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Terceira geração vê agro diferente e evoluído

Para a pecuarista Laura Aufiero, os investimentos em sustentabilidade e inovação são diferenciais no agronegócio

Redação

em 6 de setembro de 2023


Zootécnica em formação, Laura Aufiero é a terceira geração de uma família pecuarista com fazendas no Mato Grosso e em São Paulo. Hoje, junto com sua mãe, ela está à frente da administração das fazendas nos dois estados. Nesta entrevista, destaca o pioneirismo da mãe, ao aplicar conceitos de agricultura biodinâmica, e ao assumir os negócios da família no agronegócio, de forma sustentável. 

Você é a terceira geração no agronegócio. Poderia nos dar um histórico disso?

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Meu avô iniciou o processo em São Paulo, mas migrou para o Mato Grosso na década de 1970. Com a morte da esposa dele, a minha mãe – Fernanda – que é filha única, passou a administrar uma das fazendas em São Paulo e metade das fazendas que a família tinha, na época, no Mato Grosso. Meu avô continuou à frente de metade das propriedades no Mato Grosso até ser diagnosticado com Alzheimer, em 2020. Desde então, eu assumi a gestão das fazendas dele. Hoje, minha mãe e eu somos as administradoras.

Qual é a estrutura atual?

Temos uma empresa de administração de bens, que é uma sociedade limitada, a qual é dona das fazendas em São Paulo e no Mato Grosso. No Centro-Oeste, trabalhamos com ciclo completo, desde a cria, e várias modalidades de criação de gado – da extensiva à confinada. Em São Paulo, a produção é voltada para cana de açúcar, laranja e avocado orgânico biodinâmico. Trata-se de um tipo de agricultura baseada nos princípios da antroposofia, adotados pela minha mãe há várias décadas. Temos uma pequena criação de gado em São Paulo, mas não é significativa como no Mato Grosso. 

Como você vê a atuação da sua mãe nessa história?

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Quando minha mãe assumiu a metade que era dela por herança, ela tecnificou a produção de acordo com que ela acreditava, ou seja, com as práticas da antroposofia. Isso envolveu a não aplicação de veneno nas áreas de preservação permanente (APPs), recuperação do pasto e uso da homeopatia para o gado, entre outras práticas. Quando surgiu o conceito do boi orgânico (criado em pastagem sem adubação química e sem a administração de antibióticos nos animais), ela certificou o rebanho que tinha. E adotou ainda técnicas de homeopatia em controle de endoparasitas e ectoparasitas no caso do boi a pasto e controle de sodomia nos animais que não são castrados. Da mesma forma, ela adotou o rastreamento usando brinco e realiza a tatuagem nos bezerros crioulos para identificar a mãe ao nascer.

O que você ressaltaria dessa experiência com vários métodos de pecuária?

É muito importante ficar atento com a capacidade de suporte da fazenda. Muitas vezes, quando os bois são criados a pasto, tenta-se compensar a nutrição via suplementos. Não adianta só pensar na lotação do pasto, mas também na capacidade dele em suportar a quantidade de animais a serem criados. 

Nas operações que vocês administram, como é a questão de rastreamento?

Meu avô adotava a colocação do rastreamento na fase final de engorda, nos últimos três meses. Além disso, hoje aplicamos o chip ou o brinco na cria e na vacada, ou seja, no rebanho de fêmeas. Reconhecemos que existem ganhos nesse processo, pois há um acompanhamento genético do gado, inclusive com relatórios no abate, indicando qual foi o melhor desempenho produtivo do gado ao longo da criação. Podemos acompanhar, por exemplo, quando a cria virou garrote e foi para a fazenda de terminação, com informações mais precisas sobre o rebanho. Esse processo é mais usado no Mato Grosso. 

Qual a recomendação para ampliar o rastreamento para os machos do rebanho?

Se fôssemos aplicar o rastreamento nos machos, seria a partir da compra, porque é um investimento novo, que tem que fazer sentido. Pelas informações que temos, esse é um processo ainda não adotado em sua grande maioria. Muitos usam os brincos (brincagem) nos três meses de engorda e uma parcela menor faz o rastreamento do ciclo completo usando chips ou brincos.

Por que acredita que esse índice ainda é pequeno?

Para colocar o brinco no bezerro, por exemplo, precisa fazer sentido. Precisa ter um retorno financeiro e isso não acontece. O pecuarista precisa receber por esse serviço ambiental que está prestando, ao rastrear o gado e indicar onde ele está sendo criado e que essa criação não envolve áreas irregulares. O pecuarista tem que ter o retorno do investimento, porque o processo inclui a adoção de softwares para fazer o controle, entre outras iniciativas. Ele precisa ter um benefício zootécnico para controlar os índices da propriedade e não somente ambiental. 

Falando nessa questão ambiental, vocês têm intenção de conseguir certificação para a produção biodinâmica de avocato e talvez outras frutas?

Esse é um processo bastante complicado e existem várias certificações no mercado. É complexo atender a esses critérios. O que podemos dizer é que existe uma demanda, principalmente na Europa, por produtos biodinâmicos. Existe uma clientela que paga por esse valor. Vemos também, na Europa, produtores certificados com boi a pasto, criado em condições diferenciadas, sem degradação do meio ambiente. Nós já temos essa certificação e exportamos os produtos. 

Vocês adotam isso no Brasil?

Aplicamos alguns conceitos e usamos defensivos para pastagens em algumas situações, da mesma forma que adotamos vacinação para o gado e tratamento com antibiótico, quando necessário. É o caso do gado confinado ou quando um animal fica doente. 

Nós vemos muita informação ruim nos últimos anos sobre desmatamento e outras ações envolvendo o agro. Qual é sua avaliação?

Há muita informação ruim e isso repercute aqui e fora do Brasil. Acho que devemos publicar também várias iniciativas positivas que o setor tem feito, como é o caso de algumas ligadas à recuperação de áreas degradadas. Uma informação importante, por exemplo, é a que a pecuária intensiva, ou seja, quando reduzimos a área e alocamos mais animais, gera menos pegada de carbono. Isso acontece porque estamos agregando eficiência, ao produzir mais arroba em menos espaço.

Qual é a relação que sua família tem com a Marfrig?

Somos fornecedores, com venda a futuro. É um relacionamento de parceria, iniciado pelo meu avô há muito tempo. Vejo na Marfrig uma empresa de grande determinação, principalmente na questão de rastrear a cadeia de produção bovina no Brasil. Fiquei impressionada com isso no evento da Marfrig Verde+. 

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Laura Aufiero durante o evento Marfrig Verde+

Como você gostaria de ser definida?

Gostaria de ser destacada como parte de uma família pecuarista tradicional, cuja mãe perdeu a mãe ainda jovem e resolveu ser diferente. Primeiro, porque aplicou conceitos da antroposofia nas suas atividades de agropecuária, hoje mais conhecidos, mas não na época em que ela começou. Segundo, porque ela assumiu a gestão administrativa e financeira das operações do pai, meu avô, mantendo a continuidade dos negócios.