Em experimento, cientistas conseguem cultivar plantas em solo lunar

Vegetais da espécie Arabidopsis foram cultivados em pequenos recipientes e se desenvolveram de acordo com a qualidade do solo lunar captado durante expedições ao espaço

Redação

em 4 de julho de 2022


Pesquisadores da Universidade da Flórida conseguiram cultivar plantas em solo lunar pela primeira vez. O feito, divulgado em maio de 2022 no periódico Communications Biology, utilizou apenas 12 gramas de solo lunar coletado pela NASA durante suas missões Apollo. Como era pouca “terra”, os cientistas utilizaram potes do tamanho de um dedal, com um grama de solo lunar em cada. Eles também usaram soluções para nutrir o solo e sementes da planta Arabidopsis.

Como parte do estudo, os pesquisadores plantaram a mesma planta em solos diferentes, para criar um grupo de controle do experimento. Foram utilizados para a comparação o solo JSC-1A, uma substância terrestre que imita o solo da Lua, o solo de Marte e solo terrestre de ambientes extremos.

Segundo os cientistas, houve diferenças entre as plantas cultivadas em solo lunar e no grupo controle. Eles apontaram que os espécimes de solos lunares eram menores, cresciam devagar ou tinham uma variação maior em tamanho.

A hipótese é de que as diferenças estejam ligadas ao local onde o solo foi coletado na Lua. Como o satélite natural praticamente não tem proteção atmosférica, ele está exposto às intempéries do espaço, como ventos cósmicos. O solo que recebeu esse tipo de ação é chamado de “solo lunar maduro” pelos cientistas e as plantas cultivadas nele apresentaram pior desenvolvimento. Em contrapartida, solos lunares menos agredidos se mostraram melhores para o cultivo.

 Por que cultivar no espaço?

A cientista Daniella McCahey, professora assistente de história no Texas Tech University, aponta que descobrir como cultivar alimentos no espaço é uma parte importante de um esforço maior para demonstrar a viabilidade da habitação humana em ambientes extraterrestres, mas não apenas isso.

Em um artigo publicado pela Fast Company Brasil, ela diz que estudos como esse ajudaram a entender os desafios da agricultura em ambientes extremos.

Foi a partir da década de 1960 que cientistas começaram a pensar na Antártica como um análogo conveniente para a exploração espacial, onde os países podiam testar tecnologias e protocolos espaciais, incluindo o cultivo de plantas. Mas foi apenas nos anos 2000 que o espaço se tornou o objetivo principal de algumas pesquisas agrícolas na Antártica.

Como resultado, hoje é possível um cultivo, mesmo que limitado, de plantas na Antártica.

A especialista destaca que não é possível cultivar alimentos na Antártica sem uma estufa preparada para o ambiente e, graças a esse entendimento, desde 2015 os pesquisadores que trabalham no Polo Sul podem comer vegetais frescos no inverno, afinal, as equipes de pesquisa dependem de mantimentos enviados de fora e que chegam apenas no verão. “(Eles) consideraram isso algo excelente para seu bem-estar psicológico”, diz ela.

Assim como os cientistas na Antártica, a NASA confirmou que o valor nutricional e psicológico de produtos frescos é “uma solução para o desafio de missões de longa duração no espaço”.

Daniella ainda diz que a questão de como cultivar plantas é central para qualquer discussão sobre possíveis colônias humanas na Lua ou em Marte.