Gordura suína produzida em laboratório: conheça a novidade
Semelhante ao método de cultivo de carne suína em laboratório, startup quer produzir banha de porco e outros produtos derivados
A antiga (mas também famosa) banha de porco ganhou uma versão altamente tecnológica. O item já está sendo produzido em laboratório e, o melhor, sem envolver o processo de abate do animal. A startup brasileira de biotecnologia Cellva, há dois anos no mercado, criou uma metodologia que multiplica células de gordura retiradas do animal vivo, em apenas 21 dias, com o apoio de biorreatores.
A produção é similar à da ‘carne cultivada em laboratório’, produzida a partir da multiplicação de células bovinas. No caso da gordura, o processo ocorre a partir da extração de um pedaço do animal, do tamanho de um grão de arroz, mas que contém células que se multiplicam. A amostra carrega centenas de milhares de células que serão congeladas em um biobanco e se tornam matrizes para todo o processo.
No laboratório, o material guardado é descongelado e ativado com biorreatores. Assim, acontece a multiplicação celular em uma solução de água, nutrientes e microcarreadores. O resultado é a produção da gordura em laboratório. E, ao quebrar as células, o processo também consegue extrair os ácidos graxos.
Gordura é nutriente importante
A startup, que está concluindo uma rodada de investimentos e já tem seu primeiro contrato comercial assinado, pretende também mudar a imagem da gordura, que é considerada uma espécie de “patinho feio” dos macronutrientes.
Em entrevista para o Reset, Sérgio Pinto, CEO e cofundador da Cellva, mencionou que a gordura é vista como vilã pela maioria das pessoas. “Geralmente, a gordura é considerada inimiga. Mas, é importante lembrar que ela é uma fonte de ácidos graxos essenciais, como ômega 9 e ômega 3, e que gera energia”, afirmou.
Segundo Bibiana Matte, cofundadora e diretora científica da empresa, há falta de gordura no mercado. “Há muitos animais, mas com alto índice de proteína e menor percentual de gordura”, explicou.
A startup já está testando a utilização da gordura suína produzida em laboratório em itens comuns como bolos, brownies e salsichas. A ideia da empresa é ampliar o mercado e oferecer o produto para vários segmentos da indústria alimentícia.
A meta da startup é evoluir e chegar a 2030 com a produção mensal de 100 mil toneladas. O grande desafio é que, em tese, esse montante mensal será originado a partir de um único animal. Além disso, de acordo com os fundadores da Cellva, explicar a tecnologia e os benefícios por trás da produção é tão desafiador quanto escalar a tecnologia.
O laboratório próprio da empresa, situado em Porto Alegre (RS), já recebeu investimentos na marca de R$ 1 milhão. A expectativa da startup é ter uma fábrica operando já no início de 2026. Mas, para comercializar a gordura e os ácidos graxos obtidos a partir da quebra das células, a empresa aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).