Mais resistentes ao calor, bois têm recursos contra mudança climática
Raças zebuínas, como Nelore, passaram por melhoria genética para ser as mais resistentes contra altas temperaturas
Ser resistente a altas temperaturas será um diferencial para o gado nos próximos anos. Raças mais adaptadas ao meio ambiente não só passam por menos estresse ao longo da vida, como também emitem menos CO2 e engordam mais.
No Brasil, o boi zebuíno é destaque quando se fala em conseguir suportar altas temperaturas. A raça nelore, que está presente em 80% da produção da pecuária de corte nacional, é um exemplo de animal que consegue se adaptar a climas secos e quentes. A genética já cria formas de repassar essa capacidade para outros animais.
Boi resistente ao calor: o que acontece quando a temperatura aumenta?
Para entender porque ser resistente ao calor é importante, primeiro é necessário entender como os bois reagem ao calor extremo. E é um estresse que ocorre em vários graus.
Ser capaz de aguentar altas temperaturas é também importante para manter o bem-estar do animal.
A temperatura interna dos bois já é alta sem ajuda do clima: alternando entre 38,5°C e 39,5°C. Ou seja, o animal já é quente. Algumas pesquisas mostram que a temperatura ambiente de conforto para o gado alterna entre 25°C e 35°C. Quando há mais calor, a tendência é que os animais reduzam entre 3% e 5% o consumo de matéria seca (o que influencia na fase de engorda.
Há um aumento de frequência respiratória dos bois durante o calor, o que aumenta a quantidade de CO2 produzido por cada animal. Nas fazendas, o gráfico de Pangint é usado para exatamente medir esse conforto respiratório – e ligar ao ambiente. A escala vai de 0 a 4,5., sendo 0 a de conforto e a 4,5 é indicação de muito calor.
Nelore é destaque
Por ter uma pelagem curta e mais glândulas sudoríparas no corpo, o Nelore tem mais características que o ajudam a resistir ao calor. Até mesmo a coloração do pêlo, geralmente branca e com epiderme escura, facilita a adaptação ao calor, já que o branco reflete a radiação solar com mais facilidade do que as cores mais escuras.
Além disso, o trato digestivo do Nelore é 10% menor em relação aos europeus. Portanto seu metabolismo é mais baixo e gera menor quantidade de calor.
Pesquisa genética e os bois resistentes a calor
A raça ser mais conectada com o clima quente e seco não significa que ela não possa melhorar ainda mais. Cientistas brasileiro e australianos encontraram 16 genes que os Nelores têm que o tornam mais resistentes ao calor. Genes relacionados a respostas de regulação do metabolismo e função muscular, bem com a resposta inflamatória e imunológica.
“Estudamos a interação entre genótipo e ambiente em gado Nelore com o objetivo específico de identificar animais menos sensíveis à variação ambiental. Sempre existiu uma preocupação em melhorar a média da produtividade dos animais, mas agora é preciso também identificar aqueles mais resistentes às mudanças no clima”, diz o pesquisador Roberto Carvalheiro, em entrevista ao site A Lavoura.
Na pesquisa, Carvalheiro, no entanto, indicou que o ambiente influencia em quais genes são ativados e passos para frente. Em outras palavras: o Nelore pode ser resistente, mas não significa que ele não tenha estresse por calor ou condições adversas. Em momentos de mudança climática, observar os sinais de estresse dos animais é positivo para o bem-estar momentâneo e também para a manutenção dos bons genes da espécie.