Foto: Sai Krishan/ Thirunelly Tribal Special Intervention Programme/ BBC/ Reprodução
inhames gigantes
Foto: Sai Krishan/ Thirunelly Tribal Special Intervention Programme/ BBC/ Reprodução

Na Índia, mulheres preservam a produção de inhames gigantes

Noorang, os inhames gigantes da Índia, são ricos em amido e chegam a pesar 5 kg, com cerca de 1,40 m de comprimento

Redação

em 10 de janeiro de 2025


Você sabia que no Sul da Índia um grupo de mulheres está trabalhando duro para cultivar Noorang, uma espécie de inhames gigantes, rica em amido e que cresce abaixo do solo? Elas dedicam várias horas por dia para desenterrar os tubérculos, que chegam a pesar 5 kg e medem cerca de 1,40 m de comprimento. Essas mulheres são consideradas guardiãs de conhecimentos ancestrais, por isso desempenham papel fundamental na proteção dos tubérculos, garantindo a segurança alimentar de suas comunidades e preservando a biodiversidade local.

Noorang é a abreviação de Nuru kilangu, uma variedade local popular de tubérculo, e também a identificação do grupo de mulheres que resgatam os inhames gigantes. Na região, o produto é considerado mais do que um alimento. É um símbolo de identidade e sustento para as comunidades indígenas da Índia. Apesar disso, está sob ameaça da modernização da agricultura, pela perda de terras.

Cultura e alimento

Lakshmi e Shantha (Foto: Sai Krishan/ Thirunelly Tribal Special Intervention Programme/ BBC/ Reprodução)

Para Lakshmi, de 58 anos, que mora no distrito de Wayanad, no estado de Kerala, trata-se de um trabalho meticuloso que garante não só o alimento, mas também o fortalecimento da cultura local. Para extraí-lo do solo, ela precisa cortar o broto que fica acima do solo e depois usar pás para cavar a terra ao redor do alimento. Com raízes delicadas, na maioria das vezes, ela usa as mãos para continuar a cavar até que o tubérculo fique livre da terra. 

As mulheres indígenas são as principais responsáveis pela produção, conservação e preparo do Noorang. O cultivo que contribui também para a manutenção da diversidade agrícola e dos ecossistemas locais. A produção do Noorang está ligada a práticas agrícolas sustentáveis e a um rico patrimônio cultural, transmitido de geração em geração.

Inhames gigantes na Índia

Uma reportagem especial publicada pela BBC trouxe a realidade das índias de Morang à tona. Segundo a matéria, o grande objetivo das mulheres indígenas é salvar o máximo de variedades de sementes raras, como forma também de resgatar a história da região. 

Atualmente os tubérculos, em especial os inhames gigantes, já não são mais o alimento básico das comunidades devido à rápida mudança no estilo de vida da comunidade e, por consequência, dos novos hábitos alimentares da população. Hoje em dia, os mais jovens têm acesso facilitado a outros tipos de alimentos, especialmente os que levam arroz e trigo.

Sai Krishnan, coordenador do Thirunelly Tribal Comprehensive Development Project em Wayanad, declarou ainda que a população mais jovem não considera mais os tubérculos como parte da alimentação. 

As questões climáticas também afetaram a produção dos inhames gigantes da Índia nos últimos anos. Colheitas inteiras foram destruídas com o clima extremo. Mesmo sendo altamente resistentes ao calor, as inundações comprometeram a produção dos tubérculos, pelo excesso de água. O último relato de clima extremo foi em 2019.

Outro desafio para a manutenção das plantações de inhames gigantes é a troca da produção nas áreas. De acordo com um relatório do Instituto Central de Pesquisa de Tubérculos de Kerala, entre 2005 e 2015 as terras que antes eram dedicadas à produção de tubérculos, foram destinadas a novos cultivos, como o da borracha, por exemplo.

Segurança alimentar

Para V. Shakeela, diretor do Centro Comunitário de Agrobiodiversidade da Fundação de Pesquisa MS Swaminathan, com sede em Wayanad, o cultivo de tubérculos como os inhames gigantes na Índia está além do resgate cultural. Para ele, é uma questão de segurança alimentar. 

“É a solução para muitos problemas crescentes que essas comunidades tribais estão enfrentando no presente, especialmente a desnutrição e a segurança alimentar diante da [piora] mudança climática”, declarou Shakeela. 

Segundo ele, as mulheres que cultivam os tubérculos o fazem principalmente para sustentar suas próprias famílias. “Depois, para garantir que essas variedades antigas e raras não desapareçam”, apontou.

O governo indiano acredita que o resgate do cultivo dos inhames gigantes possa auxiliar na erradicação da pobreza, por isso oferece treinamento agrícola e capacita mulheres em comunidades tribais vulneráveis.

Desde a formação do grupo em 2022, os membros do Noorang plantaram e trouxeram de volta para a comunidade 180 variedades de tubérculos selvagens, incluindo 15 variedades de inhame selvagem (noorang), três variedades de inhame-elefante, oito tipos de Colocasia (também conhecida como orelhas de elefante, um tubérculo semelhante à batata), 16 espécies de açafrão, quatro tipos de tapioca, sete variedades de batata-doce, duas de gengibre, três de araruta e uma batata chinesa.

“O objetivo é salvar o máximo de variedades de sementes raras que pudermos encontrar e cultivar e nutrir mais tubérculos”, explicou Sarasu, membro da Noorang.