“Custo da descarbonização não deve ser dos produtores agrícolas”
Opinião é do ex-CEO da Unilever, Paul Polman, que acredita que o ônus deve ser dividido
Referência no tema ESG empresarial, Paul Polman foi CEO da Unilever durante uma década, de 2008 a 2018. Além do currículo destacado, ele tem uma avaliação clara sobre os custos de descarbonização. Em sua visão, o ônus precisa ser dividido com o varejo e ambos os setores devem arcar com cerca dos 30% dos investimentos para que as metas climáticas sejam alcançadas.
Em entrevista à Forbes durante sua participação no Fórum Ambição 2030, realizado pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) — Rede Brasil, ele explicou que o setor agrícola é parte importante da economia brasileira, principalmente por conta de suas exportações, portanto, o custo da transição precisa ser relativizado.
Polman ainda diz que os agricultores precisam manter o protagonismo e serem recompensados por proteger o capital natural. Apesar disso, ele não sabe como o setor agrícola pode se aproveitar do mercado de carbono, que ainda não está consolidado.
Integração global
Para o ex-CEO da Unilever, o Brasil precisa participar da discussão global sobre o assunto, porque é importante a integração entre os diferentes mercados. Polman lembra que as empresas estão focadas em diferentes diretrizes e começando a buscar alternativas em função dos padrões de mudança climática.
E mais: essas mudanças estão passando pela desintermediação nas cadeias produtivas, para ficarem mais simples e transparentes. Por isso existiria uma enorme pressão sobre os agricultores.
Polman avalia que as regras climáticas tendem a deixar os produtos finais tirados do campo mais caros na ponta do consumo. Ele diz que é possível que as empresas engajem seus clientes para que eles entendam a necessidade de apoiarem essa nova economia.
No caso do Brasil, as oportunidades para a economia são enormes na visão do analista, principalmente em vista do uso do etanol da cana-de-açúcar. Uma evolução poderia ser buscar a liderança também em combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), usando culturas como soja, milho, a própria, cana, entre outras.
O influenciador também argumenta que os sistemas alimentares se tornaram o maior emissor de carbono, ainda mais do que o setor de combustíveis fósseis. Por outro lado, eles também apresentam as maiores soluções.