Alessandra Farina Bergmann (Foto: Divulgação)
jeito feminino de fazer agronegocio
Alessandra Farina Bergmann (Foto: Divulgação)

“O jeito feminino de fazer agronegócio é inteligente e intuitivo”

A jornalista e apresentadora Alessandra Farina Bergmann explica como as características femininas fazem diferença para a evolução de setor no Brasil e no mundo

Redação

em 22 de fevereiro de 2024


Segundo estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em conjunto com a Embrapa e o IBGE, as mulheres administravam cerca de 30 milhões de hectares no país em 2022. Ao todo, mais de 1 milhão de mulheres estavam à frente de empreendimentos no campo, até então. Apesar de importante, este volume é baixo, diante do peso do agronegócio na economia brasileira: em 2023, o setor representou mais de 24% do PIB, de acordo com a Cepea e a CNA.

O avanço do “jeito feminino de fazer agronegócio” é a proposta da jornalista e apresentadora Alessandra Farina Bergmann. Mentora de cursos e também palestrante, ela conquistou, por dois anos consecutivos, o título de Jornalistas Mais Admiradas do Agronegócio Brasileiro. Também foi correspondente em missões internacionais do agro e, atualmente, é comentarista televisiva sobre o setor no SBT. Nesta entrevista exclusiva ao Prato do Amanhã, Alessandra conta como essa experiência tem apoiado tanto a diversidade feminina no campo quanto a incorporação das características naturais das mulheres para a promoção do agronegócio brasileiro. Acompanhe.

Como é a sua relação com o agronegócio? 

Eu sou neta de pequenos produtores rurais do sul do Brasil, então vivi o agro desde a infância. Fazer parte deste meio e conhecê-lo bem, abriu muitas portas no jornalismo. Quando comecei, falar de campo e lavoura era para poucos. Mais difícil ainda era traduzir o que acontecia no campo para falar ao grande público. Então acabei me tornando uma das precursoras nessa aproximação do agronegócio com o jornalismo. Inclusive, ganhei alguns prêmios nacionais em reportagens por conta disso.

Pode contar um pouco mais sobre a sua carreira?

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Foto: Reprodução/ Perfil no LinkedIn de Alessandra Bergmann

Eu fui, por um bom tempo, coordenadora de comunicação de uma empresa de capacitação nacional no Agro. Depois voltei à TV, no SBT, como jornalista especializada e, hoje, sou comentarista do setor na emissora. Também apresento e produzo o programacast Campo e Batom, um canal de conexão com as mulheres rurais brasileiras no qual, semanalmente, trazemos uma entrevista que agregue na vida delas. Eu vivi em casa as dificuldades no dia a dia de minhas matriarcas, que tinham o próprio negócio, ganhavam o próprio dinheiro, mas não tinham voz. Muitas vezes isso ocorria porque elas não sabiam ao certo qual o eram os seus papéis e os seus valores naquilo tudo. Isso acontece ainda hoje, com milhares de mulheres rurais. Nesse sentido, sinto que posso auxiliar na evolução de cada uma delas. 

E você faz isso através do Campo e Batom?

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Foto: Reprodução/ Campo e Batom via Facebook

O Campo e Batom é uma marca forte para representar a mulher rural brasileira.

A partir daí, essa conexão foi ampliada para cursos e treinamentos que fazem a virada de chave em suas vidas. Foi assim que nasceu o curso “Jeito Feminino de Fazer Agronegócio”, que já impactou centenas de mulheres. Também criamos a “Pare de Se Defender e Seja Admirado”, uma palestra que provoca produtores e produtoras a enxergarem valores e emoções que precisam ser falados.

Como as mulheres podem se posicionar nesse setor, que ainda é predominantemente masculino?

jeito feminino de fazer agronegocio

Eu costumo dizer que as mulheres rurais devem investir em autoconhecimento, antes de qualquer coisa. Elas são privilegiadas por estarem mais próximas da grande sala de aula, que é a natureza, elemento pelo qual a humanidade está cada vez mais se afastando e necessitando resgatar. O autoconhecimento também passa por entender valores pessoais, fator essencial que impacta em  todos os outros campos da vida. Compreendermos que somos a “comissão de frente” de uma nova era para o feminino no mundo. Pela primeira vez, estamos podendo reunir ideias, construir ações em comum e aplicar a inteligência feminina sem precisar ser julgada, ou até queimada, como muitas mulheres foram no passado.

Características naturalmente femininas, como a adaptabilidade, são válidas nesse contexto?

Com certeza. Um dos grandes desafios das mulheres no agro é a multifuncionalidade, de forma que a maioria delas precisa administrar a casa, a propriedade, a família, os filhos, etc. Por isso, a adaptabilidade é naturalmente uma das características da inteligência feminina, assim como a criatividade, empatia, o compartilhamento e, a mais importante, no meu ponto de vista, a intuição. É importante se adaptar, desde que essa adaptação não tenha como moeda de troca eliminar outros valores da inteligência feminina. 

Como assim?

É preciso olhar para os nossos valores, e, principalmente, elegê-los como inegociáveis. Já entrevistei muitas mulheres, e a maioria negociou valores que traziam alegria, prazer, aconchego. Eu mesma fiz isso. Isto acontece nas coisas cotidianas da vida, como parar de tocar um instrumento depois que casou, nunca mais dançar depois que perdeu alguém querido, desistir de aprender algo que não tem nada a ver com seu trabalho atual. As mulheres sempre foram criadas para agradar a alguém. Mas hoje vivemos a primeira geração consciente que pode eleger seus valores como inegociáveis e avançar no jeito feminino de fazer agronegócio.

E como é o jeito feminino de fazer agronegócio?

Foto: Reprodução/ Site de Alessandra Bergmann

Primeiro eu afirmo que ele é o pedido que o planeta está fazendo. O jeito feminino de fazer agronegócio embute sustentabilidade, tecnologia e conexão com a terra. Veja: esses são valores do mundo feminino até nas palavras. Homens e mulheres precisam colocar em prática a inteligência feminina e, assim, equilibrar tudo. Na palestra “Jeito Feminino de Fazer Agronegócio”, a ideia é mostrar como alimentamos esses valores para que eles se manifestem nos negócios.

Em sua palestra, você fala bastante sobre a inteligência feminina nos negócios. Pode explicar melhor?

Ao longo do tempo, as mulheres precisaram se “masculinizar” para ter reconhecimento e respeito nas negociações. E isso causa um desequilíbrio que reverbera em todos os pontos da vida.  A inteligência feminina tem características únicas, como a intuição. Esta é uma voz interior, que ao longo dos anos o ser humano passou a ignorar por não ter comprovação científica. Porém, sabemos que, historicamente, isto trouxe vitória a reis na antiguidade e, já na atualidade, gerou negócios prósperos para muitos que a escutaram. 

Para o futuro das novas relações para o agro, o setor precisa olhar, praticar e usar mais a inteligência feminina. Essa é uma das questões-chave e é por isso que eu falo tanto sobre isso nas palestras, onde destaco os valores que fazem alimentar essa inteligência. Essa questão está ligada à se observar e, assim, buscar o conhecimento do que deu certo, sem perder tempo com o que pode dar errado. Enfim, é preciso ouvir a intuição, e principalmente, aprender a dominar suas forças. Nos últimos 300 anos, só o que passou a ser lógico e cientificamente comprovado passou a ter valor, principalmente para empresas, profissões e negócios. No agro, isso pode ser diferente. 

Como as tecnologias digitais estão, ou podem estar, atreladas à presença feminina no agronegócio?

As tecnologias digitais servem como um grande palco para mostrar o agro brasileiro para o mundo. O setor ainda conversa pouco com o consumidor e prova disso é que pessoas que não são do setor opinam e criam novas “verdades” sobre o agro constantemente. As mulheres são as porta-vozes do óbvio, do que acontece, de fato, no agro. É preciso falar o básico, o óbvio, o simples…, enfim: a vida como ela é. É assim que se promove o entendimento. Mulheres têm o dom do ensino, a grande habilidade de mostrar e a paciência de entender. Esse dom se revela nas mães e o agro está precisando usar isso ao seu favor. O digital é o canal de aproximação dessa informação óbvia. E esse movimento precisa ser constante.