Seminário discute o aumento da produção sustentável do agronegócio
Promovido pela Folha, o Seminário Agronegócio Sustentável trouxe grandes nomes do setor para discutirem alternativas para o mercado
Em abril de 2023 o Parlamento Europeu aprovou uma lei anti-desmatamento para a União Europeia (UE). Na prática, os 27 países da UE não podem mais comprar de países que causam desmatamento para produzir. O objetivo foi claro: proibir a entrada de produtos ligados à destruição de florestas.
E, desde então, o setor agropecuário, de maneira global, vem encontrando formas para produzir sem desmatar ou agredir o meio ambiente. As alternativas para aumentar a produtividade com práticas sustentáveis foram tema de um painel do Seminário Agronegócio Sustentável, organizado e transmitido pela Folha de São Paulo.
De acordo com o jornalista Mauro Zafalon, que há 35 anos escreve para o jornal, na coluna Vaivém das Commodities, um dos caminhos para atender à demanda internacional é aumentar a produtividade no agronegócio sem expandir as áreas degradadas, respeitando, cada vez mais, as condições impostas pelo meio ambiente.
Alternativas ao modelo atual
Ceres Hadich, integrante da direção nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST), foi uma das convidadas do painel. Para ela, o agronegócio tem, de fato, uma relevância bastante grande para a economia brasileira. Mas, apesar disso, ela enfatiza o fato de o modelo atual ainda impactar o meio ambiente.
“É nosso papel, enquanto movimento, entender como a gente deve propor algo diferenciado para a manutenção da agricultura, especialmente algo que cause menor impacto ao meio ambiente. Por isso, defendemos a agroecologia, o que consideramos a agricultura do futuro”, justificou.
Os efeitos da tecnologia
João Luís Avancini Farinha, executivo da diretoria de agronegócios do Banco do Brasil, contou que a instituição é um dos bancos mais sustentáveis do mundo e isso está referenciado nas principais bolsas de valores, “motivo de orgulho para todos nós”. Segundo ele, o banco participará com R$ 60 bilhões para a agricultura familiar e médio agricultor, via Plano Safra (que atinge um terço da necessidade geral do agronegócio no Brasil). Contudo, ele atribui à tecnologia o novo posicionamento do Brasil.
“A agricultura é uma indústria a céu aberto, por isso a questão climática importa e impacta tanto. Um país, para crescer, precisa ter segurança alimentar, energética, ser sustentável e ser capaz de diminuir a desigualdade social. Isso é importante porque o mundo precisa de alimentos, e a tecnologia vem permitindo que a produção seja adequada para atender à demanda global, de uma forma que reduza o impacto ao meio ambiente. Efetivamente, tivemos um ganho de produtividade de 1980 pra cá, mas, mais importante que isso, é o fato de o Brasil ter evitado que fossem abertas novas áreas de desmatamento para a evolução do agronegócio, e isso é efeito do uso da tecnologia”, explicou.
Participação do Estado
Para Pedro de Camargo Neto, pecuarista e ex-secretário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2001 a 2002), o clima é a grande questão mundial e tudo inicia no desmatamento e nas emissões de carbono (inclusive com a queima da vegetação), o que prejudica, também, a biodiversidade. De acordo com ele, a ausência da segurança jurídica, que deveria vir acompanhada do Código Florestal, prejudica o agronegócio como um todo. “Por outro lado, os ilegais continuam seguindo suas próprias leis e o governo não consegue executar seu poder e dever de fiscalização, cobrando do produtor legal”.
Camargo Neto reafirma a importância e a urgência do combate ao desmatamento ilegal. “Enfrentar a criminalidade do desmatamento deve ser uma prioridade para o Brasil”, acrescentou.
Para ele, as novas exigências dos mercados internacionais devem acelerar a busca das nações por alternativas mais sustentáveis no agronegócio.
“A rastreabilidade deve contribuir para esse controle. Não precisamos nos assustar, nossa produção é amplamente ‘verde’. Pressionar a ilegalidade do território, através do produto, pode ser a única maneira para o importador estrangeiro. Nós, brasileiros, precisamos ir ao foco do problema: a ilegalidade territorial do desmatamento. O estímulo não é a produção da carne, mas sim o roubo de terras e a especulação imobiliária. Nós queremos a legalidade do produto para o brasileiro também, não só para o que é exportado”, completou.