Foto: Reprodução/Jigsaw Farms
pecuaria neutra
Foto: Reprodução/Jigsaw Farms

Pecuária neutra traz desafios, mostra estudo

Fazenda australiana testa inovações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa

Redação

em 24 de julho de 2024


A Jigsaw Farms, uma fazenda pecuária na Austrália, é pioneira no combate às mudanças climáticas. Localizada a 250 quilômetros de Melbourne, ela obteve o selo de carbono neutro em 2011. Hoje, com 20 mil ovelhas da raça merino de lã fina e 550 bovinos, a propriedade não consegue mais compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Conforme reportagem do jornal The Guardian, as vacas e as ovelhas produzem a mesma quantidade de metano anualmente, mas as árvores perdem capacidade de sequestrar o elemento à medida que envelhecem.

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Para atingir a neutralidade, os proprietários da Jigsaw Farms mesclaram pastagens com plantações de eucalipto, interligadas por zonas úmidas e corredores de floresta nativa, incentivando a biodiversidade. Juntamente com uma metodologia de cuidado do solo, essas medidas ajudaram a sequestrar carbono e neutralizar as emissões da produção pecuária na propriedade de 34 km².

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Foto: Reprodução/Jigsaw Farms

No entanto, isso foi eficaz apenas até 2017, quando um novo relatório revelou que a fazenda emitia mais GEE do que conseguia sequestrar.

Até mesmo o solo da propriedade, que recebeu gramíneas com raízes profundas para aumentar a eficiência no sequestro de carbono, já não é capaz de absorver mais nada da atmosfera. Os dados são de Richard Eckard, professor e pesquisador da Universidade de Melbourne, que elaborou um estudo sobre a fazenda.

De acordo com a pesquisa, a Jigsaw Farms sequestrou de 70,3% a 83% de suas emissões anuais em 2021. Em 2031, o modelo de Eckard prevê que a fazenda absorverá pouco mais da metade do que absorveu em 2012, quando o sequestro de carbono atingiu seu pico.

Estratégias para diminuir as emissões

A Jigsaw Farms utilizou a Holdfast GT Phalaris, uma grama desenvolvida por cientistas australianos, e centeio em seu pasto. Essas espécies possuem um ciclo de vida mais longo e pertencem ao grupo de plantas perenes. Suas raízes, quase dez vezes mais profundas do que as da relva típica, permitiram uma maior captura de carbono.

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Foto: Reprodução/Jigsaw Farms

As plantas perenes formam relações simbióticas mais fortes com bactérias e fungos, reduzindo a erosão e absorvendo mais carbono do que as plantas anuais. Além disso, facilitam a gestão, evitando a necessidade de semear e limpar o terreno com frequência.

Outro ponto positivo das plantas perenes é que, ao selecionar espécies com raízes de diferentes tamanhos, elas conseguem absorver minerais das profundezas do solo, melhorando a dieta animal. O nitrogênio que absorvem do ar também atua como um fertilizante natural, diminuindo a dependência de químicos artificiais no solo.

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No entanto, como observado no caso da Jigsaw Farms, elas não são suficientes para neutralizar as emissões da pecuária. Portanto, o setor estuda formas de reduzir o metano emitido pelas vacas, responsável por 80% das emissões. O uso de máscaras no gado, para filtrar os gases na eructação (arroto), e a seleção de bovinos com crescimento mais rápido estão entre as iniciativas consideradas pelos especialistas.

Essas medidas podem reduzir o tempo de emissão de metano ao longo da vida do rebanho. Outra opção é a produção de ração bovina com algas marinhas, para melhorar a digestão do gado. Estudos em laboratório indicam uma possibilidade de redução do metano em até 80%, mas um teste de campo na Austrália conseguiu uma redução de 28% em 2023.