compassion in world farming

Agropecuária pode ser parte da solução da mudança climática

Gerente sênior de Compassion in World Farming, Rubia Campi Soares, explica que a produção animal que preza pelo bem-estar animal é essencial para o meio ambiente

Redação

em 6 de outubro de 2022


Emitir menos carbono, regenerar o meio ambiente e elevar o bem-estar dos animais, são as ações que as principais autoridades e países procuram quando falam de economia sustentável. São essas contribuições que a agropecuária pode trazer para a economia, argumenta Rubia Campi Soares, gerente sênior da ONG Compassion in World Farming.

Rubia Campi Soares

A Compassion in World Farming é uma organização que faz campanha para a expansão de ações de bem-estar de animais de produção. A ONG também defende a adoção de práticas que viabilizem um sistema alimentar mais humano, resiliente e sustentável, que não faça uso de confinamento intensivo . “Temos possibilidades e formas de colocar em pé um sistema em que a agropecuária seja parte da solução”, comenta Soares. 

 “A rota para a sustentabilidade passa por práticas regenerativas e que ajudam a reverter o problema. A mudança não virá por meio de sistemas de produção intensivos ou industriais”, diz a executiva.

Apoio para os pequenos produtores para integrar quem participa da cadeia, além de focar na produção sustentável, com adoção de princípios regenerativos – ou seja com mínima perturbação do solo, manutenção da vegetação local, mínimo uso de insumos químicos artificiais e com integração de animais ao sistema como um todo – são passos essenciais para a agropecuária se tornar mais do que carbono zero. 

Foco no bem-estar animal 

A prioridade do setor deve recair no bem-estar do animal que está sendo produzido, explica Rubia. E isso significa olhar para a vida toda do animal. “Existe um individualismo a ser endereçado quando se faz produção animal. É preciso pensar em tudo que vem antes do abate. Não só verificar que essa parte do processo seja feito com um mínimo estresse possível, mas entender que esses animais merecem ter uma boa qualidade de vida, não apenas livre de sofrimento, mas também com experiências positivas. É nossa responsabilidade ética e imperativo moral e todos temos um papel a desempenhar.”, disse Rubia.

No caso da produção bovina questões como a quantidade de sombras, o manejo adequado dos animais, bem como se há espaço para ele se movimentar precisam estar na agenda de todos do setor, desde grandes empresas até os produtores rurais. “Os produtores percebem quando os animais estão menos estressados e mais felizes, os animais interagem mais e a produção acaba sendo melhor”, diz a executiva.

Pastar é natural

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Respeitar o bem-estar do animal também é entender a natureza dele. “A pergunta que tem que ser respondida pelos produtores é: se aquele animal estivesse na natureza, como ele agiria? No caso dos bovinos, eles iam explorar e pastar. Além de formar grupos sociais, bovinos interagem bastante em grupos. A produção bovina precisa olhar para a isso”, comenta Rubia.

A executiva lembra que vacas, por exemplo, são tão sociáveis que até mesmo escolhem grupos de “melhores amigas”, animais com que interagem diariamente. O sistema de produção tem que absorver e dar respostas boas a essas atividades. “Ele tem a oportunidade de expressar o comportamento natural dele de pastar? Tem acesso a sombra? Acesso a água fresca? Entre outras perguntas”, disse. 

Compreender como os animais sentem e enxergam, por exemplo, é uma ajuda para se certificar que eles terão o mínimo de estresse. “É preciso pensar em sistemas de enriquecimento para o ambiente. Galinha precisa de poleiro, gado precisa de sombra, espaço para se coçar, não tem como fazer bons lugares para esses bichos ficarem sem pensar nisso: no que aquele indivíduo precisa”, acrescentou a executiva, que também é Zootecnista.

Regenerar é inovar

Novas formas de criar animais e produzir carnes passam pela tecnologia, mas têm também um quê de “volta às raízes”, diz Rubia. “A inovação não é um aplicativo novo, não é um Uber de sustentabilidade. Na área de produção de alimentos, na verdade, a inovação pode ser ter que dar um passo para trás, e procurar modos que fazendas produziam no passado, voltar às práticas de agricultura regenerativa, deixar o animal voltar para o pasto”, disse a executiva.

Dar um passo “para trás” ganha um novo significado quando se olha o que ocorreu na Tailândia após o projeto da Hilltribe Organics. A empresa distribuiu 700 galinhas para moradores em situação de fragilidade econômica, conhecidas como “hill tribes”, tribos que moram nas montanhas. O resultado foi a produção de ovos orgânicos num sistema regenerativo.