Na Índia, mulheres preservam a produção de inhames gigantes
Noorang, os inhames gigantes da Índia, são ricos em amido e chegam a pesar 5 kg, com cerca de 1,40 m de comprimento
Você sabia que no Sul da Índia um grupo de mulheres está trabalhando duro para cultivar Noorang, uma espécie de inhames gigantes, rica em amido e que cresce abaixo do solo? Elas dedicam várias horas por dia para desenterrar os tubérculos, que chegam a pesar 5 kg e medem cerca de 1,40 m de comprimento. Essas mulheres são consideradas guardiãs de conhecimentos ancestrais, por isso desempenham papel fundamental na proteção dos tubérculos, garantindo a segurança alimentar de suas comunidades e preservando a biodiversidade local.
Noorang é a abreviação de Nuru kilangu, uma variedade local popular de tubérculo, e também a identificação do grupo de mulheres que resgatam os inhames gigantes. Na região, o produto é considerado mais do que um alimento. É um símbolo de identidade e sustento para as comunidades indígenas da Índia. Apesar disso, está sob ameaça da modernização da agricultura, pela perda de terras.
Cultura e alimento

Para Lakshmi, de 58 anos, que mora no distrito de Wayanad, no estado de Kerala, trata-se de um trabalho meticuloso que garante não só o alimento, mas também o fortalecimento da cultura local. Para extraí-lo do solo, ela precisa cortar o broto que fica acima do solo e depois usar pás para cavar a terra ao redor do alimento. Com raízes delicadas, na maioria das vezes, ela usa as mãos para continuar a cavar até que o tubérculo fique livre da terra.
As mulheres indígenas são as principais responsáveis pela produção, conservação e preparo do Noorang. O cultivo que contribui também para a manutenção da diversidade agrícola e dos ecossistemas locais. A produção do Noorang está ligada a práticas agrícolas sustentáveis e a um rico patrimônio cultural, transmitido de geração em geração.
Inhames gigantes na Índia
Uma reportagem especial publicada pela BBC trouxe a realidade das índias de Morang à tona. Segundo a matéria, o grande objetivo das mulheres indígenas é salvar o máximo de variedades de sementes raras, como forma também de resgatar a história da região.
Atualmente os tubérculos, em especial os inhames gigantes, já não são mais o alimento básico das comunidades devido à rápida mudança no estilo de vida da comunidade e, por consequência, dos novos hábitos alimentares da população. Hoje em dia, os mais jovens têm acesso facilitado a outros tipos de alimentos, especialmente os que levam arroz e trigo.
Sai Krishnan, coordenador do Thirunelly Tribal Comprehensive Development Project em Wayanad, declarou ainda que a população mais jovem não considera mais os tubérculos como parte da alimentação.
As questões climáticas também afetaram a produção dos inhames gigantes da Índia nos últimos anos. Colheitas inteiras foram destruídas com o clima extremo. Mesmo sendo altamente resistentes ao calor, as inundações comprometeram a produção dos tubérculos, pelo excesso de água. O último relato de clima extremo foi em 2019.
Outro desafio para a manutenção das plantações de inhames gigantes é a troca da produção nas áreas. De acordo com um relatório do Instituto Central de Pesquisa de Tubérculos de Kerala, entre 2005 e 2015 as terras que antes eram dedicadas à produção de tubérculos, foram destinadas a novos cultivos, como o da borracha, por exemplo.
Segurança alimentar
Para V. Shakeela, diretor do Centro Comunitário de Agrobiodiversidade da Fundação de Pesquisa MS Swaminathan, com sede em Wayanad, o cultivo de tubérculos como os inhames gigantes na Índia está além do resgate cultural. Para ele, é uma questão de segurança alimentar.
“É a solução para muitos problemas crescentes que essas comunidades tribais estão enfrentando no presente, especialmente a desnutrição e a segurança alimentar diante da [piora] mudança climática”, declarou Shakeela.
Segundo ele, as mulheres que cultivam os tubérculos o fazem principalmente para sustentar suas próprias famílias. “Depois, para garantir que essas variedades antigas e raras não desapareçam”, apontou.
O governo indiano acredita que o resgate do cultivo dos inhames gigantes possa auxiliar na erradicação da pobreza, por isso oferece treinamento agrícola e capacita mulheres em comunidades tribais vulneráveis.
Desde a formação do grupo em 2022, os membros do Noorang plantaram e trouxeram de volta para a comunidade 180 variedades de tubérculos selvagens, incluindo 15 variedades de inhame selvagem (noorang), três variedades de inhame-elefante, oito tipos de Colocasia (também conhecida como orelhas de elefante, um tubérculo semelhante à batata), 16 espécies de açafrão, quatro tipos de tapioca, sete variedades de batata-doce, duas de gengibre, três de araruta e uma batata chinesa.
“O objetivo é salvar o máximo de variedades de sementes raras que pudermos encontrar e cultivar e nutrir mais tubérculos”, explicou Sarasu, membro da Noorang.