Brasil tem potencial para 1,8 milhão de biodigestores no agro 

O agronegócio pode ser um forte aliado na transição energética, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), instituição responsável pelo planejamento da expansão de fontes de energia no Brasil. Em relatório sobre biogás na agropecuária, a EPE apontou o apelo social em estabelecimentos com até 50 cabeças de gado, onde cerca de 1,8 milhão de biodigestores de pequeno porte poderiam ser ativados para uso próprio. 

“A importância do biogás de resíduos rurais é maior pela questão de acesso à energia para melhoria da qualidade de vida e minimização de riscos de desabastecimento elétrico das propriedades rurais, do que pela mitigação de gases de efeito estufa”, detalha o relatório Potencial de Biogás na Pecuária Bovina Brasileira. 

O potencial é ainda maior, considerando projetos comerciais de maior porte, principalmente a pecuária leiteira e a de terminação (abate), apontados como os principais nichos de mercado para conjuntos biodigestor/moto-gerador (500 mil projetos) e para a implantação de sistemas de produção de biometano veicular (8 mil projetos).

Na avaliação dos dois potenciais – social e comercial – a EPE considerou um modelo de produção de biogás a partir de resíduos, no qual cada animal excreta cerca de 15 kg de dejetos por dia, com 85% de umidade. Já a taxa de metanização é de 24 Nm3 de metano por quilograma de dejeto fresco. Estes fatores resultam numa produção anual de biogás por animal de 131,4 Nm3 CH4 eq.

Já as formas de uso do biogás consideradas pela EPE incluem combustível para cozimento, atendimento da demanda elétrica residencial do estabelecimento agropecuário, atendimento da demanda elétrica na produção de leite, uso veicular e ainda a geração distribuída. 

Na prática, os produtores rurais podem ganhar, por exemplo, com a eletrificação da produção de leite, fator que tem o potencial de melhorar a qualidade e produtividade. Outro benefício pode envolver a adoção de veículos movidos a biogás, com redução nos custos de transporte. Já a geração distribuída pode contribuir para o aumento da renda da propriedade ou compensação dos custos com energia.

Só a pecuária leiteira tem uma capacidade de gerar 575 milhões de metros cúbicos por ano (MMCA) de CH4 eq., no manejo a pasto, e de 751 MMCA CH4 eq., no manejo com confinamento. Em base diária, estes valores são 1,6 milhão de metro cúbico por dia (MMCD) e 2,1 MMCD, respectivamente.