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Mulheres na Pecuária: inovação das fazendas também é feminina

Sustentabilidade e novas técnicas fazem parte das atividades da liderança feminina, mostrando que mulheres trazem inovação à pecuária

Redação

em 9 de dezembro de 2022


A série de matérias Mulheres na Pecuária, do Prato do Amanhã, entrevistou um grupo de líderes de fazendas brasileiras e as histórias, que vão do legado familiar ao desafio da maternidade, estão sendo contadas nas últimas semanas (confira aqui as matérias 1, 2 e 3 da série). Agora, neste quarto episódio, o assunto é um tema em comum com todos os que estão à frente do agronegócio no Brasil: inovação. Sim, vamos mostrar como as mulheres estão na vanguarda quando o assunto é  absorver as tecnologias no dia a dia da fazenda.

Ideias “malucas” que dão certo

A mudança vem pouco a pouco no campo, como explica Mariana Figueira, diretora da Agropecuária Xaraés, no Mato Grosso. Ela passou a liderar a fazenda de seu pai quando tinha 22 anos, saindo da faculdade de veterinária. “A teoria e a realidade andam lado a lado, mas elas não são iguais. Eu tinha muita teoria absorvida, mas também muita prática para aprender”, diz.

Mariana começou na fazenda acelerada pelo que via de novo acontecendo no mercado, como pastagens rotacionadas, sistemas agroflorestais e melhoramento genético, entre outros aprendizados da faculdade e das discussões com colegas do segmento. “Quando me formei, meu pai tinha 70 anos. São gerações muito diferentes. Então começamos a bater de frente”, lembra. 

O pai pedia resultados, o que levou a, na época recém-formada, pensar em métodos diferentes de colocar os conceitos teóricos em prática. “Passei a montar pequenos projetos para mostrar como seriam os resultados desses conceitos. Em alguns casos, colocava em prática em espaços menores, somente para ter resultados demonstrativos”. O método optado por Mariana é parecido com a forma que startups de tecnologia testam novos produtos. Ou seja, em projetos pequenos, fáceis de testar e de corrigir rapidamente. “Mesmo os funcionários achavam que as minhas ideias eram malucas, que não iam dar certo. Até que passaram a dar certo. Muito certo”, destaca.

Mulheres na Pecuária: a inovação é feminina

O primeiro grande projeto bem sucedido de Mariana foi o pastejo rotacionado. “Tirei todos os pastos de áreas grandes e fiz piquetes menores, nos quais os animais rotacionavam para comer o pasto. Para este primeiro projeto, peguei um pasto de 24 hectares e o dividi por 4. Visualmente, cada pasto parecia pequeno e muitos questionaram, mas a divisão não foi feita a esmo: a veterinária usou fotos de satélite para analisar o terreno e ver quais são eram as áreas que mais combinavam com os tipos de pastagem para definir a divisão comentada. 

O resultado veio em um ano: a área que antes era responsável pela engorda de 36 animais, conseguiu abrigar e engordar 80, agregando ainda bem-estar e saúde aos bovinos. “Quando esse projeto deu certo, meu pai e todos viram que tinhamos de fazer isso na fazenda toda”, diz a executiva. A notícia se espalhou pela região e o pai virou defensor contumaz da ideia. “Desenvolvi esse mesmo projeto na fazenda de outros produtores. Foi uma realização. Foi o inverso do tapa na cara”, lembra Mariana.

Produção intensiva, sustentável e feminina

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O pastejo rotacionado, colocado em prática pela veterinária, tem sido cada vez mais utilizado quando companhias de gado extensivo querem intensificar a produção. O sistema tem vantagens práticas que permitem períodos de descanso para a pastagem e aumentando do nível nutricional do alimento dos animais. A forragem também é melhor aproveitada, com menos perdas, e  o sistema auxilia o controle de plantas invasoras e mantém o bioma. Produzir mais carne de qualidade em menor espaço é um mote tão importante que está na placa de entrada da fazenda Marcon, gerenciada por Camila Marcon. “A gente sabe que é possível, mas é preciso investir”, diz..

A realidade comentada por Camila é a mesma encontrada em grande parte das propriedades brasileiras. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  calcula que a produção nacional da pecuária seja entre 3 e 4 arrobas por hectare/ano. Sem aumentar a terra voltada para a produção, autoridades estimam que o país poderia chegar a produção de 10 a 12 arrobas por hectare por ano.

“O que a gente tem de área aberta hoje não vai mudar. Não vamos conseguir abrir mais áreas de produção, e nem é necessário. É só produzir mais no espaço que a gente tem”, intervém Mariana.  

A saída também tem a ver com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, já que utilizar menos espaço significa também manter mais biomas locais intactos. Além disso, ao usar os hectares de forma mais eficiente, a emissão de gases de efeito estufa é menor e representa, naturalmente, mais um passo para a carne carbono zero

A sustentabilidade é um dos focos das novas gerações que entram na pecuária. Mariana conta que as mulheres lideram essas práticas e lembra de uma colega no Tocantins que encabeça projetos de pecuária regenerativa, que é ainda mais densa do que a pastagem rotacionada. 

Pessoas fazem a fazenda

Toda essa tecnologia vem com um outro custo: o de transformar o jeito que as pessoas trabalham no campo. A mudança cultural é um componente-chave para a inovação no agronegócio, seja esta inovação em forma de novas metodologias e ou seja para novas gestões.

“Queremos o máximo que conseguirmos trazer de modernidade de empresas para dentro da fazenda. É o futuro, e os funcionários do campo precisam estar cientes do que é o futuro e que eles estão dentro dele, que eles não estão parados no tempo”, fala Mariana. 

A transformação das pessoas também passa por escutar novas vozes na liderança. As vozes femininas exigem que, do outro lado, existam ouvidos atentos e dispostos a lutar pela equidade. Este é o tema da próxima matéria da série Mulheres na Pecuária, não perca.