soro fetal bovino

Além da Carne: soro fetal bovino ajuda das células-tronco às vacinas

Composto altamente proteico, ele é utilizado pela ciência para avançar em diversas áreas da saúde humana

Redação

em 5 de janeiro de 2023


Célula-tronco, vacina e clonagem. Além de avanços da ciência, esses três tem algo em comum: o soro fetal bovino (FBS, na sigla em inglês). O especial Além da Carne investiga o impacto da produção animal na saúde humana, a partir dos subprodutos dos animais. Dizer que o FBS é um medicamento é muito pouco. Isso porque ele está na base do processo celular em laboratório. 

Altamente proteico, o FBS é utilizado para cultura celular in vitro. Ele é um suplemento que tem grandes concentrações de albumina, uma proteína que “alimenta” as células em um meio para que elas possam sobreviver, crescer e se dividir. Assim, os cientistas conseguem fazer testes usando células humanas no laboratório.

Sérum in vitro

O FBS é um dos constituintes mais abundantes das culturas de células em laboratórios, sendo que de 1% a 15% das soluções usadas nesses espaços utilizam o soro fetal bovino. Pesquisas mostram que o sérum tem mais de 1,8 mil proteínas e 4 mil metabólitos.

Por ser retirada de um mamífero, a solução tem as proteínas exatas para que células desse grupo animal (incluindo humanos) se reproduzam melhor. 

O soro também atua como um tampão para o sistema de cultura celular contra uma variedade de efeitos tóxicos que podem interromper o crescimento celular, como mudança de pH, atividade proteolítica ou presença de endotoxina. Isto traz segurança para as pesquisas de células em espaços controlados.

Exemplos de uso do soro fetal bovino

Um dos exemplos mais práticos do uso do FBS é a fertilização in vitro: o processo precisa de um ambiente em que não só a fertilização possa acontecer, como também para que o embrião seja formado. A fertilização in vitro tem cerca de 10% de soro fetal bovino na solução de cultura celular.

As pesquisas em célula-tronco utilizam o soro da mesma forma, já que precisam que os tecidos cresçam rapidamente e de maneira segura no laboratório. Até mesmo pesquisas de tratamento contra o câncer usam o soro, já que se valem dos testes de medicamentos em tecidos humanos in vitro.

Vacinas também usam soro fetal bovino

Outra utilização do FBS é nas vacinas. Algumas dos principais imunizantes utilizam bactérias ou vírus enfraquecidos para que o corpo crie anticorpos. Esta é a ideia fundamental por trás do soro fetal bovino nas vacinas. Eles contêm uma forma morta ou enfraquecida de uma bactéria, ou vírus portador de doença que desencadeia a produção de anticorpos e protege contra o desenvolvimento futuro da doença.

Por ter o iGG baixo, ou seja, uma taxa de anticorpos baixa, o soro permite que as bactérias ou vírus a serem trabalhados para a vacina sejam apenas enfraquecidos, e não dissipados. 

O crescimento celular de cepas enfraquecidas de patógenos requer meios de crescimento específicos, alguns exigindo produtos derivados de animais. Verificou-se que o soro fetal bovino excede os padrões de teste de cultura de células e contém vários fatores de crescimento para células de mamíferos.

Na maioria das vezes, o FBS é usado como parte do meio de crescimento no qual as vacinas são estudadas, cultivadas e colhidas. Na verdade, ele não existe na própria vacina final. Em vez disso, suas proteínas macromoleculares são usadas como nutrientes e outros fatores de crescimento permitem a rápida proliferação das células desejadas.

Soro fetal bovino: ética e segurança

Para se obter o FBS, é preciso retirar o sangue de fetos bovinos a partir do abatimento dos animais. O processo ocorre por um sistema asséptico, totalmente monitorado e com o uso de equipamentos seguros.

O sangue fetal coletado assepticamente é imediatamente refrigerado e coagulado. Em seguida, é centrifugado para separar o soro do coágulo sanguíneo. O soro é mantido congelado em recipientes limpos e higienizados cuidadosamente. Conforme indica a International Serum Industry Association, eles ficam identificados até que seja descongelado imediatamente antes do processamento posterior. O soro é obtido depois de uma série de testes e processamentos para evitar as toxinas.