S do ESG

O S, do ESG, deve avançar em 2022

As empresas estão em maior sintonia com as necessidades das sociedades, mostrando que o S, do ESG, é cada vez mais relevante

Roberto Francellino

em 6 de abril de 2022


A relação das empresas com a força de trabalho, o ambiente político e vários outros aspectos da sociedade é o que norteia as ações acerca do “S”, que compõe a sigla em inglês para responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG). A ideia não é nova: há mais de um século o fabricante de chocolates americano Milton S. Hershey já declarava que “as empresas prestam serviços aos seres humanos”, como resgatou a S&P Global em documento recente sobre o tema. A pandemia, contudo, potencializou a questão, evidenciando a interconexão necessária entre empresas e sociedade para o futuro do planeta e da própria humanidade.

Segundo a S&P Global, essa constatação tem estimulado o avanço do que é chamado de capitalismo de stakeholders, no qual as empresas atuam em maior sintonia com as necessidades das sociedades que atendem ou representam. Isso está fazendo com que o S, do ESG, passe de coadjuvante a protagonista, e esse movimento deve ser consolidado em 2022.

COP27 será naturalmente para o S, do ESG

A próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27), marcada para acontecer em novembro no Egito, por exemplo, deve ser, naturalmente, dedicada a demonstrar como as questões sociais são fundamentais para que a humanidade alcance a meta de eliminar a emissão de carbono equivalente até 2050. Afinal, por ocorrer na África, a COP27 evidencia que as populações mais pobres são as mais afetadas pelo aquecimento global, apesar de estarem nos países que menos poluem.

“A inclusão social, o combate às desigualdades e o racismo estarão na pauta do dia em 2022”, pontuou Tarcila Ursini, especialista no assunto e integrante de conselhos de administração de empresas, em uma reportagem do Capital Reset. “As empresas serão cada vez mais cobradas por práticas sociais responsáveis. Já não basta gerar emprego e renda: é preciso inserir-se de fato no contexto social”, salientou.

Empresas já identificaram importância do S, do ESG

De modo geral, o que a especialista pontuou na reportagem acima explica como os investidores sustentáveis tentam minimizar o risco que os fatores sociais representam para os retornos financeiros nos negócios e, na prática, isso faz com que as empresas com ações e direcionamentos sólidos para o S, do ESG, tenham preferência de aportes em relação às que não têm esse direcionamento.

Não por menos, a quantidade de empresas ampliando as ações de diversidade e inclusão social em suas metas corporativas cresce a cada dia. 

O grupo Gerdau, por exemplo, se tornou referência ao atrelar os bônus dos executivos ao cumprimento de metas ESG. Em detalhes, 20% do valor dos bônus de longo prazo – que são incorporados à remuneração variável dos executivos – ficaram condicionados ao cumprimento das metas ESG, entre as quais está o preenchimento de 30% do quadro de colaboradores com mulheres até 2025.

Em entrevista ao hub de conteúdo da Fundação Dom Cabral, o Seja Relevante, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, explicou que a inclusão racial é outra frente de atuação da companhia, principalmente para ter negros em cargos de liderança. 

“O trabalho com colaboradores negros é no sentido de visibilidade profissional e planejamento de carreira. Assim, mais que esperar uma ascensão natural de colaboradores negros para cargos de liderança, ampliamos a participação de negros em todos os programas internos de formação de líderes e investimos em ações afirmativas”, disse na entrevista.

Em um movimento mais amplo – criado após o episódio de espancamento e morte do homem negro João Alberto Silveira Freitas no estacionamento de um supermercado no final de 2020 – 47 empresas, entre as quais a Marfrig, criou o movimento Mover, com o inuito de elevar 10 mil pessoas negras aos cargos de alta liderança das empresas até 2030.Movimentos como esses foram avaliados pela S&P Global, que identificou 2 mil estudos sobre o impacto de considerar o ESG nos investimentos. A conclusão de mais de 90% desses estudos foi de que a adoção de técnicas ESG levam a retornos financeiros médios ou acima da média. “E, levar em consideração as preocupações sociais ao investir, especialmente como parte de uma estratégia abrangente de investimento ESG, pode proteger os investimentos”, pontuou a consultoria.