Conheça a Cowmed, agritech de monitoramento que traduz o estado real do gado
Saiba como a integração de tecnologias de IoT, inteligência artificial, big data e blockchain melhoraram o bem-estar animal nas fazendas
A economia agrícola vem sendo fortemente impactada pela rápida evolução da tecnologia, que chegou não somente ao campo, mas também ao pasto. Recentemente, a integração de tecnologias de IoT, inteligência artificial, big data e blockchain chegaram para facilitar a vida do produtor de gado, via dispositivos de monitoramento. Esse movimento impacta também na gestão das fazendas, especialmente as leiteiras, e dá atenção especial ao bem-estar dos animais.
O uso de dispositivos de monitoramento bovino promete aumentar a produtividade e a segurança nas fazendas, agregando lucratividade, sem deixar de lado as práticas sustentáveis de produção. A Cowmed, uma agritech gaúcha com pouco mais de sete anos de mercado, já apresenta resultados no segmento. Sobre isso, conversamos com Thiago Martins, Cofundador da startup. Acompanhe a entrevista.
Pode nos contar um pouco sobre a Cowmed, como e quando ela surgiu?
A empresa nasceu em 2017, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, motivada pela visão de transformar a gestão e o bem-estar das vacas leiteiras por meio da tecnologia. Percebemos uma lacuna significativa na capacidade de monitorar a saúde animal de maneira contínua e precisa, especialmente em um setor tão tradicional como a pecuária leiteira.
Na produção tradicional, muitas vezes, dependíamos de métodos manuais e inspeções esporádicas, o que resultava em diagnósticos tardios e tratamentos menos eficazes. Junto com os cofundadores da Cowmed, que compartilham uma paixão tanto pelo agronegócio quanto pela inovação tecnológica, decidimos que era hora de mudar esse cenário.
A ideia inicial veio quando percebemos que muitos problemas de saúde nos rebanhos poderiam ser prevenidos se houvesse um monitoramento contínuo. Assim, começamos a explorar como sensores e algoritmos de inteligência artificial poderiam ser aplicados para esse fim. Apostamos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para criar dispositivos que fossem ao mesmo tempo robustos, precisos e fáceis de usar.
Depois do produto desenvolvido, como foi entrar no mercado?
Desde o lançamento, a Cowmed tem crescido exponencialmente, expandindo suas operações não apenas no Brasil, mas também em mercados internacionais (Paraguai, Uruguai, Bolívia, Canadá e Estados Unidos).
No início, enfrentamos vários desafios, incluindo a resistência à mudança por parte dos produtores tradicionais e a necessidade de educá-los sobre os benefícios da tecnologia. Investimos pesado em P&D para garantir que nossos dispositivos fossem altamente confiáveis. Também estabelecemos parcerias estratégicas com universidades e institutos de pesquisa para validar nossas tecnologias. Afinal, o embrião da Cowmed surgiu no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Nossa missão é clara: levar a tecnologia de ponta ao agronegócio global, promovendo práticas mais sustentáveis, eficientes e rentáveis. Estamos comprometidos em continuar essa trajetória de crescimento e transformação.
Na prática, como é feito o monitoramento de rebanhos e quais tecnologias estão envolvidas nesse processo?
O monitoramento dos rebanhos é realizado por meio de “colares”, que são dispositivos de sensores avançados que são acoplados aos animais. Esses sensores coletam dados em tempo real sobre diversos aspectos da vida do animal, incluindo atividade física, ruminação, ingestão de alimento, entre outros.
A tecnologia principal que utilizamos é a Internet das Coisas (IoT), que permite que esses dispositivos se comuniquem entre si e enviem dados para uma plataforma central. Na plataforma, utilizamos algoritmos de inteligência artificial e aprendizado de máquina para processar e analisar esses dados. Os algoritmos são treinados para identificar padrões de comportamento e detectar anomalias que possam indicar problemas de saúde.
Por exemplo, uma diminuição na ruminação pode ser um sinal precoce de problemas digestivos, enquanto mudanças nos padrões de atividade física podem indicar estresse ou doença. Além disso, os dados coletados são armazenados em nuvem, permitindo que os produtores acessem as informações a qualquer momento e de qualquer lugar, facilitando a tomada de decisões.
Essa abordagem tecnológica avançada não só melhora a saúde e o bem-estar dos animais, mas também otimiza a eficiência operacional das fazendas. Além dos sensores individuais, estamos realizando diversas integrações para um monitoramento mais abrangente das condições da pastagem e do ambiente em geral, obtendo uma visão holística da operação da fazenda.
É uma abordagem que, ao combinar IoT, inteligência artificial, big data e integrações, conseguimos ofertar ao mercado um sistema de monitoramento de rebanhos que é abrangente, preciso e extremamente eficaz.
Então pode-se dizer que o monitoramento dos rebanhos contribui para a melhoria da gestão e da produtividade?
Sem dúvida, o monitoramento dos rebanhos contribui significativamente para a melhoria da gestão e da produtividade nas fazendas. A coleta contínua e análise de dados em tempo real permitem aos produtores tomar decisões baseadas em informações precisas e atualizadas sobre a saúde e o comportamento dos animais.
Em uma de nossas fazendas parceiras, conseguimos detectar precocemente um surto de mastite, uma infecção comum que afeta as vacas leiteiras. Ao identificar os primeiros sinais da doença através dos sensores de ruminação e atividade, os produtores puderam intervir rapidamente, administrando o tratamento necessário antes que a infecção se espalhasse e afetasse mais animais.
Isso não só evitou perdas significativas na produção de leite, mas também reduziu o uso de antibióticos e melhorou o bem-estar das vacas leiteiras. Além disso, o monitoramento contínuo ajuda a otimizar a alimentação e o manejo do rebanho.
Com dados precisos sobre o consumo de alimento e os padrões de atividade, os produtores podem ajustar as dietas e os regimes de manejo para maximizar o ganho de peso e a produção de leite, aumentando a eficiência e a rentabilidade da fazenda. Em uma fazenda, conseguimos aumentar a taxa de ganho de peso em 15%, ajustando a dieta com base nos dados de ingestão coletados pelos sensores.
Outro exemplo prático é o impacto do monitoramento contínuo na detecção de estresse térmico. Em regiões com altas temperaturas, o calor pode ter um efeito devastador na saúde e na produtividade dos rebanhos. Nossos sensores monitoram continuamente a temperatura corporal e a respiração dos animais, fornecendo dados críticos para a identificação precoce do desconforto.
E quanto ao bem-estar animal?
Monitorar o ambiente onde as vacas estão colaborou para o lançamento do Cowconfort, sensores que monitoram temperatura e umidade do ambiente onde ficam os animais, gerando alertas para que o produtor intervenha em situações que causem desconforto no gado.
Em uma fazenda no Norte do Brasil, conseguimos detectar um aumento no estresse térmico durante uma onda de calor. Com essas informações, os produtores puderam implementar medidas de mitigação, como aumentar a sombra disponível, ajustar os horários de alimentação e implementar sistemas de resfriamento.
Essas ações resultaram em uma melhoria significativa no conforto e no bem-estar dos animais, redução na mortalidade e um aumento na produção de leite durante os meses mais quentes. A integração de nossos dados de monitoramento com sistemas de gestão agrícola permite uma visão mais ampla e estratégica das operações da fazenda.
Em outra fazenda que monitoramos, os dados de crescimento e ganho de peso dos animais são integrados com informações sobre a qualidade das pastagens e a disponibilidade de água. Essa visão ampla permite que os gestores ajustem o manejo das pastagens para otimizar a nutrição dos animais.
Outro caso é de um cliente nosso que conseguiu utilizar dados históricos e em tempo real para otimizar o calendário de vacinação e desparasitação, resultando em uma redução significativa nos custos de saúde animal e uma melhoria na saúde geral do rebanho.
Por fim, um dos maiores benefícios do nosso sistema de monitoramento é a capacidade de criar um ciclo contínuo de melhoria. Os dados coletados são usados para ajustar e refinar práticas de manejo, e essas mudanças são monitoradas em tempo real para avaliar sua eficácia.
Como os dados são analisados na plataforma da Cowmed?
Utilizando algoritmos de aprendizado de máquina que analisam as informações em tempo real, para identificar tendências e anomalias.
A plataforma apresenta esses insights de maneira intuitiva, através de dashboards e relatórios, permitindo que os produtores vejam rapidamente o estado de saúde do rebanho e tomem decisões informadas. Além disso, podemos integrar esses dados com outras informações da fazenda, como dados de alimentação e produção de leite, para fornecer uma visão holística da operação.
Isso permite aos gestores identificar áreas de melhoria, otimizar processos e implementar práticas de manejo que aumentam a produtividade e o bem-estar animal. A análise de dados coletados pelo nosso sistema vai além da simples identificação de problemas. Utilizamos técnicas avançadas de análise preditiva para antecipar problemas antes que eles ocorram.
Por exemplo, a análise dos padrões de atividade física pode revelar mudanças sutis que indicam o início de uma doença antes que os sintomas se tornem visíveis. Com essas informações, os produtores podem implementar intervenções preventivas, reduzindo o impacto da doença e melhorando a recuperação dos animais.
Outro aspecto importante da nossa análise de dados é a capacidade de identificar e monitorar o comportamento social dos animais. Estudos têm mostrado que o comportamento social pode ser um indicador importante de bem-estar animal. Mudanças na interação social dos bovinos podem indicar estresse, dor ou doenças. Utilizando nossos sensores, monitoramos o comportamento social dos animais e fornecemos alertas quando são detectadas anomalias.
Poderia exemplificar?
Em uma fazenda leiteira, conseguimos identificar um aumento no comportamento agressivo entre os animais, que foi rapidamente associado a um problema de espaço e alimentação. Com essas informações, os produtores ajustaram o manejo dos animais, resultando em um ambiente mais harmonioso e produtivo.
Podemos combinar dados de saúde animal com informações sobre a qualidade das pastagens, condições climáticas e disponibilidade de recursos hídricos. Essa abordagem integrada permite que os gestores tomem decisões informadas e estratégicas, otimizando todos os aspectos da operação.
Em uma fazenda no sul do Brasil, essa abordagem integrada resultou em uma redução de 20% nos custos de insumos e um aumento de 25% na produtividade do rebanho. Em resumo, os dados coletados durante o monitoramento fornecem uma visão detalhada e abrangente da saúde e do comportamento dos animais.
Utilizando técnicas avançadas de análise e integração de dados, transformamos essas informações em insights acionáveis que melhoram a gestão, aumentam a produtividade e promovem o bem-estar animal.
O monitoramento também impacta na gestão da reprodução animal?
O monitoramento contínuo também tem um impacto positivo na gestão da reprodução. Dados precisos sobre o comportamento reprodutivo dos animais permitem que os produtores identifiquem os melhores momentos para inseminação artificial ou cobertura natural, aumentando as taxas de sucesso reprodutivo. Em uma fazenda leiteira, conseguimos aumentar a taxa de concepção em 20% ao monitorar os sinais das vacas e fornecer alertas precisos sobre o momento ideal para inseminação. Isso resultou em um ciclo reprodutivo mais eficiente e uma produção de leite mais consistente.
Além disso, a análise contínua de dados permite a identificação de tendências a longo prazo na saúde e no bem-estar dos animais. Ao monitorar a atividade física e a ruminação ao longo do tempo, podemos identificar padrões que indicam problemas crônicos, como deficiências nutricionais ou condições ambientais inadequadas.
Ao acessar o dashboard da Cowmed, o produtor consegue identificar informações que podem indicar que há uma deficiência crônica de minerais na dieta dos animais e que pode afetar o crescimento e a saúde geral do rebanho. Dessa forma, pode-se ajustar a alimentação dos animais.
Quais são os principais desafios enfrentados pelos produtores na implementação de sistemas de monitoramento e quais as soluções tecnológicas disponíveis para superá-los?
A implementação de sistemas de monitoramento pode apresentar vários desafios para os produtores, sendo a resistência à mudança um dos mais significativos. Muitos produtores estão acostumados a métodos tradicionais de manejo e podem sentir-se desconfortáveis ao adotar novas tecnologias.
Para superar isso, oferecemos programas extensivos de treinamento e suporte técnico, garantindo que os produtores compreendam plenamente como utilizar os sistemas e vejam os benefícios tangíveis que eles trazem. Outro desafio comum é a conectividade em áreas rurais, que muitas vezes têm acesso limitado à internet.
Para contornar essa limitação, nossos dispositivos são projetados para operar de forma eficiente mesmo em ambientes de baixa conectividade. Os dados são armazenados localmente e sincronizados automaticamente com a nuvem quando a conectividade está disponível, garantindo que as informações críticas não sejam perdidas.
Além disso, o custo inicial de implementação pode ser uma preocupação para alguns produtores. Para isso, trabalhamos em modelos de negócios flexíveis, incluindo opções de financiamento, parcerias com cooperativas de produtores de leite (como Cooperrita e CCPR) e assinaturas que tornam a tecnologia acessível a uma gama mais ampla de produtores.
Outra solução tecnológica que oferecemos é a integração de nossa plataforma com outros sistemas de gestão agrícola como a Rúmina, permitindo uma visão unificada das operações da fazenda. Utilizamos APIs abertas que permitem a integração perfeita de dados, garantindo que os produtores possam continuar a usar seus sistemas existentes enquanto aproveitam os benefícios adicionais de nossa tecnologia de monitoramento.
Como você vê o futuro do monitoramento de rebanhos e a tomada de decisão nas fazendas? Existem tendências ou inovações tecnológicas que devemos ficar de olho?
O futuro do monitoramento de rebanhos e da tomada de decisão nas fazendas é incrivelmente promissor e está sendo moldado por rápidas inovações tecnológicas. Uma tendência que estamos observando é a crescente integração de tecnologias de IoT, inteligência artificial e big data.
Esses avanços estão permitindo um nível sem precedentes de precisão e personalização no manejo dos rebanhos. Sistemas autônomos, que não apenas monitoram, mas também executam ações corretivas automaticamente, estão começando a surgir.
Finalmente, vemos um grande potencial no desenvolvimento de plataformas abertas e colaborativas que permitem a integração de várias tecnologias e dados de diferentes fontes. Isso promoverá um agronegócio mais conectado e eficiente, onde as decisões são informadas por um conjunto abrangente de dados precisos e atualizados.
Uma tendência emergente que está moldando o futuro do monitoramento de rebanhos é o desenvolvimento de biossensores avançados. Esses dispositivos têm a capacidade de monitorar uma ampla gama de biomarcadores em tempo real, fornecendo dados detalhados sobre a saúde e o bem-estar dos animais. Por exemplo, biossensores podem medir níveis de hormônios, indicadores de inflamação e até mesmo sinais de infecções bacterianas ou virais. Com esses dados, os produtores podem tomar decisões mais informadas sobre tratamentos médicos e manejo dos animais.
Outra inovação promissora é a integração de tecnologia de blockchain na cadeia de suprimentos da pecuária. A blockchain pode fornecer um registro imutável e transparente de todas as etapas do ciclo de vida de um animal, desde o nascimento até o abate. Isso não só melhora a rastreabilidade e a transparência, mas também aumenta a confiança do consumidor na qualidade e segurança dos produtos animais.
Além disso, a inteligência artificial está se tornando cada vez mais sofisticada, permitindo análises mais complexas e preditivas. Algoritmos de aprendizado profundo podem identificar padrões sutis nos dados que seriam impossíveis de detectar manualmente.
A automação também está desempenhando um papel crucial no futuro da pecuária. Sistemas automatizados de alimentação e manejo podem ajustar a dieta e o ambiente dos animais em tempo real com base em dados de monitoramento. Isso não só melhora a eficiência e a produtividade, mas também garante que os animais estejam sempre em condições ideais.
Em fazendas de corte, por exemplo, sistemas automatizados de alimentação podem ajustar a ração dos animais com base em seu peso, idade e estado de saúde, otimizando o ganho de peso e a conversão alimentar. Outra área de inovação é a utilização de tecnologias de realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) para treinamento e gestão.
Essas tecnologias podem fornecer simulações realistas de cenários de manejo, permitindo que os produtores e funcionários da fazenda treinem em um ambiente seguro e controlado. Além disso, a AR pode ser usada no campo para visualizar dados de monitoramento em tempo real, facilitando a tomada de decisões informadas.
Em termos de sustentabilidade, estamos vendo um movimento crescente em direção a práticas agrícolas regenerativas. A tecnologia de monitoramento pode desempenhar um papel fundamental na implementação e no sucesso dessas práticas. Sensores de solo e drones podem monitorar a saúde do solo e a biodiversidade, ajudando os produtores a implementar práticas que melhoram a fertilidade do solo e reduzem o impacto ambiental.
As inovações tecnológicas estão transformando a maneira como gerenciamos a pecuária, tornando-a mais eficiente, sustentável e orientada por dados.