Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech
agricultura regenerativa
Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech

Agricultura regenerativa é uma solução coletiva, dizem especialistas

Avaliação foi feita durante painel sobre o tema no World Agri-Tech South America 2024

Nelson Valêncio

em 19 de junho de 2024


As iniciativas de agricultura regenerativa não podem ficar limitadas aos produtores rurais e precisam envolver toda a cadeia do agro, incluindo desde governo até parceiros de tecnologia. Essa é uma das avaliações de uma mesa redonda sobre o tema, coordenada por Renata Amaral, sócia do escritório Trench Rossi Watanabe, que aconteceu no primeiro dia do World Agri-Tech South America 2024. 

O painel, intitulado Regenerative Agriculture: Drawing on Farmer’s Knowledge to Optimize Land Stewardship and Resource Management, contou com a participação de Marcelo Torres, da associação argentina de plantio direto AAPRESID; de Fernanda Vendramel, líder da área de Agricultura Regenerativa da Bunge; Alejandro Lopez, diretor de Sustentabilidade da ADECOAGRO, também da Argentina; e Fábio Sakamoto, CEO da Biomas. 

Fernanda foi a primeira a levantar a necessidade de trabalho conjunto para a adoção mais intensiva da agricultura regenerativa. Segundo ela, o tema é importante para a descarbonização da cadeia do agro e para incentivar a demanda de produção de baixo carbono. Além de uma solução coletiva, a especialista destacou a necessidade da coleta de dados confiáveis e de alta qualidade entre os produtores que adotam a prática. Para Fernanda, a digitalização é uma aliada do processo, pois vai permitir avaliar os impactos reais da agricultura regenerativa. 

Fernanda Vendramel (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

A executiva citou o programa de incentivos da empresa nessa área que, segundo a agência Reuters, tem uma expansão prevista de 140% até 2026. A meta envolveria investimentos de US$ 20 milhões em três anos, o que inclui ações como pagamento dos prêmios, somados a ferramentas tecnológicas, rastreabilidade, coleta de dados, assistência técnica e auditoria. 

Três pilares da sustentabilidade

O produtor argentino Alejandro Lopez, por sua vez, lembrou qu e a sustentabilidade envolve três pilares e, além do meio ambiente, precisa incluir os aspectos sociais e econômicos. Para ele, os agricultores também devem ser remunerados pelas suas ações, assim como as comunidades. Sem lucratividade, Lopez lembrou que não haverá negócios e nem empregos no campo. 

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Alejandro Lopez (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

O executivo destacou, ainda, que as práticas de agricultura regenerativa serão ótimas se realmente melhorarem o negócio dos produtores, e que o setor, sozinho, não pode suportar o ônus dos investimentos na área. Para ele, o agro já vem realizando iniciativas de sequestro de carbono, ao incluir atividades como a fertilização balanceada entre suas práticas. Além da lucratividade, Lopez chamou a atenção para a rentabilidade, como forma de criar um ciclo virtuoso. 

Marcelo Torres, da AAPRESID, foi mais enfático ao defender que a agricultura regenerativa não se transforme em mais um tema de moda e lembrou da necessidade do uso racional do solo, com consequências diretas na biodiversidade e na atmosfera. De acordo com ele, as crises recentes da pandemia de Coronavirus e a guerra da Ucrânia mostraram que o assunto é mundial e precisa ser endereçado globalmente. 

Marcelo Torres (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

Agricultura regenerativa precisa de tecnologia

Outra defesa do especialista é o uso de ferramentas de tecnologia e de processos para se chegar a uma agricultura regenerativa de sucesso. Nesse sentido, Torres explica que os produtores rurais precisam de diretrizes claras, mas são eles que vão adaptar as técnicas às condições do campo. Ele explicou que é necessário ter modelos que se adaptem à realidade dos agricultores e não o contrário. 

O especialista reforçou, ainda, o caráter colaborativo apontado por Fernanda, da Bunge, mas com os produtores sendo protagonistas do processo. A base científica da prática é outra defesa dele, uma vez que ter indicadores corretos pode acelerar a velocidade da produção sustentável de grãos e de bioenergia, com menos impactos. “Precisamos estabelecer protocolos e compartilhar dados”, ressaltou Torres. 

Produtores são fundamentais para combater mudanças climáticas

A utilização de abordagens técnicas, com base em sistemas georreferenciados e na rastreabilidade, entre outros recursos, também foi trazido para o debate por Fábio Sakamoto, da Biomas. Para ele, os produtores rurais não vão produzir somente alimentos, mas serão importantes na reversão das mudanças climáticas, inclusive com uso de tecnologias como inteligência artificial (IA).

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Fábio Sakamoto (Imagem: Transmissão do painel/World Agri-Tech)

O pensamento do executivo está alinhado com o de outros painelistas que destacaram a necessidade de coleta de dados confiáveis em campo. Outro aspecto da alta tecnologia é a demanda de compra de carbono por empresas como as Big Techs. Elas já são grandes participantes do ecossistema e têm interesse em neutralizar suas emissões ao investir, por exemplo, na restauração de florestas em parceria com o agronegócio.

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O desafio, segundo Sakamoto, é fazer isso em escala e usando dados confiáveis. Uma das soluções aventadas pelo executivo é a maior participação de startups nesse processo. Ele igualmente destacou a ação conjunta de grandes empresas, inclusive pelo exemplo da Biomas, que foi criada por uma parceria entre Itaú Unibanco, Marfrig, Rabobank, Santander, Suzano e Vale. Fundada no final de 2022, a Biomas foca exclusivamente em atividades de restauração, conservação e preservação de matas nativas no Brasil.

Fernanda, da Bunge, que começou a discussão sobre colaboração como incentivo à agricultura regenerativa, também argumentou que não existe uma receita pronta para a prática. Para ela, no entanto, é necessário incentivar os produtores com uma boa assistência técnica em campo e considerar a extrema diversidade da América do Sul, principalmente a do Brasil. “Ninguém melhor que os produtores para entender essa diversidade”, resumiu.