Da esquerda para a direita: Luiz Henrique Barrochelo, Miguel Gularte, Federico Zerboni, Carlos Goularte e Sérgio Bortolozzo
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Da esquerda para a direita: Luiz Henrique Barrochelo, Miguel Gularte, Federico Zerboni, Carlos Goularte e Sérgio Bortolozzo

Rastreabilidade é consenso entre governo e produtores, apontam especialistas

Assunto foi abordado em encontro no Global Agribusiness Forum, realizado em São Paulo

Nelson Valêncio

em 19 de julho de 2024


A rastreabilidade é um assunto consensual entre especialistas do mercado privado e representantes do governo. Essa foi uma das conclusões do painel Regulando Novas Demandas: segurança, rastreabilidade, legislação e novos padrões, que ocorreu na mais recente edição do Global Agribusiness Festival, no final de junho.

O tema foi debatido por Sérgio Bortolozzo, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SBR) e mediador do encontro; Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); Federico Zerboni, presidente da argentina Maizar; Luiz Henrique Barrochelo, coordenador de Defesa Agropecuária (CDA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo; e Miguel Gularte, CEO da BRF.

Para Carlos Goulart, do Mapa, o momento atual do Brasil envolve a discussão de uma regulação responsiva e necessária, que atenda à heterogeneidade do país, que possui cadeias econômicas de diferentes maturidades e complexidades. “A regulação tem que ser do tamanho necessário para que a produção agrícola continue inovando”, destacou o secretário.

Sobre a rastreabilidade em si, ele lembrou que a autorregulamentação não é suficiente, uma vez que vários governos, em âmbito mundial, vêm sendo acionados para discutir e validar soluções propostas para essa área. Durante o evento, ele anunciou uma visita técnica à Austrália, justamente para conhecer como a iniciativa privada e o governo australiano estão endereçando o tema.

De acordo com ele, a participação do governo acontece até para encontrar um consenso entre os produtores e a indústria. Goulart também reforçou que a área pública participa como validador das informações de rastreabilidade.

Modelos de rastreabilidade

“É uma questão que temos avançado bastante e que eu espero que possamos construir – junto com o setor – modelos de rastreabilidade, pois cada cadeia produtiva tem uma maturidade e uma complexidade diferente no Brasil”, explicou.

Bortolozzo, da SRB, lembrou que a entidade defende a rastreabilidade, mas de uma forma diferente do que vem sendo proposta, e reforçou o diálogo aberto. “Tudo isso tem sido debatido e nós entendemos que a rastreabilidade deveria ser, principalmente, uma opção do produtor — e não caminhar rumo à obrigatoriedade ou a um maior custo”, ressaltou.

O diálogo também foi defendido como estratégico por Barrochelo, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Ele lembrou que a rastreabilidade pode ser atendida de forma adequada com a colaboração em várias frentes, desde o Mapa até o setor privado.

O especialista elogiou a busca de sistemas em países como a Austrália, mas lembrou das diferenças regionais no próprio Brasil, questão que deve ser levada em conta. As diferenças, igualmente, precisam ser consideradas no caso de legislações de países importadores que pretendem impor regras aos produtos brasileiros, como é o caso dos membros da Comunidade Europeia.

Rastreabilidade fará parte das demandas de consumidores

A transparência da rastreabilidade foi lembrada pelo CEO da BRF. De acordo com Gularte, esse requisito fará cada vez mais parte da demanda dos consumidores e integra uma linha do tempo que começou na década de 1960, nos Estados Unidos. Essa data marca a iniciativa da associação das donas de casa americanas em ter mais informações – nas embalagens – sobre o conteúdo dos produtos.

“Depois, passamos para uma etapa mais avançada dos rótulos de hoje, que são como uma bula, e temos todas as descrições possíveis”, disse. “A transparência da informação é obrigação da indústria com o consumidor”, completou.

Segundo Gularte, a rastreabilidade da produção de proteína animal já passou da etapa de avaliação. “Não se discute se vamos fazer ou não, mas, sim, como vamos fazer”, argumentou. “É um direito do consumidor”, finalizou.

A discussão também contou com a participação de Federico Zerboni, presidente da Maizar, associação que reúne os produtores de milho e de sorgo da Argentina. O executivo fez coro com seus colegas brasileiros sobre o respeito às diferenças regionais. Para Zerboni, conceitos aplicados a países temperados, com clima e solo diferentes da América do Sul, precisam ser repensados. Ele também defendeu uma agricultura sustentável, a partir de um discurso construtivo com base cientifica.