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Desperdício de alimentos ainda é realidade nas empresas

Estudo revela que quase a totalidade do setor alimentício brasileiro ainda descarta comida no lixo, apesar de milhões passarem fome no país

Redação

em 24 de julho de 2023


Cerca de 30% da produção global de alimentos passam por desperdício, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), levantados em parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Esse percentual equivale a 1,3 bilhão de toneladas de comida que vão para o lixo anualmente, num cenário em que milhares de pessoas passam fome e insegurança alimentar

No Brasil, 33 milhões vivem nessa condição. O país está no topo dos dez que mais desperdiçam alimentos no mundo. Na prática, são R$ 1,3 bilhão em frutas, legumes e verduras jogados no lixo, todo ano.

Essa realidade contraria o que a ONU prevê no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS). A meta é acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e aquelas em situações vulneráveis, a alimentos seguros e nutritivos. Já o compromisso do Brasil é, até 2030, erradicar a fome e garantir o acesso a alimentos seguros, culturalmente adequados e saudáveis. 

É possível evitar o desperdício?

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Foto: Freepik

Estudo inédito produzido pela MindMiners e pela Nestlé – “O alimento que jogamos fora – causas, consequências e soluções para uma prática insustentável” – corrobora o problema do desperdício no país. Do total de empresas entrevistadas, 96% informaram descartar alimentos. Entre elas, mais da metade, 54%, respondeu que essa é uma realidade frequente. A intenção do levantamento foi analisar como as empresas e a população podem mudar seus hábitos para evitar o desperdício. 

A visão da diretora executiva de Business Transformation da Nestlé Brasil, Bárbara Sapunar, é de que a redução do desperdício de alimentos significa também economia de recursos e de energia, além da diminuição da emissão de gases de efeito estufa associados à produção. Ela cita ainda os efeitos sociais. “O alimento tem o poder de transformar vidas, assim como de causar impactos significativos ao meio ambiente”, afirma a executiva. 

Outro dado revelado pelo estudo é de que 66% das empresas ou colaboradores do ramo alimentício e 75% das pessoas acreditam que a responsabilidade pela redução do descarte deveria ser da população. No entanto, a maior parte do desperdício não provém dos consumidores finais. 

“É uma conta que não fecha e esse debate precisa ocupar cada vez mais esse espaço. É claro que a população também deve ser conscientizada, afinal, uma parte do desperdício também ocorre nas casas. Mas o volume diário de comida preparada e processada em uma única empresa no ramo alimentício é muito maior do que em uma casa com três ou quatro pessoas. Há muito o que ser feito pelas empresas nesse sentido”, diz a coordenadora de Insights da MindMiners, Juliana Tranjan. 

Ela avalia que a doação de alimentos seja uma forma de reduzir o desperdício. No entanto, o estudo demonstrou uma queda de 80% nas doações de alimentos no Brasil, em 2022, comparado a 2020. “ONGs dizem que pessoas e empresas deixaram de doar após o pico da pandemia, mas a fome e a insegurança alimentar ainda persistem”, destaca Tranjan.