Foto: Reprodução/ Casa Branca Agropastoril
vaca mais cara do mundo
Foto: Reprodução/ Casa Branca Agropastoril

Brasil tem a vaca mais cara do mundo

Entenda com a fertilização in vitro está transformando o mercado de genética bovina

Redação

em 11 de junho de 2024


Já imaginou uma vaca que vale R$ 21 milhões e gera um faturamento anual de R$ 11,5 milhões? Esse é o caso da Viatina-19 FIV Mara Móveis. A vaca mais cara do mundo é brasileira, tem apenas cinco anos, é da raça Nelore e vive na fazenda Mara Móveis, em Goiânia. O “19” em seu nome indica que ela faz parte de uma linhagem específica. Suas irmãs, tias e primas também se chamam Viatina. Sua mãe, Viatina-3, e sua avó, a matriarca da casta, foram as primeiras a carregar o nome.

O “FIV” em seu nome representa a técnica de fertilização in vitro, usada para o melhoramento genético da espécie. A tecnologia, que é a mesma utilizada em humanos, envolve o congelamento de óvulos da espécie e é a chave para as cifras impressionantes associadas à Viatina-19.

Este é mais um exemplo de como a ciência e a tecnologia podem transformar o agro tradicional, criando novas oportunidades e mercados em um setor vital para a economia brasileira.

Mas, afinal, por que a Viatina-19 é a vaca mais cara do mundo?

vaca mais cara do mundo
Foto: Divulgação/ Rubens Ferreira

A criação de gado envolve, necessariamente, o melhoramento genético. Na prática, os melhores exemplares são multiplicados e, conforme as gerações vão passando, suas qualidades vão sendo ressaltadas. Isso é feito para, por exemplo, criar animais que produzam mais leite, que sejam melhores reprodutores ou que ofereçam uma carne mais marmorizada, entre outras características. Trata-se de uma seleção artificial que tem como objetivo o melhoramento genético da espécie.

A ferramenta de seleção artificial sempre priorizou os melhores machos. Isso porque eles produzem uma quantidade “infinita” de espermatozoides. Em bom português, a expressão se resume a: tenha um bom touro e o coloque somente para reproduzir. Assim, os bons genes são espalhados e, literalmente, reproduzidos em novas espécies.

Para ilustrar, o touro Landau, pai da Viatina-19, já tinha 15 mil filhos antes dela nascer. Outro touro brasileiro famoso pela reprodução é Backup, que deixou 460 mil filhotes.

Com as vacas, a situação é diferente. Uma boa reprodutora consegue produzir um único bezerro por ano, após nove meses de gestação, assim como os humanos. De acordo com o noticiado pela InvestNews, em condições naturais uma vaca reprodutora pode deixar entre 10 e 12 filhotes ao longo de sua vida. No entanto, com a chegada da tecnologia e da fertilização in vitro em escala comercial, no início dos anos 2000, essa realidade mudou.

O processo de fertilização

A técnica de reprodução in vitro tem transformado a pecuária moderna, permitindo a produção de bezerros geneticamente superiores de forma eficiente e rápida. O procedimento começa com a colheita de óvulos de uma vaca de alto valor genético. Esses óvulos são então levados ao laboratório, onde são fertilizados com espermatozóides de um touro de qualidade superior.

Uma vez fertilizados, os óvulos se transformam em embriões e são inseridos em vacas receptoras. Como resultado, nascem bezerros que carregam os genes de exemplares bovinos de elite, tanto do lado materno quanto do paterno.

A coleta de óvulos, também conhecida como aspiração, pode ser realizada a cada duas ou três semanas e extrai, em média, 80 óvulos por sessão. Desses, apenas 10 ou 12 embriões são viáveis e podem ser produzidos e transferidos para vacas, criando múltiplas “prenhezes” (termo utilizado para descrever as gestações múltiplas geradas a partir de uma única doadora).

A reprodução in vitro está redefinindo os parâmetros da pecuária, proporcionando avanços significativos em produtividade e qualidade genética. Em resumo, trata-se de uma técnica que permite que uma vaca de alto valor genético produza, a cada três semanas, uma quantidade de filhotes que normalmente geraria ao longo de toda a sua vida reprodutiva. Como resultado, há um aumento no valor do animal e, sobretudo, um aprimoramento genético do rebanho. A vaca mais cara do mundo, a Viatina-19, também foi concebida em um tubo de ensaio (daí o “FIV” do seu nome completo).

Um dado importante é que a Viatina-19 tem relativamente poucos filhotes: 30 ao todo. Isso se deve à preocupação e ao cuidado para não desgastar o sistema reprodutivo do animal. 

A raça Nelore é valorizada no Brasil devido à sua adaptabilidade ao clima tropical, à sua resistência a doenças e à produção de carne.

Mercado brasileiro

Para Fabiana Marques Borelli, diretora da Casa Branca Agropastoril, uma das fazendas proprietárias do animal, foram os acertos do passado que permitiram ampliar as expectativas para o futuro. “A gente já vendeu uma única aspiração da Viatina por R$ 1,5 milhão”. Em 2022, a Casa Branca e outra fazenda, a Agropecuária Napemo, compraram cada uma 50% da vaca da Mara Móveis. O investimento total foi de R$ 8 milhões.

Ao fundo a vaca Viatina-19, com o criador, os atuais proprietários e as assessorias que auxiliaram nas vendas dela (Foto: Divulgação/ Casa Branca/ Giro do Boi)

Um ano depois, os criadores leiloaram 33% de Viatina. A fazenda Nelore HRO arrematou essa fatia por R$ 7 milhões. Ou seja, o valor de mercado dela foi a R$ 21 milhões. E, sim, isso colocou a Viatina-19 no famoso Guinness Book como a vaca mais cara do mundo.

Vale ressaltar que ela chegou a esse preço de mercado porque manteve características genéticas importantes para a seleção artificial da raça Nelore. Como a Viatina tem o ideal para uma vaca, isso aumenta consideravelmente a demanda por seus genes. 

Apesar do alto valor de mercado, Viatina não é algo extraordinário para o agro. Donna, a segunda vaca mais cara da Fazenda Casa Branca, vale R$ 15,5 milhões (em sistema de copropriedade com as fazendas Chácara Mata Velha e Agropecuária LMC). 

No caso dos touros, o mais valorizado do Brasil é o Nelore REM Caballero, que vale cerca de R$ 4,6 milhões. 

Uma curiosidade sobre a Viatina: em maio de 2024, o consórcio de fazendas donas da Viatina leiloou uma prenhez da vaca para a caridade. Foram divididos os direitos sobre a futura cria, uma fêmea, em 100 cotas. Cada cota foi vendida por R$ 30 mil. Como resultado, arrecadaram-se R$ 3 milhões, destinados às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.