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Mulheres na Pecuária: Maternidade desafia e inspira nos campos

Equilibrar o trabalho físico das fazendas com a presença em casa para os filhos é objetivo difícil de algumas Mulheres na Pecuária

Redação

em 3 de novembro de 2022


A maternidade entrou de vez na pauta da pecuária. Para as executivas e gestoras, isso significa a luta diária para aproximar os filhos da fazenda e a fazenda das mães. E equilibrar uma conta que, por muito tempo, ficou no negativo. O resultado é aquele que já se sabe quando se coloca mulheres no poder: elas dão conta. Mesmo.

Reproduzido por: Mari Silva

Um retrato desta força está no ocorrido no final do primeiro semestre deste ano no Mato Grosso: Mari Silva, veterinária e coordenadora de Pecuária da Amaggi, em frente à fazenda Itamarati, embarcou 1,2 mil gados em um único mês. E, detalhe: isso foi justo no último mês de gravidez. “Trabalhei até o último dia da gestação. Tenho até foto embarcando boi com a barriga de oito meses. Foi muito bacana, porque eu me senti muito bem. Estava mostrando para todos que sou mulher, sou mãe, mas não estou morta, estou vendendo saúde”, lembra Mari. 

A veterinária conta que passou parte da gravidez longe da fazenda, devido à pandemia, mas, assim que tomou a vacina, logo voltou para o campo.

Em parte porque tinha segurança para isso, com a evolução no bem-estar e na segurança do trabalho dentro do ambiente agro. Em outra parte, porque sentia falta de estar ali, onde a ação acontece. Esta exigência de estar presente é um dos impeditivos que muitas mulheres encontram quando cogitam seguir carreira para a área de agropecuária.

O campo ainda está se adaptando, conta Mari, que relembra sua primeira ação como gestora de fazenda há quase 10 anos: mandou construir um banheiro. A mão de obra ali era tão exclusivamente masculina, mas ainda não havia um sanitário feminino. Os uniformes também tiveram de ser modificados, já que eram feitos pensados apenas no biotipo masculino. Parecem detalhes, aponta Mari, mas são coisas que impactam no dia a dia do trabalho. “Eu sempre falo que no início é muito difícil, e depois fica mais leve. Mas a verdade é que a nossa caminhada toda é difícil”, diz ela. 

A coordenadora de pecuária, que já levou muito bezerro “no ombro” junto dos homens no campo, agora se vê em uma nova empreitada: ser mãe do Gabriel. O bebê tem um pouco mais de três meses e já está se mostrando como uma das tarefas mais complexas da sua vida. “A maternidade é o seguinte: é como você mudar de empresa e ir fazer algo que nunca fez antes, que não é a sua graduação, em um país que não fala a sua língua. Eles te jogam no Japão e falam “olha, você vai liderar essa área aqui”, brinca Mari. 

Uma hora na cidade, outra na fazenda

Diferente de Mari, a conexão de Cristiane da Rosa Ferreira com o campo veio depois de ela se tornar mãe. A  gestora da Fazenda Magnólia, no Rio Grande do Sul, tem um filho de 10 anos de idade e começou a liderar a fazenda que era de seu pai há três anos. A mudança foi radical na vida de Cristiane, que acabou aproximando o filho do meio rural.

Reproduzido por :Cristiane da Rosa Ferreira

Durante um ano, o mais pesado da pandemia, Cristiane se mudou para a fazenda com o pequeno, e, por lá, ele pode ganhar gosto pelos cavalos e também entrou em contato com os animais. Nesse meio tempo, Cristiane também se adaptou, e cresceu na gestão da fazenda, passando a entender de temas como melhoramento genético de bois e bem-estar de bovinos.

Logo depois que voltaram a morar na cidade, Cristiane e sua família saíram de vez do apartamento que ocupavam em Bagé. Por lá, eles procuraram uma casa, que apresentava um espaço maior e mais da liberdade que experimentaram na época que estavam na fazenda. 

Isso não quer dizer que o trabalho de Cristiane na Magnólia acabou. Pelo contrário: a executiva seguiu liderando a fazenda, só que tendo agora de educar o filho na cidade.  Atualmente, Cristiane se equilibra entre o campo e a cidade diariamente. Ela gerencia a fazenda e volta para a cidade no final do dia, em uma real jornada dupla. “Não dá para cansar, né? A gente tem de batalhar pelo espaço, para ser valorizada, para se validar. É árido!”, desabafa.

Segundo a produtora, os homens que têm cabeça aberta estão começando a entrar nesse mercado com a posição de ajudar ainda mais na criação de um novo futuro. E os filhos e filhas fazem parte disso. “Muitos desses pecuaristas têm filhas e eles já perceberam que são elas que vão gerenciar as fazendas no futuro”, afirma Cristiane.  

Quando as mães – e avós – inspiram

“A minha família é um matriarcado”, brincou Carolina Palmeiro, diretora e sócia das Estâncias São João e São João III. A paixão dela pelo campo veio herdada da avó, que liderava a fazenda da família com firmeza, atenção e cuidado. A visão para gerenciar os animais e a terra também vieram das mulheres da família.

Reproduzido por: Carolina Palmeiro

As mães foram sinal de força e de voz dentro do campo para Palmeiro. Nelas, ela via mais que a figura de liderança dentro de casa, mas também no campo. “A minha avó que era a chefe! Ela que mandava. Assim como a minha mãe, foram exemplos muito fortes em casa”, lembra Carolina.

A avó sempre nos ensinou algo muito importante: amar a terra, pois é dela que sobrevivemos. A história da família Palmeiro, e da sucessão, é um conto de como mulheres devem insistir em crescer no campo. Mas esse é um roteiro para  a próxima matéria do Especial Mulher na Pecuária, que vai falar sobre os desafios do legado no campo. Não perca!