crise ou oportunidade

Segurança alimentar: América Latina vive um momento de crise ou de oportunidade?

Questionamento foi feito por Renata Miranda, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), durante painel do World Agri-Tech Sul América

Rose Guidoni

em 25 de junho de 2024


A América Latina é uma das maiores superpotências na produção de alimentos, respondendo por cerca de 30% de toda a produção global. No entanto, também é uma das regiões com elevado grau de insegurança alimentar. Da mesma forma, os países da América do Sul são os maiores exportadores de alimentos. O Brasil lidera, seguido pela Argentina, Chile, Equador e Peru. Porém, ao mesmo tempo esses países passam, historicamente, por crises econômicas, com desvalorização de moedas, inflação e outros prejudiciais à segurança alimentar. 

“Existem grandes paradoxos ligados à cadeia de produção de alimentos na região”, disse Renata Miranda, secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperação do MAPA, em painel durante o World Agri-Tech Sul América Summit, realizado em junho. 

“Estamos em um evento que discute o poder da inovação para superar os desafios da cadeia de alimentos. Temos o privilégio do ranking das maiores produtividades agrícolas do mundo. Só o Brasil lidera este ranking com um índice de 4% de crescimento ao ano, o que é o dobro da média mundial. Mas, também, nessa região existe uma grande maioria de produtores com baixo nível de acesso à tecnologia e elevado grau de analfabetismo funcional”, completou. 

Da esquerda pra direita: Marcio S, Fabiana A, Michel R, Edison T e Renata M – (Foto: Reprodução/Linkedin World Agri-Tech)

De acordo com Renata, o poder geopolítico é “feito de energia, água e alimento”. Assim, em sua visão, a produção de alimentos é um poder que a América do Sul tem e que abre um leque de oportunidades. Além disso, segundo ela, existe avanço em relação a questões ambientais e sustentabilidade. “Então, a região vive um momento de crise ou de oportunidade? E por que a gente não se apropria dessa oportunidade? Qual o papel da inovação para romper esses paradoxos?”, provocou ela. 

Desafios podem ser vencidos com inovação

Marcio Santos, CEO Brasil da Bayer, concorda que a inovação é a chave para que o setor agropecuário se destaque, e o Brasil tem grande potencial para isso. “Existem desafios na produção de alimentos na América do Sul. O primeiro deles é a agricultura tropical. O grosso da produção de cereais e grãos, frutas e flores, está na região tropical, que tem condições únicas”, citou. Ele ainda mencionou que, nos últimos 50 anos, o Brasil vem liderando técnicas de agricultura tropical que podem ser replicadas em outras partes do mundo. 

“Quando se pensa em segurança alimentar global, acho que a América Latina está no centro da solução”, afirmou. Santos também falou das oportunidades ligadas à produção de biocombustíveis, que contribuem para tornar a matriz energética mais limpa, e a importância da agricultura regenerativa. “É viável produzir alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir carbono”, destacou.

De acordo com Fabiana Alves, CEO para o Brasil e América do Sul do Rabobank, mais de 30% dos negócios internacionais do banco estão concentrados na América do Sul. “A região é uma ‘powerhouse’ exportadora de alimentos, flores e, certamente, é foco dos investimentos em inovação. Sem inovação, não conseguimos lidar com os desafios que temos, em termos de impacto climático e de sustentabilidade”, pontuou. 

Segundo a executiva, nos últimos cinco anos o banco aplicou mais de US$ 9 bilhões em operações ligadas à sustentabilidade na América do Sul. “A região tem toda a condição de concentrar os investimentos, protagonizar e capitanear os maiores desafios na produção de alimentos, com tecnologias como o agro regenerativo. Mas é preciso ter também um olhar para os aspectos sociais. A agenda ESG (meio ambiente, social e governança) ganha cada vez mais importância para a indústria financeira”, observou, referindo-se aos critérios determinantes para a concessão de créditos e financiamento. 

Cadeias globais

Para Michel Roy, diretor da América Latina do Norte da LDC, as parcerias são importantes para a promoção da sustentabilidade. “Os países do hemisfério Sul têm de se ajudar, usar essa força para criar um novo mundo, mais sustentável. A inovação vai trazer inclusão social, agricultura de precisão e maior produtividade”, disse. “Estamos contra o relógio e temos de trabalhar junto com a cadeia”, reforçou.