Possível agricultura em Marte pode mudar alimentação na Terra

A colonização hipotética de Marte pode trazer lições valiosas para a agricultura na Terra, segundo as pesquisadoras canadenses Lenore Newman e Evan Fraser. De acordo com elas, até o momento muito se pensou sobre como os astronautas comem, mas estaríamos apenas começando a produzir alimentos no espaço. Ou seja, a agricultura espacial está dando seus primeiros passos de fato.

“Com o desejo crescente de estabelecer uma presença humana no espaço, teremos que pensar na produção de alimentos fora do nosso planeta. Os desafios são vastos, exigindo pesquisas sobre como as plantas respondem a uma variedade de mudanças, incluindo gravidade e radiação”, argumentam as duas em artigo para a revista Fast Company.

Mudança de mentalidade é a chave para combater o desperdício

As especialistas falam com propriedade, pois são autoras do livro Dinner on Mars (Jantar em Marte, em tradução livre). Na obra, elas trazem discussões interessantes como a presença das cianobactérias, muitas vezes chamadas de algas verde azuladas. Em Marte, elas seriam a base dos sistemas alimentares, ao lado da água coletada do solo. É o contrário da Terra, onde as cianobactérias podem ser um grande problema, pois crescem em cursos de água poluídos.

De acordo com as duas, as cianobactérias são capazes ainda de crescer nas condições encontradas em Marte, o que traz o benefício real de neutralizar produtos químicos extremamente tóxicos que estão espalhados por todo o regolito do planeta – a camada de rochas soltas e de poeira que cobre o leito rochoso.

Marte pode ser ainda um espelho para a Terra, na medida que uma possível agricultura naquele planeta teria que aproveitar cada grama de matéria orgânica, mililitro de água e fóton de energia solar. Por serem escassos, não poderia haver ineficiências. E mais: produtos residuais de uma parte do sistema precisariam ser aproveitados como insumos para outra parte. As cianobactérias mortas seriam utilizadas como meio de crescimento para os estágios seguintes da produção de alimentos, entre outras coisas.

“Porém, mais do que as próprias tecnologias, é a mentalidade por trás da tarefa de construir um sistema alimentar marciano que pode mudar a forma como as coisas são feitas aqui na Terra, onde um terço de toda a comida é jogado fora”, destacam as duas pesquisadoras.