Imagem: Reprodução/ UANL/ Medium
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Saúde Única: entenda o conceito e os efeitos dessa modalidade

Especialistas defendem uma abordagem integrativa entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental

Redação

em 7 de outubro de 2024


Há algum tempo estudiosos vêm apresentando dados sobre uma tal de “Saúde Única”. Ainda pouco conhecido no Brasil, o movimento (One Health) traz uma abordagem integrativa que não só reconhece, mas também  fortalece a interconexão entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental. 

Na prática, a Saúde Única aborda as relações multidisciplinares entre o humano-animal-ambiente e as inúmeras possibilidades de avanços e benefícios gerados pela integração.

De acordo com o governo brasileiro, trata-se de uma abordagem que propõe e incentiva a “comunicação, cooperação, coordenação e colaboração entre diferentes disciplinas, profissionais, instituições e setores para fornecer soluções de maneira mais abrangente e efetiva”.

O movimento, quando colocado em prática, pode auxiliar os países no enfrentamento de desafios de saúde pública, como pandemias, resistência antimicrobiana, mudanças climáticas e demais ameaças à saúde. 

Ainda na interpretação do governo brasileiro, “a abordagem de Saúde Única transcende fronteiras disciplinares, setoriais e geográficas, buscando soluções sustentáveis e integradas para promover a saúde dos seres humanos, animais domésticos e silvestres, vegetais e o ambiente mais amplo (incluindo ecossistemas)”.

Saúdes humana, animal, vegetal e ambiental

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Estamos vivendo em um mundo globalizado. As mudanças são cada vez mais rápidas e, literalmente, o mundo está conectado a ponto de enfrentarmos possíveis ameaças globais à saúde. Essa conexão envolve insumos, população, urbanização, as mudanças climáticas e até o uso da terra, assim como a intensificação dos sistemas alimentares e a perda de biodiversidade em diversos países.

Para garantir a segurança alimentar, por exemplo, é preciso pensar na produção de alimentos, no controle de zoonoses e no impacto que uma doença em um rebanho pode causar na saúde dos humanos que consomem um alimento contaminado.

Se pensarmos na leptospirose, considerada a zoonose mais difundida no mundo, ela inicia no rebanho e pode chegar a casa das famílias. No contexto de Saúde Única, a leptospirose pode atingir diversos níveis sociais e territoriais e causar problemas de saúde pública, o que está além dos prejuízos econômicos na produção animal. 

A visão abrangente de Saúde Única permite que as interfaces e interações homem-ambiente-animal sejam melhoradas, por isso é uma abordagem recomendada inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sugerindo a visão holística e mais adequada à realidade. As tecnologias (cada vez mais avançadas) têm potencial para melhorar a interface e reduzir impactos da relação homem, meio ambiente, produção animal, segurança alimentar e saúde pública.

Saúde Única, bem-estar único

Rebeca García Pinillos, médica veterinária especialista em bem-estar animal, apresentou a tese “Saúde Única, Bem-estar único” já em 2017, durante o Encontro Nacional de Defesa Sanitária Ambiental. Ela defendeu que a relação entre o bem-estar dos animais está diretamente ligada à segurança alimentar e, da mesma forma, à saúde e ao bem-estar humano. 

“Quanto maior o estresse animal, maior o derrame bacteriano, o que influencia diretamente na qualidade do alimento disponível para consumo. Um melhor bem-estar animal gera margens melhores para o produtor. De forma que o controle da manqueira no gado leiteiro acompanha a maior produção de leite”, exemplificou a especialista. Ela ainda ressaltou a importância de manter o bem-estar animal para melhorar a segurança alimentar e a sustentabilidade da cadeia produtiva de alimentos. 

Além de ser um instrumento de sustentabilidade, as boas práticas de bem-estar animal também estão relacionadas à saúde das pessoas. “É como um círculo onde tudo está ligado. Um rebanho animal criado em boas condições produz com leite de melhor qualidade, por exemplo. O consumidor desse leite, terá um produto melhor e, assim, sua saúde responderá a isso. Se o alimento estiver contaminado, o consumidor pode ficar doente. Então é um ciclo contínuo onde o bem-estar de um influencia no outro”. 

Dia Mundial da Saúde Única

O Dia Mundial da Saúde Única é comemorado em 3 de novembro, e o médico veterinário tem conquistado cada vez mais importância quando o assunto é a relação entre a saúde pública, humana e ambiental. 

“O conceito de saúde única vem no sentido de verificar que homens e animais convivem no mesmo ambiente e vemos que há um elo indissociável entre essas relações”, apontou Fred Monteiro, médico veterinário integrante da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV). 

Ele explicou que existe uma série de doenças comuns entre homens e animais, e que o ciclo pode iniciar no animal e encerrar no homem. “Por isso é tão importante que os profissionais da saúde se reúnam e discutam as melhores práticas para colocar o conceito de Saúde Única em prática. A saúde animal reflete na saúde do homem”, sintetizou. 

Segundo o especialista, trata-se de um tema que tem ganhado força dentro da Organização Mundial de Saúde Animal, mas especialmente dentro da Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo. “Para se ter ideia, a resistência antimicrobiana é uma ameaça à saúde global. Existe uma estimativa de que até 2050 resistência à antimicrobianos matará mais de 10 milhões de pessoas, superando as mortes por câncer”, alertou.