carne zero carbono

O que está por trás da carne zero carbono?

Melhoramento genético, solo enriquecido, sistema ILFP e transparência da cadeia são as respostas, mostram especialistas

Redação

em 21 de outubro de 2022


A busca pela carne zero carbono afeta todas as áreas da fazenda, desde a criação do gado até os sistemas de pastos. E tudo em apoio para que a produção traga benefícios ao meio ambiente. Foi o que mostraram especialistas presentes no 1º Fórum Futuro do Agro, organizado neste 20 de outubro pelo Globo Rural e o pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Tudo começa com o animal, indicou Leone Furlanetto,diretor de planejamento estratégico da Agropecuária Jacarezinho. “Quando falamos de mitigação dos gases de efeito estufa, os animais são três pilares: o sistema de produção, a fermentação entérica e a interação direta do animal. E o animal está no topo do sistema, tudo passa por ele”, disse. 

O executivo lidera o processo de melhoramento genético do gado na fazenda e falou de alguns resultados que podem ampliar a visão sobre o papel da pecuária no clima. Ele explicou que, usando o método tradicional, o boi brasileiro é levado para o abate com 40 meses. Com o processo de melhoramento genético, os animais já estão prontos para esse mesmo processo na casa dos 20 a 24 meses. “Com isso, temos uma redução de até 60% na emissão de metano com essa diminuição de idade. Há, portanto, um potencial absurdo para a pecuária contribuir para as metas de redução de emissão de gases no mundo”, afirmou Furlanetto. 

Carbono para o solo (e não para o ar)

Conseguir criar mais animais no mesmo espaço que existe hoje é um desafio para a pecuária, e isso pode ser atingido com uma série de inovações no sistema de gerenciamento do pasto. Um deles é o sistema de integração lavoura, pasto e floresta, o ILPF. A partir dele, o espaço da fazenda é dividido entre pasto, plantações e mata nativa.

Com isso, o solo ganha em riqueza, e também consegue capturar mais carbono. Como explicou a diretora de produção sustentável e irrigação do Ministério da Agricultura e Pecuária, Fabiana Villa Alves. Ela foi responsável pela iniciativa carne carbono neutro, feito entre Embrapa e a iniciativa privada com o objetivo de estabelecer parâmetros para a neutralização de emissões da produção agropecuária. “A redução na emissão de carbono é um grande indicador de eficiência do sistema produtivo agropecuário”, afirmou Fabiana. 

Segundo ela, apesar do contexto, o carbono não pode ser “vilanizado” . “O carbono é essencial na matéria orgânica, o solo que segura carbono é um solo rico. Portanto, o carbono tem que ficar capturado no solo“, disse. 

Para que isso aconteça, tanto o pasto quanto as florestas que fazem parte do ILFP e que interagem com o sistema produtivo, são essenciais.

Leonel Almeida, gerente de Pecuária Sustentável da Marfrig, revelou que o ILFP é mandatório para se receber o selo de baixo carbono da companhia, pois aumenta a captura de gases de efeito estufa (GEE) para o solo e, com isso, acaba compensando as emissões geradas durante a cadeia de produção da carne. Leonel é responsável pelo projeto Marfrig Verde+ e também foi palestrante do  1º Fórum Futuro do Agro

Carne Carbono Zero é o objetivo

O caminho para a carne zero carbono passa também pelo produtor, que precisa receber investimentos para fazer as mudanças necessárias na fazenda. De acordo com Leonel, regularizar a participação de entes do mercado, bem como desburocratizar o acesso dos pequenos produtores a investimento, é parte estrutural para atingir a meta. A missão exige integração entre produtores, bem como a reintegração de alguns deles quando atingem as melhores práticas. Leonel conclui, no entanto, que – embora o ideal da carne zero carbono esteja se formando, há uma etapa anterior que já foi atingida pelo mercado: “a carne baixo carbono não é o futuro, ela é o presente”, disse, salientando que já há dois anos a Marfrig lançou a linha de carne baixo carbono para o mercado mundial.