melhoramento genetico

Melhoramento genético do gado: o que é e como impacta o mercado?

Práticas interferem diretamente a produtividade das fazendas e ajudam na criação de animais mais precoces e saudáveis

Redação

em 21 de julho de 2022


O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina. E tem o maior rebanho de bovinos do mundo. Estar nesse patamar e continuar crescendo exige melhoria contínua na produtividade da cadeia de produção da carn,e ao mesmo tempo em que se amplia as práticas para o bem-estar animal. E o melhoramento genético é um dos processos para atingir esses objetivos. 

O que é Melhoramento Genético

O processo de melhoramento genético usa tecnologia para dar um “empurrão” no que os produtores de gado já fazem há centenas de anos: escolher os melhores touros e matrizes para criar a próxima geração. Usando seleção dos animais com características “superiores”  e acasalamento assistido, o melhoramento genético cria “combinações genéticas” favoráveis para o rebanho.

Hoje em dia, é possível criar raças que crescem mais, se adaptam melhor ao meio ambiente e que são mais resistentes a doenças. Com isso, não só a qualidade de vida dos animais melhora, como também o resultado das fazendas avançam. O melhoramento genético também ajuda a produção bovina em momento de mudanças climáticas e alterações no solo.

Como é feito o processo

Atualmente, há técnicas de melhoramento tradicional, que usam o teste de progenitor e análise da “árvore genealógica” do animal e técnicas de seleção genômica, que avaliam a bagagem do DNA dos animais para entender quais características eles tendem a repassar para a prole. Em outras palavras, a análise, que antes era feita pelo instinto dos produtores rurais, ganhou novas e mais precisas medições com a engenharia genética.

Para chegar ao melhoramento genético do gado, as fazendas precisam ter claros quais critérios querem ressaltar e quais atributos querem que sejam selecionados. São as chamadas “características de interesse econômico” dos animais. O que faz um animal ser bom para produção de leite, por exemplo, não é o mesmo que o gado de corte. ]

Atributos como peso na desmama, retorno maternal, idade ao primeiro parto, dias para obtenção de 400 kg e índice frigorífico fazem parte dos critérios. Há também análise de atributos físicos, como o tamanho, pelagem, chifre e fertilidade. 

Se o produtor quiser mais rusticidade, desempenho, resistência a parasitas, eficiência alimentar e qualidade em seus produtos, deve estabelecer um programa de melhoramento genético em sua propriedade. Os fazendeiros também podem participar de programas já existentes, como os da Embrapa.

De maneira prática, a melhora genética acontece a partir do cruzamento entre animais que atendem a todos os critérios colocados pelos produtores. Esse cruzamento pode ser feito in natura ou in vitro. Além disso, há também a utilização de embriões sexados, que é quando os embriões de animais com o DNA superior são colocados em uma outra vaca, o que acaba por preservar a linhagem e também manter o material genético vivo por mais tempo. 

Manejo genético: produtividade em foco

Quanto maior o estágio de melhoramento genético do animal, melhor o resultado da produção, dizem especialistas sobre o assunto. Isso porque os animais com genética melhorada têm um processo de desenvolvimento e engorda mais acelerado, o que significa que ele se torna mais produtivo para as fazendas. É possível acelerar a etapa até o abate, aumentando a qualidade e o fornecimento da carne.

Reduzir esse tempo também significa diminuir a emissão de metano e gases de efeito estufa por parte das fazendas, o que torna o melhoramento genético também uma parte fundamental para chegar à “carne carbono zero”. 

“Com a genética, especialmente a partir de 2020, pudemos partir de animais com melhores características de eficiência e conversão alimentar e alcançamos não apenas aumento de produção, mas também produtividade sustentável, ao encontrar animais que produzem na vertical. Ou seja, produzem mais (carne) com menos (alimentos)”, explicou Mateus Pivato, gerente de fomento da Associação Brasileira de Angus, em entrevista ao site Rural Pecuária.

A seleção dos atributos necessários para um gado mais refinado impactou na produtividade brasileira como um todo, disse Pivato. “Tivemos uma alta de 170% de produtividade em 20 anos. A evolução de abate de bois com mais de 36 meses é um indicador importante. Em 1997, 45% dos animais abatidos tinham mais de 36 meses. Em 2019, o índice caiu para 6%, como reflexo da mudança de mercado e do próprio pecuarista no trabalho com os terneiros, entendendo como produzir mais carne e melhor”, afirmou.

O mercado do manejo genético

O mercado global de genética animal deve movimentar US$ 41 bilhões até 2027, indica relatório da TC Partners. O Brasil responde, atualmente, por 12% deste setor, e vê crescimento acima de 10% ao ano nos valores faturados pelo segmento. O cálculo une o segmento de genética de suínos, aves e bovinos.

No olhar dos produtores, a melhora genética pode ainda trazer uma outra possibilidade: a entrada na área de comercialização de animais. A venda de material genético dos animais com características superiores e mais refinadas cresceu 21% no Brasil no primeiro trimestre de 2022, em comparação com 2021.

Segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial, as exportações desses materiais também pularam 53% no período. “Para 2022, o Brasil deve exportar mais de 1 milhão de doses, fruto da valorização do sêmen e da genética obtida no país”, disse Evaristo de Miranda, pesquisador da Embrapa e titular da Academia Nacional de Agricultura da SNA. Em entrevista ao site da SNA, Miranda falou também do faturamento do mercado de exportação de material genético bovino, ressaltando que, em 2021, o faturamento foi de R$ 1,3 bilhão, alta de 35% em relação a 2020. Para 2022, a expectativa é que chegue a R$ 1,5 bilhão.