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Agropecuária deve ser uma das protagonistas da COP-27, segundo especialistas

Com Brasil no protagonismo, entenda por quê o agronegócio deve ser um dos temas principais da COP-27, que acontece este ano no Egito

Redação

em 19 de agosto de 2022


A 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-27), que acontece neste ano no Egito, terá vários temas-chave, mas o setor de agronegócios deve fazer parte da lista de assuntos prioritários. “A COP-27 deve ter um enfoque maior na agricultura”, afirmou Cynthia Rosenzweig, pesquisadora sênior e chefe do grupo sobre impacto climático do Instituto Global de Estudos Espaciais da Nasa. “As estratégias de adaptação estão aumentando, e é disso que se necessita. Mas precisamos fazer mais ainda”, reforçou a ganhadora do Prêmio Mundial da Alimentação 2022.

A pesquisadora também destacou práticas inovadoras do setor de agronegócios que vem ajudando a minimizar os problemas causados pelas mudanças climáticas. Nesse rol ela inclui as estratégias de adaptação do agro, entre as quais a conservação e a gestão do solo e da água, a diversificação de cultivos, a agricultura climaticamente inteligente, os sistemas de alerta antecipado, o rodízio crescente dos plantios, para evitar o aquecimento do hábitat e as pragas, e a melhoria da gestão dos pastos e do gado.

Vacas menos infláveis 

Segundo Francesca Carnibella, especialista em impactos climáticos da pecuária industrial, a discussão que envolve o agronegócio já tinha ganhado força na COP-26, na Escócia. Os acordos realizados no ano passado miraram no combate ao desmatamento e na redução das emissões de metano (a agricultura é o maior impulsionador de ambos), caminhos políticos para a transição para práticas agrícolas mais sustentáveis ​​e compromissos financeiros para apoiar uma transição rural justa. 

“Essas iniciativas demonstraram um nível de vontade política, mas os críticos observam que lhes falta ambição, financiamento e força legal porque não fazem parte do Acordo de Paris ou do Pacto de Glasgow”, explica Francesca no artigo From inflatable cows to COP 27: how can food be mainstreamed in international climate action? (“Das vacas infláveis ​​à COP 27: como a alimentação pode ser incorporada à ação climática internacional?”, numa tradução livre). 

De acordo com ela, um dos motivos de preocupação é que as emissões do setor de alimentos aumentaram 17% desde 1990, de acordo com dados da FAO. “Os países também fizeram pouco para reduzir suas emissões de metano agrícola, um potente gás de efeito estufa”, reforçou Francesca. A especialista recomenda atenção para financiamento, o que pode ser feito a partir do redirecionamento de subsídios agrícolas que contemplem práticas sustentáveis, e maior governança.

Brasil pode ser protagonista na COP-27

Apesar dos desafios, a avaliação da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) mostra que o Brasil pode ter um papel diferenciado na discussão que acontece em novembro no Egito. O desmatamento ilegal, por exemplo, está na mira da entidade, segundo o seu presidente, Luiz Carlos Corrêa Carvalho.

Mesmo o cenário atual – nos cinco primeiros meses de 2022, o número de alertas foi o maior para o período desde 2016 – pode ser revertido, na avaliação do engenheiro agrônomo André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). “Em anos anteriores, o Brasil já fez esse serviço de combate ao desmatamento e com resultado positivo. É preciso aplicar políticas nesse sentido”, avalia.

Segundo Guimarães, as mudanças climáticas aceleram a busca por novas formas de produção agropecuária que também produzam a conservação do meio-ambiente. O especialista destaca o papel do país como protagonista do agronegócio mundial e, inclusive, potencial ator no mercado de crédito de carbono.

“O Brasil é um caso de sucesso na produção agropecuária. Não há nenhum país que nos últimos 40/50 anos passou de importador de alimentos para ser um dos maiores exportadores de commodities agrícolas e fibras do mundo. Não há paralelo na história da humanidade”, destacou.