Alta de juros pode ser uma barreira para inovação, dizem produtores rurais
Dado foi revelado pelo Monitor de Tendências do Agronegócio Brasileiro, elaborado pela Fiesp
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ouviu 514 pessoas de vários estados do país para atualizar os dados do Monitor de Tendências do Agronegócio Brasileiro. Um dos resultados apontados é que os produtores rurais atrelam o atraso na inovação aos juros altos para financiamento de novas tecnologias.
Cerca de 45% dos entrevistados apontaram que o custo inicial da inovação ainda é uma barreira. Outros 29% citam o crédito como o principal problema, enquanto 24% atrelam a baixa conectividade à dificuldade em apostar em novas tecnologias para inovação. Apesar disso, 26% dos produtores rurais declararam que têm acesso a tecnologia necessária para o funcionamento das suas propriedades.
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De acordo com Roberto Betancourt, diretor do departamento do Agronegócio da Fiesp, em entrevista ao Globo Rural, produtores de soja, milho, café, algodão e cana-de-açúcar, e pecuaristas de corte e leite, participaram do estudo. “O produtor está mais cauteloso, o preço das commodities caiu e o juro está muito alto. Então, é natural que ele fique menos propenso a investir”, apontou.
Financiamentos, juros e inovação
Mais de 70% dos agricultores e pecuaristas que participaram do estudo da Fiesp declararam que optaram pelo financiamento das operações na última safra.
Cerca de 43% do crédito à agricultura e 50% dos financiamentos à pecuária vieram de bancos tradicionais. Somente 6% dos produtores revelaram a utilização de mecanismos como Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro).
“O Plano Safra parece ter muito dinheiro, mas está aquém das necessidades do Brasil. No fim, com os recursos disponíveis, o produtor faz o custeio, e não novos investimentos”, completou Betancourt.
De acordo com o estudo, no caso dos créditos, 59% dos produtores de soja, 44% dos produtores de algodão e 38% dos pecuaristas de corte revelaram que o alto custo é uma barreira para inovação e o acesso ao seguro rural, por exemplo. Betancourt avalia esse movimento com cautela e aponta a ausência de custo competitivo para o seguro rural. “Acredito que não temos um custo competitivo para seguro rural, como outros países oferecem. Também me parece que as seguradoras oferecem poucas opções”, completou o diretor do departamento do Agronegócio da Fiesp.
Negociações
Outro dado revelado pela pesquisa é que a maioria dos agricultores e pecuaristas ainda prefere negociar suas produções com cooperativas e corretores. Segundo Betancourt, esse movimento pode apresentar riscos aos produtores. “Apenas os grandes produtores usam o mercado futuro e as ferramentas de hedge”, afirmou.