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Bem-estar animal: médico veterinário aponta 7 mitos sobre o tema

Para especialista, além de ser uma ciência, o cuidado com animais precisa de método e não é modismo

Redação

em 2 de maio de 2024


Doutor em bem-estar animal, o médico veterinário Filipe Dalla Costa estudou os impactos do tema na cadeia de produção de proteína na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Além da tese acadêmica, ele teve experiências em campo – por meio de estágios e intercâmbios – na Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), e na Agri-Food Canadá, além do Royal Veterinary College, do Reino Unido. Com essa bagagem, ele desmitificou o tem em artigo para a revista Forbes, cujos 7 pontos principais destacamos aqui.

Filipe Dalla Costa (Foto: Divulgação/MSD)

Bem-estar animal é ciência

Isso mesmo. Segundo o especialista, essa ciência depende, diretamente, da relação entre os seres humanos e os animais. O processo deve levar em conta a harmonia entre alimentação adequada, ambiente confortável, boa saúde e a capacidade de expressão dos comportamentos, para ser obtido um bom nível de estado físico e mental. E mais: nem todas as espécies respondem bem a carinhos e abraços. Os suínos e aves, que são presas no reino animal, associam sua contenção à captura. Dalla Costa destaca que é importante conhecer o comportamento natural de cada espécie para poder criar conexões positivas com os animais e evitar situações de estresse.

Não é modismo

Os produtores de proteína animal mais antenados já se convenceram de que o bem-estar animal veio para ficar. A iniciativa traz benefícios, como aumento de produtividade e melhoria do manejo, além do bem-estar das pessoas envolvidas nas frentes de trabalho.

Dalla Costa lembra que o bem-estar animal agrega benefícios para todos os envolvidos, inclusive para o consumidor, que tem maior qualidade de alimentos. Com isso, a era de considerar o tema como modismo já passou.

Tratar adequadamente é lucrativo

Além de ser baseado em conceitos científicos, o bem-estar animal dá lucro sim. A afirmação de Dalla Costa vem de estudos e da prática em campo. De acordo com ele, a redução do estresse dos animais leva à uma melhoria da saúde e à menor ocorrência de enfermidades, lesões e mortalidade dos animais. O processo também diminui o desperdício de recursos e agrega qualidade ao produto final. Outra frente de ganhos ocorre no manejo, com redução do risco de acidentes com quem trata diretamente do animal no dia a dia.

Consumidor informado paga pelo bem-estar animal

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Dalla Costa destaca que as pessoas estão cada vez mais interessadas em conhecer o que consomem. Segundo ele, esse tipo de consumidor tem buscado informações e se interessa pela forma como as cadeias produtivas se comportam. E também está atento às boas práticas de produção. Para o especialista, a “questão do bem-estar animal vai ao encontro dessas iniciativas e conversa diretamente com o consumidor, o que dá mais credibilidade e gera ainda mais confiança da cadeia como um todo”.

Granja tecnificada não é bem-estar

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Infelizmente, uma granja bem equipada não é sinônimo de bem-estar animal. É preciso ir além: são os domínios da alimentação, ambiência, saúde e comportamento que interagem para dar o estado físico e mental de bem-estar animal. É claro que a manutenção de temperatura e umidade adequada é importante para controlar a nutrição em quantidade e qualidade, sem disputas entre os indivíduos. Porém, muitas outras situações são parte da construção do que de fato é bem-estar, na avaliação do especialista. Isso inclui densidade, qualidade de ar, qualidade de piso, prevenção de enfermidades e interação humano-animal.

Produção alternativa nem sempre é bem-estar

Os chamados sistemas alternativos de produção, que envolvem acesso a áreas externas, nem sempre garantem melhor bem-estar, na avaliação do especialista. Dalla Costa explica que eles geralmente podem melhorar a expressão de comportamentos naturais – quando comparados aos sistemas convencionais não enriquecidos – mas têm limitações.

Entre os contras dos sistemas alternativos de produção estão a dificuldade de controle de ectoparasitas e da proteção contra presas. Ele prega a avaliação holística dos sistemas para determinar como melhorar cada realidade. E lembra, ainda, que o bem-estar dos animais depende da harmonia entre cinco questões: eles devem estar livres de fome e sede; de medo e ansiedade; do desconforto; de ferimentos, dor e doenças; e livres, também, para expressar seu comportamento natural.

Produção extensiva é melhor

Outro lugar comum desmistificado pelo especialista é associar ambiente natural a bons níveis de bem-estar animal. A lista de riscos é grande, na criação dos animais em pastos abertos: desde a maior ameaça de predatores até a alta incidência de raios solares, estresse térmico e dificuldade de acesso à água. No sistema intensivo confinado, o padrão de atendimento das demandas dos animais é maior, uma vez que eles são alimentados em quantidade e qualidade corretas e sem disputar o recurso. Outros benefícios são o controle do ambiente, com temperatura e umidade adequadas, além de bons índices de comportamento e saudabilidade. O manejo também precisa ser levado em consideração, segundo Dalla Costa.