protagonismo em agro

Como o Brasil pode ter cada vez mais protagonismo em agro até 2030

Estudo da Embrapa mostra o futuro da agropecuária e ressalta a posição de destaque do Brasil nas próximas décadas

Redação

em 29 de abril de 2022


O Brasil deve ampliar o seu papel como player global da agroindústria e assumir o protagonismo em agro na próxima década. A avaliação está consolidada no relatório Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira, publicado pela Embrapa. O estudo leva em consideração o aumento mundial de 35% na demanda de alimentos em 2030, tomando como base o ano de 2018. As demandas por energia (40%) e por água (50%) correm em paralelo e devem amplificar o desafio da entrega de alimentos, ampliando a importância da produção brasileira para vencer os desafios globais.

A lógica é simples: nas últimas cinco décadas, o país passou de importador de alimentos para um dos mais importantes produtores e exportadores mundiais, alimentando aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas no mundo. Ou seja, o perfil da agroindústria brasileira casa perfeitamente com o cenário que coloca a agricultura e alimentação no centro da agenda mundial. 

Os benefícios dessa condição possibilitam preços mais acessíveis aos consumidores, elevam a renda e a geração de empregos e impulsionam a participação da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, entre outras consequências. 

Na avaliação da Embrapa, a disponibilidade de recursos naturais, associada a políticas públicas, a competências técnico-científicas e ao empreendedorismo dos agricultores brasileiros foram fundamentais para esse desenvolvimento agrícola do país. E mais: o Brasil continua investindo em processos de intensificação sustentável, com destaque para a produção de duas safras por ano em mesma área e para o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação à Mudança do Clima para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Mapa, também incentiva o uso de tecnologias mais sustentáveis, tais como recuperação de pastagens degradadas; integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); sistemas agroflorestais, sistema de plantio direto (SPD), fixação biológica de nitrogênio (FBN); florestas plantadas e tratamento de dejetos animais.

Protagonismo em agro depende do entendimento de megatendências

A consolidação do futuro da agricultura brasileira também passa por outras políticas que incentivam e fortalecem a sustentabilidade do meio rural, como a Política Nacional de Biossegurança, o Código Florestal e o Cadastro Ambiental Rural. 

O estudo da Embrapa destaca os avanços econômicos, culturais, sociais, tecnológicos, ambientais e mercadológicos – que ocorrem em alta velocidade e em diferentes direções no universo rural brasileiro. Ele também lista o que pode afetar a nossa trajetória, estabelecendo sete principais tendências tecnológicas relacionadas ao setor e avaliando como o país pode usá-las para favorecer o seu protagonismo na agroindústria.

A lista de megatendências inclui a dinamização dos processos de expansão e intensificação agrícolas que, por sua vez, continuarão a impulsionar a velocidade das mudanças socioeconômicas e espaciais no Brasil. Em termos práticos, isso signfica que é provável, por exemplo, a maior concentração da produção de grãos em larga escala no Cerrado brasileiro, com potencial expansão em novas direções para o Norte. “A especialização e a intensificação das produções animal e vegetal serão crescentes em todas as regiões. Haverá maior contribuição desses sistemas para elevar a produtividade de forma sustentável, aumentando a oferta de alimentos, fibras e bicombustíveis no mercado interno, além da diversidade da pauta de exportações”, detalha o relatório da Emprapa.

Cuidados sociais são fundamentais para o protagonismo em agro

A disponibilidade de mão de obra no campo é outro desafio e as tendências indicam uma queda desse fator, decorrente não somente da tendência de concentração da riqueza, que limita as oportunidades sociais, mas também pela busca por melhores oportunidades nas cidades, especialmente pela população mais jovem. Essa lacuna deve ser fortemente endereçada pelo setor, caso queira, de fato, consolidar o protagonismo em agro do Brasil, segundo a Embrapa. 

Por outro lado, há megatendências menos preocupantes, como a possibilidade de mais estudos envolvendo análises de paisagens e biomas, assim como a integração de dados agrícolas com aspectos sociais, econômicos, ambientais, mercadológicos, de infraestrutura, de logística e de armazenamento.

Agregação de valor faz parte do processo de protagonismo

A já citada sustentabilidade não só faz parte da lista de temas recorrentes na agricultura, como deve se manter no radar por meio de iniciativas que vão desde a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) até a diminuição das taxas de desmatamento, passando pela maior adoção de sistemas agropecuários intensivos de baixa emissão de carbono e a recuperação de áreas degradadas. “Será necessário amplificar estudos, análises e zoneamento das potencialidades e vulnerabilidades ambientais e socioeconômicas nos diferentes biomas para o crescimento da agricultura no Brasil, com base na oferta de água e insumos”, destaca o relatório.

Outro ponto que precisa estar nos corações e mentes do setor é a agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas. Entre outras coisas, isso diz respeito ao desenvolvimento de alimentos e bebidas baseados em nichos de mercado, como funcionais, fortificados, reduzidos ou isentos de açúcar, sódio e gorduras trans. “Além da nutrição, o alimento ganhará novos espaços, como seu poder de socialização, prazer sensorial e experiência cultural. Produtos com novas funcionalidades, comercialização diferenciada, terroir ou regionalidade de bebidas, queijos, embutidos, polpas, frutas e doces tendem a gerar cada vez mais empregos e renda no meio rural”, detalha o relatório.

O poder impulsionador do digital

O futuro protagonismo em agro do Brasil passa ainda por um protagonismo anterior, o dos consumidores. Num mundo altamente digitalizado, o compartilhamento de informações é a tônica. 

Os especialistas da Embrapa destacam o avanço de mídias sociais e das plataformas de comércio eletrônico como impulsionadores de grandes transformações no relacionamento, na interação e na comunicação entre produtores, comerciantes e consumidores. “Cadeias produtivas serão mais valorizadas por causa da inclusão dos diferentes grupos sociais de produtores tradicionais e da incorporação de novas responsabilidades em seus negócios, tanto em termos de compliance, quanto pela capacidade de executar e comunicar práticas empresariais ambientalmente corretas e socialmente mais justas”, destaca a Embrapa.

O potencial do Brasil como protagonista mundial da agroindústria, como mostra o relatório da Embrapa, passa pela continuidade nos avanços das megatendências em curso. E o futuro, na verdade, é agora, já que o mundo terá de alimentar 2 bilhões de pessoas adicionais até 2030.