Foto: Celina Mutti Lovera/Dialogue Earth/Reprodução
pecuaria sustentavel chaco
Foto: Celina Mutti Lovera/Dialogue Earth/Reprodução

Pecuária sustentável: inovação no Chaco Argentino

Fazenda São Francisco de Assis conta com uma produção sustentável integrada à comunidade

Redação

em 28 de junho de 2024


O Chaco Argentino, região geográfica localizada no Norte da Argentina, faz parte da maior ecorregião do Gran Chaco, que se estende também pelo Paraguai, Bolívia e uma pequena parte do Brasil. A região, conhecida por sua biodiversidade, abriga uma variedade de flora e fauna, e é também famosa pela produção agrícola e pecuária. Durante anos, ela serviu de solo para a produção, mas, recentemente, ganhou um novo olhar, sob a ótica da sustentabilidade.

Abel Menapace e seu filho Leandro são pecuaristas da região do Gran Chaco, na Argentina. Há mais de duas décadas, eles usam práticas sustentáveis em sua propriedade. De acordo com a notícia da Dialogue Earth, os dois, que são engenheiros agrônomos de formação, administram uma fazenda em Cuña Boscosa, que ocupa mais de um milhão de hectares no extremo Norte da província de Santa Fé. O projeto combina o manejo de florestas nativas com a produção de gado na fazenda São Francisco de Assis (considerado protetor dos animais e padroeiro da ecologia). 

Leandro e Abel Menapace (Foto: Celina Mutti Lovera/Dos Ambientes/Reprodução)

Além de inúmeras espécies nativas, a fazenda ainda serve como lar para 200 espécies de aves, que dividem o espaço com outros animais. Para Abel, diversidade no campo é vida, “justamente o oposto da monocultura”. Ele diz que é preciso aproveitar ao máximo o que a floresta pode oferecer e integrar seu gado a esse ecossistema.

Outro empreendimento que combina o cultivo florestal nativo com a produção pecuária é a fazenda dos Menapace, que fica mais ou menos a 300 quilômetros ao Norte de Santa Fé. Com a integração da floresta com a pecuária, a propriedade recuperou solos degradados, garantindo o estoque de carbono nos 214 hectares.

Manutenção de florestas nativas é essencial

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Foto: Celina Mutti Lovera/Dialogue Earth/Reprodução

As florestas nativas contribuem ativamente para a mitigação das mudanças climáticas. Além de ajudarem a proteger a água, elas também auxiliam na segurança alimentar, no desenvolvimento econômico regional e na geração de renda para as comunidades locais. 

A Argentina tem, pelo menos, 47,9 milhões de hectares de florestas nativas, sob a proteção da Lei Florestal de 2007. 

A província de Santa Fé tem, aproximadamente, 13 milhões de hectares, dos quais 1,7 milhão é composto por florestas nativas protegidas. Uma região que tem ainda uma categorização “vermelha”, que exige a conservação rigorosa da biodiversidade e proíbe qualquer mudança no uso do solo. Por outro lado, a fazenda São Francisco de Assis está localizada em uma área de categoria dois. 

Pecuária sustentável no Chaco

A Fazenda São Francisco de Assis conta com uma produção sustentável integrada à comunidade, de forma que está sempre aberta para pesquisadores, organizações civis, escolas e universidades. De acordo com patriarca da família, “a ideia é valorizar o que a floresta nativa tem a oferecer: a geração de renda por meio de madeira, frutas, forragem do solo, flores melíferas, essências medicinais, corantes, trilhas para o ecoturismo e serviços ambientais. Ao mesmo tempo, de forma integrada e no mesmo ecossistema, introduzimos o gado, melhorando o meio ambiente e gerando renda a partir da pecuária”, exemplificou o fazendeiro.

Atualmente, em sua fazenda, 70% de suas terras são classificadas como boas ou ótimas para a criação de gado, enquanto os 30% restantes servem de refúgio para a biodiversidade. Na prática, a proporção de animais por hectare é de 1 para 1, ou seja, pode-se administrar até 150 cabeças de gado no espaço.  

Para Abel Menapace, todo componente do ecossistema deve cumprir uma função. Por isso, a pecuária é vista como uma consequência e não como objetivo principal da propriedade. Contudo, os esforços são fundamentais para reduzir o impacto da pecuária no meio ambiente. A agricultura, pecuária e silvicultura ainda são responsáveis por 39% das emissões do país. 

A fazenda São Francisco de Assis adotou um modelo que colabora com a preservação da biodiversidade nativa, o que ajuda a minimizar as emissões de gases de efeito estufa.

Se comparado ao modelo executado em outras propriedades, suas terras ainda contribuem para o armazenamento de carbono. Em resumo, a replicação do modelo de fazenda liderada por Menapace ajudaria a Argentina a cumprir suas metas climáticas para as próximas décadas. Sem contar que ajudaria, também, a cumprir com o compromisso de atingir a neutralidade de carbono até 2050.