biomas brasileiros

Biomas brasileiros têm relação específica com pecuária de corte

Saiba quais são os biomas brasileiros e a sua relação com da pecuária de corte, considerada importante para o equilíbrio de vários deles

Redação

em 20 de setembro de 2022


A pecuária de corte acontece em praticamente todos os biomas brasileiros, mas com prioridades diferentes, segundo estudo do Centro de Inteligência da Carne (Cicarne), da Embrapa. Mas a pergunta inicial é: quais são esses biomas? De modo geral, respondemos que são sete: Caatinga, Campo, Cerrado, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Floresta de Pinheiro e Pantanal.

Mas também temos os biomas secundários, que incluem os manguezais, as dunas, as áreas costeiras, as ilhas costeiras e oceânicas, as restingas e outras zonas de transição.

Caatinga, Campo e Cerrado

A Caatinga, formada por vegetação baixa, lenhosa e espécies de plantas espinhosas e diversas espécies de cactos, típicos de clima semi-árido, cobre cerca de 8% do país. 

Um pouco menos extenso, o Campo tem vegetação baixa composta de gramíneas e pequenos arbustos. Ocorre em áreas de altitude, onde a atividade pastoril é predominante e responde por cerca de 5% do território nacional.

Biomas brasileiros

O Cerrado responde por um quinto do território nacional, e é um dos biomas brasileiros mais associados à produção de gado de corte. Este bioma é composto por árvores de baixo porte, caules tortuosos e retorcidos, bem espaçadas e intercaladas com arbustos, mas apresentam também grupamentos mais densos, de caules menos tortuosos.

Amazônica e Mata Atlântica cobrem 50% do território

O outro bioma destacado é a Floresta Amazônica, com mata densa, alta, com folhagem sempre verde e bem estratificada, e que representa 40% da área do país. 

biomas brasileiros

Menos onipresente, a Mata Atlântica é uma floresta costeira, de clima úmido, com penetrações nos vales dos rios, encostas, das serras em formação alta, densa, com inúmeras espécies caducifólias e que hoje cobre 10% do Brasil. 

Os dois outros biomas brasileiros principais são a Floresta de Pinheiro – de formação alta e densa, com árvores emergentes e poucas espécies caducifólias e encontrada especialmente na Serra do Mar e no Planalto Meridional – e o Pantanal, área plana no Centro-Oeste do país, formada por campos de gramíneas que permanece alagado parte do ano em virtude das cheias dos rios da região. 

Bioma como limitador natural

Apesar da diversidade, três biomas brasileiros estão sempre na mira quando o assunto é pecuária de corte: Amazônia, Cerrado e Pantanal. A Embrapa, inclusive, vem estudando o impacto da atividade nessas regiões e pontua que parte importante do problema é encontrar um conjunto de variáveis indicadoras da biodiversidade e cujas relações com os impactos da pecuária possam ser adequadamente parametrizados na construção de um modelo específico para cada tipo de ecossistema. 

Muitos defendem que é possível sim criar gado de modo sustentável, inclusive na Amazônia. De acordo com especialistas do Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA), do Instituto Mamirauá, esse tipo de manejo não apenas é possível, como também pode contribuir para a conservação da biodiversidade do bioma. 

É o caso da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, onde o próprio bioma impõe os limites: a unidade de conservação tem florestas de terra firme e de várzea, ecossistema cujas áreas alagadas servem como limitador natural para a expansão de áreas de pastagem em um nível que possa causar desequilíbrio no ecossistema. 

Gado como roçadeira seletiva no Cerrado 

Na avaliação do PMA, os meios de produção agropecuários praticados pelos ribeirinhos também seguem preceitos da agroecologia e adotam a metodologia proposta pelo Pastoreio Racional Voisin (PRV). Com ela, o gado fica em uma área delimitada até no máximo três dias. 

A defecação e a urina dos animais nesse período contribuem para a reestruturação do solo. Posteriormente, os animais são transferidos para outra parcela, respeitando o período de descanso para recomposição do pasto e novo pastejamento. Com esse incremento de produção de pasto, reduz-se a demanda pela abertura de novas áreas na floresta.

Outra experiência no Cerrado confirma a sustentabilidade da pecuária em vários biomas brasileiros. O trabalho de mestrado do pesquisador Henrique Sverzut Freire de Andrade, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, analisa o efeito da presença do gado bovino para o controle das gramíneas com o objetivo de restaurar a biodiversidade do bioma com viabilidade ecológica e financeira. 

Os resultados mostraram que o animal pode atuar como uma “biorroçadeira seletiva”, aparando a cobertura vegetal, mas selecionando apenas as gramíneas invasoras, o que permitiria o desenvolvimento das nativas.

Formação do Pampa tem ligação com pastejo

Menos midiático e sem ser reconhecido como um dos biomas brasileiros até o começo dos anos 2000, o Pampa tem muita história com pecuária. Único bioma restrito a apenas um estado, o Rio Grande do Sul, o Pampa abarca o equivalente a 2,3% do território nacional e, mesmo depois reconhecido, entretanto, o bioma ainda precisou superar o lugar comum de que seria unicamente uma paisagem monótona e desinteressante de pasto. 

Esse erro fica evidente pela variedade de gramíneas encontradas em um único m² de Pampa próximo à cidade de Quaraí no fim de 2014: 56 espécies diferentes. Por se tratar de um bioma campestre, a região necessita de distúrbios que removam a biomassa acumulada. 

No Cerrado, por exemplo, isso é feito pelas queimadas que ocorrem naturalmente em intervalos de alguns anos. Já na região Sul, a responsabilidade tem caído sob os rebanhos bovinos. Vale ressaltar, no entanto, que, para ser feito de forma sustentável, tal atividade demanda uma tecnologia de manejo, com dosagem de carga – número de animais por área –, além de rodízio de locais utilizados para pasto.

A própria formação do Pampa está relacionada ao pastejo. Se, por um lado, o clima frio e seco favoreceu o desenvolvimento da vegetação rasteira, por outro uma megafauna extinta há cerca de 10 mil anos e que incluía preguiças-gigantes e parentes de cavalos e tatus de grande porte já se alimentava das gramíneas e herbáceas da região. “A reintrodução pelos europeus do gado ajudou na manutenção desse ecossistema campestre”, finaliza Tiago Gomes, professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).