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Insegurança alimentar atingiu 6 em cada 10 domicílios brasileiros

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional mostram que apenas 41,3% dos domicílios têm segurança alimentar no país

Redação

em 14 de abril de 2023


Os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil mostram um cenário sensível: 30,1% dos domicílios estariam com um quadro de insegurança alimentar grave e 28% com insegurança alimentar leve. O primeiro caso envolve a restrição quantitativa aos alimentos, sendo que 15,5% dos domicílios enfrentava a fome. A insegurança leve, por sua vez, indica domicílios brasileiros com incerteza quanto ao acesso aos alimentos, além da qualidade da alimentação já comprometida.

De acordo com o relatório publicado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, apenas 41,3% dos domicílios estavam em situação de segurança alimentar. Publicado em 2022, o documento foi baseado na amostra de 12.745 domicílios, com entrevistas face a face de uma pessoa adulta. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2021 e abril de 2022, com a utilização de questionário contendo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), em sua versão de oito perguntas. 

Contextualizado em termos populacionais, o documento mostra 125,2 milhões de pessoas residentes em domicílios com insegurança alimentar (IA) e – mais preocupante ainda – cerca de 33 milhões em situação de fome (IA grave). 

“A desigualdade de acesso aos alimentos se manifesta com maior força em domicílios rurais, 18,6% dos quais enfrentando a fome em seu cotidiano. Em termos geográficos, 25,7% das famílias em IA grave residem na região Norte; 21,0%, no Nordeste”, detalha o relatório. 

Os responsáveis pelo levantamento apontam ainda que a IA está também diretamente relacionada a outras condições de desigualdade. A fome, por exemplo, está presente em 43% das famílias com renda per capita de até 1/4 do salário mínimo, e atinge mais as famílias que têm mulheres como responsáveis e/ou aquelas em que a pessoa de referência (chefe) se denomina de cor preta ou parda.

Os pesquisadores destacam ainda a coexistência da insegurança alimentar com a insegurança hídrica, medida pela Escala de Experiência Domiciliar de Insegurança Hídrica (EDIH). O ponto de conexão entre os dois problemas mostra que 42% das famílias em situação de insegurança hídrica também estão sujeitas à fome. 

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Na avaliação dos especialistas, o quadro de insegurança alimentar foi agravado pela conjunção entre a progressiva crise econômica, a pandemia e o desmonte das políticas públicas que poderiam minimizar o impacto tanto da insegurança alimentar quando da insegurança hídrica.

“Mesmo o Auxílio Brasil, vigente no período do Inquérito, não mitigou a grave situação social do povo brasileiro, uma vez que a fome ainda estava presente em 21,5% dos domicílios das famílias que solicitaram e conseguiram receber o benefício deste programa social”, detalha o Inquérito. O agravamento dos níveis moderado e grave de insegurança alimentar é outra constatação, uma vez que, entre o último trimestre de 2020 e o primeiro de 2022, a IA grave subiu de 9% para 15,5%, “incorporando, em pouco mais de 1 ano, 14 milhões de novos brasileiros ao exército de famintos do país”. 

Na avaliação dos autores do relatório, a piora da insegurança alimentar repercute as desigualdades sociais que resultam de processos econômicos e políticos, com destruição de instituições e políticas públicas, desde 2016. 

“As evidências aqui colocadas apontam a amplitude dos desafios e a necessidade de uma agenda de reconstituição das instituições públicas e de reorientação das estruturas econômicas, políticas e sociais no Brasil”, destaca o documento.