Como os bois vêem? (e por que é importante saber)
Entender como os bois enxergam é importante para o manejo correto do animal em todas as etapas da cadeia
Os bois enxergam o mundo de uma maneira muito única: com poucas cores, angulação maior, mas menos tridimensional. E tudo isso importa na hora de manejar os animais, já que a visão molda a forma que eles encaram o espaço.
Ângulo de visão do boi
“Para gerar confiança com o animal, o vaqueiro precisa se atentar ao campo de visão dele: os olhos dos bovinos são laterais, o que permite um campo visual amplo, mas prejudica a visão tridimensional. A falta de observação e de conhecimento sobre o comportamento animal faz com que os vaqueiros “empurrem” e não guiem os animais para onde se é pretendido”, disse o coordenador técnico de bem-estar anila da MSD Saúde Animal, Antony Luenenberg ao Portal do Agronegócio.
Os olhos dos bois ficam numa posição mais lateral, o que permite um campo visual de 345/ bem mais amplo que os 180° enxergados pelos humanos. O ganho em ângulo traz uma perda em tridimensionalidade.
A visão humana é binocular, ou seja, os dois olhos captam imagens diferentes que são combinadas dentro do nosso cérebro e, essa combinação nos traz a noção de profundidade. Já os bois têm uma visão monocular. Ou seja, a imagem de cada olho é captada e unida de forma independente no cérebro, o que resulta numa visão mais “plana” do mundo.
A comparação que pode ser feita, apenas para se ter uma ideia, é a diferença entre a visão de uma animação 3D e a de uma animação 2D. Enquanto na primeira é possível entender os espaços e os volumes, na segunda, é possível apenas ver linhas e formatos.
Por conta desse tipo de sistema ocular, os bois não conseguem diferenciar entre uma sombra e um buraco profundo. Áreas de luz e sombra podem ser vistas com maior contraste pelo olho bovino. Frente a isso, o animal tende a “empacar”, já que não consegue enxergar direito para onde vai.
O ponto cego do boi fica atrás da cabeça, e qualquer movimento feito nessa região pode assustar e trazer reações bruscas do animal. Não muito diferente dos humanos, os bois não gostam de ter sua visão atrapalhada. Os animais preferem o escuro e os olhos não reagem bem a mudanças grandes de escuro para o claro, cegando-os temporariamente e deixando-os nervosos.
Zona de fuga e manejo
Entender como os olhos do boi enxergam e se movimentam é primordial para entender um outro conceito: o de zona de fuga. De acordo com artigo da especialista em Bem Estar Animal, a doutora Temple Gardin, a zona de fuga é quase como um “espaço pessoal” dos bois e vacas. Quando uma pessoa entra na zona de fuga, os animais se afastam. Entender o ângulo que eles veem faz com que quem se aproxima entenda qual é o lugar que devem chegar perto do boi sem assustá-lo e fazê-lo fugir.
Há também o ponto de equilíbrio, que costuma ficar logo após a paleta do boi, a 45º da cabeça bovina. Neste lugar, o boi consegue perceber a pessoa, mas não se sente ameaçado para fugir. Localizados neste ponto, os vaqueiros podem conduzir os bovinos para frente sem muito esforço. Isso porque, se a pessoa se posicionar à frente do animal, ele tende a caminhar para trás.
Bois enxergam cores?
A ideia pronta das pessoas é que o boi não gosta da cor vermelha. Mas a verdade é que ele nem o vermelho consegue enxergar. Segundo o livro “Improving Animal Welfare”, de Temple Gardin, os bois não têm o receptor da cor vermelha na retina. Eles apenas vêem amarelo, verde, azul e tons de violeta. Os animais também não tem capacidade para diferenciar entre tonalidades – uma visão análoga ao daltonismo humano.
Os bois são extremamente sensíveis a movimentos bruscos e vindos de fora de seu campo de visão. O olho no olho também é muito importante para a interação entre pessoas e bovinos. Não é incomum escutar histórias de vaqueiros experientes que falam sobre como criam conexão com os animais apenas pelo olhar.