Principais destaques do mercado agro em 2024
Confira a retrospectiva do agro em 2024 e saiba mais sobre os fatos marcantes do setor e o que foi notícia no Prato do Amanhã
O ano de 2024 foi agitado, não só no cenário brasileiro do agronegócio, como em todo o mundo. O mercado do agro enfrentou instabilidades regulatórias, novas exigências para exportação, deu um salto em assuntos como a pecuária sustentável e o aumento da rastreabilidade, e evoluiu consideravelmente em relação às novas tecnologias que chegaram ao campo.
O agronegócio também foi pauta em grandes eventos globais, como a COP29 do Azerbaijão, a COP16 da Biodiversidade, que aconteceu em Cali, na Colômbia, e grandes feiras como a SIAL Paris, na França, a SIAL China, que aconteceu em Xangai, o GRSbeef no Uruguai, a Anuga Brazil 2024, a Apas Show, no Brasil (São Paulo), entre tantos outros.
Uma das grandes notícias do ano foi uma pesquisa que revelou que fazendas removem mais carbono do que emitem. Confira a retrospectiva 2024, elaborada pelo Prato do Amanhã.
Pecuária sustentável

A pecuária sustentável é uma prática que está sendo bastante valorizada, justamente porque busca conciliar a produção de alimentos de origem animal com a preservação do meio ambiente. Entre seus pilares estão: produtividade econômica, sustentabilidade ambiental, bem-estar animal, viabilidade econômica e responsabilidade social. Outro movimento notado no mercado é que os consumidores estão cada vez mais atentos à sustentabilidade.
E como a proposta é produzir mais com a otimização de recursos para minimizar os impactos ambientais, a Marfrig e a BRF executaram, em 2024, uma série de iniciativas que contribuíram com o fortalecimento da pecuária sustentável.
Para Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Comunicação da Marfrig e da BRF, a pecuária sustentável leva as propriedades ao aumento da produtividade. “Não tem como um negócio ser sustentável sem antes ser rentável. Não existe uma coisa sem a outra, são sinônimas”, apontou.
Segundo ele, como as pequenas fazendas são responsáveis por 75% da produção da carne bovina no Brasil, é preciso que a pecuária sustentável atinja toda a cadeia produtiva. A pecuária também atua na mitigação da crise climática. “Precisamos levar tecnologia para ajudar o produtor a intensificar a produção. Isso é fundamental para ‘sequestrar’ mais carbono”, apontou Pianez. O melhoramento genético e a alimentação do gado também contribuem para a redução das emissões de metano e carbono nos pastos.
Rastreabilidade

“Empresas formalizadas e sérias não têm qualquer relação com o desmatamento”, afirmou Pianez. Ele defende, ainda, a adoção de um mecanismo de identificação individual dos animais, além da rastreabilidade da origem e destino de cada bovino.
Em entrevista para a Forbes, o executivo da Marfrig contou porque o caminho da produção sustentável é urgente e inevitável na pecuária brasileira. “O Brasil tem uma das pecuárias mais avançadas do mundo, e isso tanto do ponto de vista de melhoria genética quanto de método de produção. O país também tem um ativo ambiental de qualidade, que não pode ser comparado ao de nenhum outro país do mundo. Não faz sentido que não consiga iniciar um processo de rastreamento dessa produção”, completou.
A companhia já conseguiu colocar em prática um sistema de georreferenciamento, para o monitoramento de fornecedores diretos que já controla 100% do que chega aos frigoríficos.
Com uma probabilidade de aumento no consumo mundial de carne nos próximos anos, “há oportunidades grandes de atingirmos mercados com habilitações novas e que têm sido desenvolvidos”, completou Pianez.
Inovação no agro

O Brasil figura como um dos países com melhores condições para reverter o quadro de emissões de gases do efeito estufa e combater as mudanças climáticas, principalmente com soluções baseadas na natureza.
Para Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da USP, a regeneração da biodiversidade deveria ser a aposta do mundo para os próximos anos. “Nosso desafio, hoje, é incorporar a biodiversidade ao interior da produção agropecuária. Da mesma forma que liderou a mais importante transformação agrícola do mundo tropical no século 20, o Brasil pode ser líder na transformação ecológica do sistema agroalimentar global”, completou.
A inovação no agro é um caminho sem volta. O surgimento da biotecnologia, por exemplo, vem para provar essa tese, assim como os equipamentos tecnológicos no campo e as novas práticas de manejo, cada vez mais sustentáveis.
A Marfrig, em parceria com a Embrapa, apresentou em 2024, seus protocolos de Carne Baixo Carbono e Carne Carbono Neutro, exclusivos da companhia. “Temos aqui a missão de comunicar ao consumidor os esforços que a Marfrig – com a propriedade intelectual da Embrapa – vem fazendo acerca de uma produção pecuária de baixo carbono”, justificou Felipe Alves, analista de pecuária sustentável da Marfrig.
A inovação na pecuária também chegou aos criadores de Angus, via parceria com o Sebrae/PR, que possibilita que pequenos produtores tenham a possibilidade de se tornarem mais competitivos no mercado internacional.
Os entrevistados do ano
O Prato reuniu um time de especialistas para falar sobre o agronegócio em 2024. Pompeo Scola, CEO da aceleradora Cyklo Agritech, falou sobre o panorama das startups voltadas ao agro brasileiro. Consultor de mercado e visionário na área desde 1980, Scola passou por empresas como a Buscapé e outras gigantes do mercado em um momento em que ainda faltavam startups no Brasil. Hoje, ele é CEO da Cyklo Agritech, aceleradora de startups fundada em 2019, que além de ser a primeira é também a maior aceleradora de projetos e startups no agro brasileiro. A empresa tem como missão levar a inovação para o agronegócio brasileiro, investindo em projetos que beneficiem o produtor e a comunidade.

O Prato do Amanhã também entrevistou Thiago Martins, cofundador da startup Cowmed, agritech de monitoramento que traduz o estado real do gado no campo, integrando tecnologias como IoT, inteligência artificial, big data e blockchain para melhorar o bem-estar animal nas fazendas. A empresa nasceu em 2017, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para monitorar a saúde animal de maneira contínua e precisa, utilizando “colares”, que são sensores avançados acoplados aos animais. Esses dispositivos coletam dados em tempo real sobre diversos aspectos da vida do animal, incluindo atividade física, ruminação, ingestão de alimento, entre outros.

Xisto Alves, CEO da JetBov, também esteve entre os entrevistados do Prato do Amanhã em 2024. Ele, que lidera uma startup de gestão para pecuária de corte, implantou ferramentas digitais compostas por dois aplicativos (JetBov de Campo e JetBov de Pasto) capazes de operar offline em áreas rurais. A empresa faz a coleta de dados automatizada nas fazendas, atualiza a plataforma web, que possui armazenamento de dados em nuvem e faz um raio-x da propriedade para que os gestores das fazendas tenham uma visão completa da gestão.

“O jeito feminino de fazer agronegócio” foi o tema da entrevista com a jornalista e apresentadora Alessandra Farina Bergmann. Segundo ela, as características femininas fazem diferença para a evolução de setor no Brasil e no mundo. “Costumo dizer que as mulheres rurais devem investir em autoconhecimento. Elas são privilegiadas por estarem mais próximas da grande sala de aula, que é a natureza, elemento pelo qual a humanidade está cada vez mais se afastando e necessitando resgatar”, afirmou Alessandra.

“O olho do dono engorda o gado”, lembrou Pedro Henrique Mannato, CEO da startup Olho do Dono, que utiliza câmeras 3D portáteis com visão computacional e inteligência artificial para pesar o boi no próprio pasto. “Em termos de estrutura, é muito simples. É um equipamento pequeno, leve, portátil e de fácil instalação que faz a captura da imagem do gado enquanto ele passa por um corredor onde a câmera está instalada. Ela faz o registro da imagem que é importada para o sistema e faz a verificação da pesagem do gado”.

Outra entrevista relevante foi com Alcione Pereira, da Connecting Food, uma startup focada no combate ao desperdício de alimentos e à insegurança alimentar. O objetivo da empresa é conectar quem precisa de doações (como ONGs e outras instituições) a empresas que não querem desperdiçar alimentos. “Em muitos casos, os alimentos que seriam descartados ainda estão bons para o consumo, perto da data de validade. Essa doação é permitida no Brasil, as empresas precisam saber que é possível doar com segurança jurídica e sanitária”, afirmou Alcione.

O que vem por aí?
Existe uma tendência de que, cada vez mais, os produtores se adaptem para atender exigências sanitárias e ambientais que qualifiquem a produção para o mercado interno e externo.
As exigências chinesas, por exemplo, fizeram com que grande parte da produção se adaptasse às regras impostas pelo país, para conquistar a certificação de exportador. Nesse sentido, o Brasil, via Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou, no primeiro trimestre deste ano (2024), a habilitação de novas plantas frigoríficas que se adaptaram às exigências da China para importação de carnes. Ao todo, foram 38 habilitações de uma só vez, sendo 24 plantas de bovinos, oito de aves, uma bovina de termoprocessamento e cinco entrepostos. Atualmente, as exportações para o país alcançam 17,4% da produção brasileira de carne bovina, o que representa uma demanda de 56 milhões de toneladas em 2024.
Uma pesquisa recente da Academia Chinesa de Ciências Sociais e da FGV Agro, da Fundação Getúlio Vargas, com apoio da ONG americana The Nature Conservancy, revelou que 22% dos chineses pagariam mais para ter uma carne com origem sustentável.
Sobre o que esperar para o agro em 2025: ainda mais normativas, adaptação por parte dos produtores, novas certificações para práticas sustentáveis, o que garantirá maior produtividade. O bem-estar animal continuará em alta, assim como soluções baseadas na natureza.