Em 50 anos, custo da cesta básica de alimentos caiu 38%
Agroindústria avança em produção e produtividade, segundo presidente da Embrapa
O avanço em produção e produtividade da agroindústria brasileira pode ser medido de várias maneiras. Uma delas é a redução dos custos da cesta básica de alimentos. Em valores atuais, a cesta corresponde a 62% do que valia em 1975. Em outras palavras, ao longo de 50 anos, os brasileiros passaram a pagar 38% a menos para ter acesso a uma alimentação básica.
Os dados são da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e mostram que “a agricultura brasileira é um sucesso no cinturão tropical do planeta, apesar de limitações como a acidez do solo”. Segundo ela, as melhorias são creditadas a vários fatores, incluindo investimentos em ciência e tecnologia, iniciativas de extensão rural e a adoção de multiculturas.
Ela lembra que, entre 1975 e 2024, o Brasil incrementou a produtividade de grãos em 580% e a área plantada em 140%. “Aumentamos em cinco vezes a produção e tivemos um decréscimo da cesta básica”, reforçou a executiva, em palestra do Salão Internacional de Proteína Animal (Siavs 2024).
Agricultura sustentável é desafio
Para Silvia, o desafio agora é expandir a atuação do país, praticando a agricultura sustentável. “O Brasil também pode se tornar uma referência como potência agroambiental, dada a crescente demanda mundial por alimentos”, completou, destacando a adoção de bioinsumos por 61% dos produtores agrícolas nacionais e o plantio direto, adotado por 83%.
“Enfrentamos desafios na busca por sustentabilidade ambiental e social, além de várias transições em andamento”, ressaltou. Na lista da executiva estão a demanda por transparência na produção agroindustrial, por meio da rastreabilidade.
Outra questão é a visão integrada de saúde, considerando não apenas os animais, mas também a população humana. Além disso, outro ponto ressaltado por Silvia são as novas tecnologias.
Tecnologia no agro
É importante lembrar que, além de ser a primeira mulher a assumir o cargo na empresa que completou meio século, Sílvia possui um perfil tecnológico diversificado. Graduada em análise de sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mestre pela Unicamp e doutora em computação aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ela é uma autoridade na área de pesquisa agrícola e entusiasta do uso de dados no agronegócio.
Na avaliação dela, a biotecnologia e a automação estão entre os avanços científicos com potencial para transformar a produção agrícola. Um exemplo citado é a produção de energia a partir de dejetos orgânicos da suinocultura, incluindo o processo de purificação de biometano e biogás.
Outro uso de tecnologia envolve a adoção de Internet das Coisas (IoT) para racionalizar o consumo de água. Nesse caso, é possível usar sensores para medir a quantidade adequada de uso em várias culturas, otimizando os recursos hídricos, especialmente porque a agricultura é uma grande demandante deles.
Sustentabilidade ambiental, social e econômica
A sustentabilidade ambiental, social e econômica da pecuária brasileira também pode ser comprovada no setor leiteiro. Sílvia trouxe dados de pesquisas da Embrapa na Amazônia, onde o uso de gramíneas e leguminosas, nos últimos 25 anos, levou a uma redução de 36% na emissão de gases em propriedades estudadas. “Práticas sustentáveis podem sequestrar carbono”, resumiu.
Da mesma forma, a especialista abordou a integração lavoura-pecuária e a recuperação de áreas degradadas. Para ela, esse tipo de projeto mostra que sistemas sustentáveis podem aumentar a produção e a produtividade agrícola, ao mesmo tempo em que contribuem para a recuperação ambiental. Sílvia também defendeu a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para enfrentar os desafios da agricultura.