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Com crescimento, pecuária do Mato Grosso também tem desafios

O estado é protagonista da pecuária no Brasil e deve se atentar a alguns desafios, segundo Monique Melânia Kempa, especialista do Imea

Redação

em 26 de outubro de 2022


O Mato Grosso tem o maior rebanho bovino no país e abateu cerca de 3,2 milhões de cabeças entre janeiro e agosto deste ano. Mas, considerado o grande protagonista dessa área no Brasil, o estado tem alguns desafios a vencer na área de pecuária. A avaliação é de Monique Melânia Kempa, coordenadora da inteligência de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Para ela, há muitas oportunidades para a bovinocultura de corte ser mais eficiente a curto e médio prazo no estado, mas os produtores do Mato Grosso precisam superar as oscilações de mercado. 

O primeiro desafio acontece em relação ao cenário de ofertas, o qual indica uma mudança de ciclo pecuário. Na avaliação da especialista, o ano de 2021 foi marcado por um período de retenção de fêmea – o maior dos últimos dez anos – o que auxiliou o preço da arroba a permanecer em patamares elevados. “Agora é um período de maior oferta de mercado, isso traz uma maior disponibilidade de carne e, consequentemente, causa uma pressão para os preços da arroba”, avalia Mônica. 

O segundo desafio está ligado ao abate de bovinos: de janeiro a agosto desse ano houve um incremento de mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Tal aumento tem como origem, principalmente, no abate das fêmeas. Os dados do Imea indicam que esse abate cresceu quase 12% nesses oito meses, o que confirma a virada de ciclo.

Outro destaque está nos preços de reposição em Mato Grosso, que mostram uma tendência de recuo desde o final do ano passado, algo que também mostraria uma maior oferta no mercado. “Tudo indica que a bovinocultura está passando por um processo de mudança, com maior oferta e consequentemente isso traz uma maior pressão sobre os preços”, acrescenta Monique. 

Na avaliação dela, o principal desafio para os pecuaristas nesse ano será em relação ao custo de produção: uma estimativa de crescimento de 37% para cria, 19% para recria e engorda e 29% para o ciclo completo. “O aumento é significativo e traz atenção para o produtor, que precisa ter os seus custos calculados e se proteger no mercado futuro para não ficar refém das oscilações do mercado, já que há previsões de que 2023 seja um período de maior oferta no mercado”, explica. 

China fica mais forte no mercado importador 

Já em termos de demanda, é preciso uma contextualização sobre o que fica dentro de Mato Grosso, o que vai para outros estados e o que segue para exportação. “Basicamente, nos últimos anos, sempre vimos um cenário de 80% ficando no mercado interno e 20% indo para exportação. Já com a entrada mais forte da China no mercado, em 2021 já vimos um cenário diferente, com 65% ficando no mercado interno e 35% seguindo para exportação”, destacou a coordenadora do Imea. 

Para 2022, com a China mais forte ainda no mercado, 40% está sendo estimado para exportação e 60% para o mercado interno. Outro fator de impacto desse cenário é com relação ao consumo per capita de carne bovina do brasileiro, o qual está caindo.

A Conab está estimando 24,8 quilos por ano, ou seja, o menor consumo per capita dos últimos dez anos. Esse número vem diminuindo desde o começo da pandemia, com a desaceleração econômica. Como 2022 não teve entrada de auxílios do governo, houve retração de quase 11% em relação a 2021.

Existem, ainda esse ano, alguns eventos que podem auxiliar na demanda da carne bovina. Entre eles estão as eleições, que injetam mais dinheiro na economia, e a Copa do Mundo, que pode auxiliar com mais confraternizações e aumento do consumo doméstico.

Dezembro, que é sazonal, com as festividades de final de ano e a entrada do 13º salário, também pode contribuir na demanda. “A expectativa é de que se houver uma recuperação econômica em 2023, aliada à perspectiva de maior oferta de carne, podemos ter um potencial de melhora na demanda doméstica, mas ainda está um cenário bem nebuloso”, conclui Monique.