Custo de produção da carne vai aumentar em 2025?
Entenda como o câmbio desfavorável no Brasil, com a alta do dólar ante ao real, e a reposição de rebanhos, podem interferir no preço do gado
O custo de produção da carne bovina deve aumentar em 2025 no Brasil. O câmbio desfavorável é um dos maiores vilões nesse cenário, seguido pela diminuição da disponibilidade de bezerros destinados à reposição de rebanho.
O Globo Rural já deu seu alerta ao divulgar o indicador Esalq/BM&FBovespa, que apontou o preço médio negociado em Mato Grosso do Sul em 2024, com alta acumulada de 27,45%, a R$ 2.643,23. Segundo a notícia, o animal jovem é o principal custo de quem atua no último elo da cadeia pecuária bovina, a engorda. Por isso os produtores terão que diminuir as margens em 2025.
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Para Paulo Dias, diretor da Ponta Agro, empresa de gestão da informação, a restrição de animais para reposição (da recria até a engorda) impacta nos custos. Outro ponto destacado pelo especialista é a alta do dólar.
“A subida do dólar estimula as exportações brasileiras de grãos e, consequentemente, reduz a disponibilidade no mercado interno”, justificou Dias.
Custo de produção da carne em 2025
O Índice de Custo Alimentar Ponta (ICAP), calculado pela Ponta Agro, fechou dezembro (2024) com alta de 1,46% em relação a novembro (2024) na região Centro-Oeste e 7,08% no Sudeste. Apesar disso, no comparativo anual, o indicador caiu 14,41% no Sudeste e 8,34% no Centro-Oeste, resultado de uma safra recorde de grãos no ano passado. Isso barateou relativamente o custo da matéria-prima do alimento nos confinamentos de gado.

“Essa oferta maior puxou os preços no mercado interno para baixo, beneficiando a cadeia de alimentação animal ao longo do ano de 2024”, afirmou a Ponta Agro, em nota.
A empresa estima um custo total de R$ 224,09 por arroba bovina produzida no Centro-Oeste e de R$ 211,28 por arroba na região Sudeste. Os valores, de acordo com Ponta Agro, podem permitir que os pecuaristas obtenham um lucro superior a R$ 810 por cabeça na região Sudeste e de mais de R$ 560 por animal no Centro-Oeste.
“Nesta temporada (2025), a nutrição animal não deve ser uma vilã para os custos de produção. Essa alta deve vir majoritariamente do aumento dos preços de reposição”, apontou Fernando Iglesias, analista de proteína animal da consultoria Safras & Mercado.
Iglesias acredita que o consumidor final pagará mais caro pela carne em 2025. Segundo ele, isso se deve ao aumento do dólar. “Com a demanda internacional firme e exportações recorde no ano passado, o preço da carne para o consumidor deve subir, já que haverá menos oferta de animais prontos para abate e, ao mesmo tempo, mais demanda pela carne bovina brasileira”, disse.
Segundo ele, os últimos dois anos foram marcados pelo “descarte muito intenso de fêmeas”, o que traz consequências para o mercado atual, com uma oferta menor de animais de reposição. “Isso vai levar a um aumento no custo de produção”, afirmou Iglesias.
Abate de fêmeas bovinas dispara no Brasil
O abate de fêmeas bovinas no Brasil atingiu níveis recordes nos primeiros dois trimestres de 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A participação das fêmeas no total de bovinos abatidos superou 30% em ambos os períodos, um aumento significativo em relação aos últimos meses de 2022. Essa tendência reflete a queda nos preços da arroba, que torna a criação menos rentável e impulsiona os pecuaristas a reduzirem seus rebanhos, aumentando a oferta de animais para abate e pressionando ainda mais os preços.
“Foi o que aconteceu em 2023 e 2024. A oferta dessas fêmeas pressionou a arroba do boi gordo e barateou a carne. Por isso tivemos um consumo melhor. Mas, neste ano, a lógica muda. O preço está em alta e a oferta de fêmeas será menor”, afirma o analista da Safras & Mercado.