

Na fase da estruturação, as células são alinhadas e recebem a forma de fibras para que a carne cultivada em laboratório seja o mais próxima possível da convencional. Ao final, o produto é coletado para processamento final, e então vira hambúrguer, carne empanada ou outros cortes.

Um novo cenário da carne

Uma das promessas sobre o desenvolvimento da carne cultivada em laboratório é a de que ela reduza os impactos ambientais da produção pecuária, principalmente sobre as emissões de gases causadores de efeito estufa, os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas. Contudo, o agronegócio está desenvolvendo práticas cada vez mais sustentáveis para manutenção da cadeia. 

Por outro lado, a carne cultivada em laboratório tem valor de produção bem acima do cultivo do gado, uma vez que insumos e equipamentos para a transformação em laboratório justificam os altos preços. 

Para João Almeida, doutor e mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, “quando os processos de produção estiverem bem estabelecidos, a carne cultivada será produzida de forma semelhante ao que hoje se faz para produzir cerveja, com custos bastante reduzidos”. Apesar disso, essa ainda é uma realidade distante. Segundo Almeida, o primeiro hambúrguer de carne cultivada em laboratório, na Holanda, ainda em 2013, teve um custo aproximado de 325 mil dólares.

Países como Singapura e Estados Unidos já consomem carnes cultivadas em laboratórios. Os americanos aprovaram a regulamentação somente em 2023. Países como Israel, Suíça e o Reino Unido estão em processos avançados de regulamentação.