Fernando Iglesias (Foto: Alf Ribeiro/ABPA Siavs 2024 via Flickr)
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Fernando Iglesias (Foto: Alf Ribeiro/ABPA Siavs 2024 via Flickr)

Suinocultura brasileira vive momento aquecido

Avaliação é do consultor Fernando Iglesias, que participou do Salão Internacional de Proteína Animal de 2024 (Siavs), em São Paulo

Nelson Valêncio

em 19 de agosto de 2024


Além das exportações em alta, a participação da carne suína no mercado doméstico aumentou. O produto caiu no gosto do brasileiro e os produtores têm trabalhado com margens interessantes, em função da queda nos custos, inclusive pela oferta de grãos. É o caso do milho, insumo importante na alimentação dos suínos. 

Outro ponto positivo para a exportação é o cenário atual de desvalorização do real. Porém, a indústria local precisa manter a atenção aos desafios da política fiscal para garantir a competitividade. Outro ponto de atenção são as tensões internacionais, que envolvem desde a frenagem da economia japonesa até os conflitos bélicos atuais. No balanço geral, o Brasil está com perspectivas positivas. 

Essa é a avaliação do consultor Fernando Iglesias, da Safras & Mercado. O especialista abriu o Salão Internacional de Proteína Animal de 2024 (Siavs) em São Paulo. 

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Além das exportações, que continuam crescentes, há uma diversificação de compradores. Ao lado da China, que é tradicional comprador, países como Filipinas (que se recupera da peste suína africana) e Japão (grande potencial a ser explorado), aparecem no radar. Os nipônicos foram destacados como mercado de alto valor, mas também de grande exigência de qualidade. 

Exportação histórica

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As estatísticas recentes da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que a produção de carne suína teria somado 5,1 milhões de toneladas em 2023, dos quais 1,2 milhão foram exportadas. No primeiro semestre de 2024, as exportações totalizaram 613,7 mil toneladas. Com um aumento de 4,1% em relação ao mesmo período de 2023, esse volume é historicamente o maior para um primeiro semestre do ano. 

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Para os donos de granjas, que operam com avicultura, a perspectiva é melhor ainda. O Brasil acumula uma “capacidade imensa” de produção de carne de frango, batendo nas 15 milhões de toneladas, sendo um terço desse montante destinado às exportações. Para Iglesias, os números devem se repetir em 2025, garantindo a segurança alimentar no mercado interno, onde o consumo per capita é de 45 kg (2023). 

Com importadores mais diversificados, inclusive no segmento halal (permitidos pela religião islâmica), os produtores brasileiros de frango fornecem essa proteína animal desde a África do Sul até os Países Baixos, passando pelo Japão e Oriente Médio. 

No caso dos bovinos, Iglesias chama a atenção para a inversão de ciclo que acontece em 2025, com menor produção desse tipo de proteína em comparação com anos anteriores. Apesar disso, ele acredita que o Brasil poderá ter recordes de produção. 

Melhoramento genético e boas práticas

Embora pareça contraditório, o especialista explica que isso acontece pelo avanço da zootecnia. Em outras palavras, o país está produzindo animais mais pesados do que há 20 anos, em função da melhoria contínua na criação. Grande parte dessa evolução é creditada ao trabalho da Embrapa. 

“O Brasil tem grande potencial de exportação e o refino zootécnico dos produtores faz toda a diferença”, resumiu Iglesias. 

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Os números recentes da Conab apontam para um aumento da produção de carne bovina, que pode chegar a 10 milhões de toneladas, volume atingido nos anos de 2006 e 2007. Tal previsão seria reflexo do ciclo pecuário iniciado no ano passado, com uma alta nos abates motivado por descarte de fêmeas.

A disponibilidade interna do produto deverá chegar a 6,6 milhões de toneladas, mantendo-se próxima à estabilidade, com um leve aumento de 0,2%, enquanto que as exportações devem ficar em torno de 3,5 milhões de toneladas

Além da capacidade produtiva e de alta qualidade, com custos atuais relativamente baixos, os produtores brasileiros também se posicionaram como parceiros comerciais importantes de grandes compradores em escala global. O entendimento de mercado é um dos pontos positivos desse relacionamento, na avaliação do consultor. 

Iglesias também mapeou os riscos e oportunidades para os produtores brasileiros. Além da flutuação cambial – nesse momento favorável – o especialista listou os problemas de sanidade animal. Dependendo da localidade, o Brasil também pode ter vantagens na ocupação de mercado, como é o caso citado da peste suína nas Filipinas. 

Os custos de nutrição animal, igualmente, estão no radar. Atualmente, a oferta positiva de grãos favorece os produtores locais. “O Brasil segue líder de exportação de proteína animal, com receitas fantásticas em termos de exportação, com o câmbio desvalorizado”, finalizou Iglesias.