Da esquerda para a direita: Carlos Hirsch, Almir Araújo, Tomás Dandrea Balistiero, Gregory Riordan e Frederico Logemann (Foto: Reprodução/ Twitter World Agri-Tech)
digitalizacao de fazendas
Da esquerda para a direita: Carlos Hirsch, Almir Araújo, Tomás Dandrea Balistiero, Gregory Riordan e Frederico Logemann (Foto: Reprodução/ Twitter World Agri-Tech)

Digitalização de fazendas é desafio econômico

Especialistas destacam uso da tecnologia, mas lembram da importância do retorno sobre o investimento

Redação

em 30 de junho de 2023


A adoção de tecnologias digitais nas fazendas é bem-vinda, mas ela também precisa ter retorno de investimento (ROI), ou seja, precisa fazer sentido do ponto de vista econômico. Essa é a avaliação dos especialistas reunidos no painel A fazenda digitalizada: aumentando a escala e a adoção de soluções agrícolas inteligentes, que aconteceu na edição 2023 do World Agri-Tech South America Summit, em São Paulo, entre 20 e 21 de junho.

Coordenado por Carlos Hirsch, diretor da startup EIWA, o encontro contou com a participação de Almir Araújo, diretor da área digital da Basf Agricultural Solutions, Gregory Riordan, diretor da CNH Industrial da América do Sul, Frederico Logemann, Head of Innovation & Strategy da SLC Agrícola, e Tomás Dandrea Balistiero, diretor de Operações da Citrosuco.

Uma fazenda digitalizada utiliza tecnologias avançadas, como sensores e dispositivos de rastreamento, para melhorar o bem-estar e a gestão dos animais. Isso inclui monitoramento do comportamento, saúde e localização, permitindo um gerenciamento eficiente, detecção precoce de doenças e práticas de alimentação otimizadas, resultando em criação mais sustentável.

Araújo, da Basf, explica que o uso de tecnologia no campo precisa ter resposta curta. “A solução tem que fazer sentido do ponto de vista agronômico e do ponto de vista econômico, porque se você tem algo que não faz sentido para o fazendeiro, ele não vai usar”, resume. Qualquer implementação, segundo o executivo, deve ser antecipada por testes antes de um lançamento comercial e ter uma abordagem correta. Outro aspecto levantado pelo especialista é a integração com os equipamentos operacionais da fazenda. A necessidade de ser facilmente conectável, segundo ele, é mandatória, o que significa que é preciso ainda um suporte interno para viabilizar o processo.

“Se você combinar essas coisas, você terá soluções que podem gerar valor real no final do dia. Também é importante considerar questões fundamentais como o entendimento das estações da safra, onde você vai atuar, por exemplo”, complementa.

Já Balistiero, da Citrosuco, lembra que o investimento em tecnologia é similar ao que fazem os chamados venture capitalists em relação às startups. No caso do mercado agro, ele acredita que o processo pode envolver o que ele chama de retorno de investimento atrasado.

“Quando começamos a investir em startups, as coisas dão errado antes de serem construídas. E quando começamos a investir em transformação digital, o que significa soluções para nossa operação, percebemos que o dilema envolve o entendimento do processo e o potencial da tecnologia”, explica. “E inclui perceber que, no início, você cometerá erros e isso faz parte do próprio processo de aprendizagem”, complementa o diretor da Citrosuco. Balistiero ressalta também que o desafio é descobrir como potencializar a migração tecnológica no futuro.

Esse ponto de vista é compartilhado por Riordan, da CNH. “Como fabricante, temos um variado segmento de clientes, com empreendimentos grandes e também com pequenos agricultores que têm 100 hectares ou até menos. Portanto, acho que o principal, quando falamos sobre tecnologia e digitalização, é simplificar. Esta é a chave”, detalha. “E provavelmente é a maior barreira à entrada e ao sucesso porque, às vezes, complicamos demais”, complementa o executivo.

Na opinião do diretor da CNH não basta ter ferramentas legais ou ícones bonitos, mas também é necessário agregar recursos que ajudam a tornar a conectividade simples. O aspecto técnico, no entanto, precisa ser acompanhado do entendimento cultural da digitalização. Para ele, a transformação digital não é um projeto e sim uma jornada. “E a jornada exige visão. Para uma grande corporação isso talvez seja mais fácil, mas para formar a visão de um produtor menor não seja tão simples”, argumenta.

Riordan também avalia que é necessário convencer os produtores a experimentar novas soluções e que pode haver erros no meio do caminho. Ao explicar o conceito de jornada  – e não de projeto – o especialista acredita que é possível avançar até que se obtenha o sucesso na adoção tecnológica.

Para Logemann, da SLC Agrícola, a transformação digital é um tripé que envolve tecnologia, pessoas e processos. “Isso é o que discutimos na empresa, porque não somos uma empresa agrícola comum e sim uma operação agrícola maior do que a média. Portanto, a maneira como testamos, validamos e escalamos tecnologias é um pouco diferente do que você encontraria em uma empresa média no Brasil”, explica.

Segundo ele, uma das singularidades da SLC é ter uma espécie de área central de inteligência, um departamento aberto com mais de 40 pessoas que lida com todas as camadas de software e hardware que a corporação adota. “E, claro, que calcula os benefícios e mostra os resultados para as pessoas”, complementa. Na avaliação do executivo, é importante ter um provedor de tecnologia que diz ao agricultor que a solução funciona e tem um preço razoável, mas é necessário que o produtor também entenda como funciona.

“Se existe tecnologia e vontade das pessoas para aprender, vai ter o processo. Portanto, é claro que não é um problema fácil de resolver. No nosso caso, tivemos que desenvolver nossa própria equipe. E temos recursos para isso. Mas se você for baixar na cadeia de aplicativos, precisará de soluções diferentes para outras situações”, finaliza.