Austrália na COP 28

Reduzir o papel dos combustíveis fósseis deve ser alvo da Austrália na COP 28

País tem carvão, óleo e gás com peso importante em sua matriz energética

Joao

em 3 de novembro de 2023


A Austrália tem a meta de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 43% até 2030, tendo como base o ano de 2005. Para isso, os planos envolvem a eliminação gradual de carvão, óleo e gás, inclusive com o fim de financiamento público, inicialmente para o carvão e depois para as outras fontes de combustíveis fósseis.

Apesar de projetar um ambiente de fontes limpas daqui a 7 anos, a Austrália tem uma matriz elétrica ainda dominada pelos fósseis. Dados oficiais do governo australiano indicam que tais combustíveis contribuíram com 68% da geração total de eletricidade no mesmo período, incluindo carvão (47%), gás (19%) e petróleo (2%).

É importante ressaltar que a cota do carvão na produção de eletricidade diminuiu do patamar de 83% (em 1999-2000), enquanto a cota do gás natural e das energias renováveis aumentou. Essas últimas, por sua vez, contribuíram com 32% da geração total de eletricidade no ano passado.

País continente como o Brasil, a Austrália tem ainda uma longa jornada para limpar sua matriz elétrica, enquanto a nossa é um exemplo pela participação de fontes limpas, inclusive mirando na sustentabilidade do setor de agronegócios.

De acordo com o site da ONG UN Climate Summit, que analisa o status de cada país em relação às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), a Austrália tem como ponto positivo um governo mais progressista em relação às ações climáticas e ao investimento em energias renováveis. Porém, apesar dos objetivos climáticos, há ainda o suporte às fontes de energia de origem fóssil.

Outra ONG que monitora o desempenho dos países para a COP 28, o Climate Change Performance Index (CCPI), indica que a Austrália melhorou sua colocação, mas mesmo assim permanece entre os países com desempenho muito baixo e fica atrás de muitas outras economias desenvolvidas.

Mudanças políticas

As taxas de desempenho global da Austrália são muito baixas em categorias como Emissões de gases de efeito estufa (GEE), Energias Renováveis e Utilização de Energia, e baixas para Política Climática.

Politicamente, as ações climáticas flutuaram na sequência das eleições federais de maio de 2022. O Partido Trabalhista Australiano assumiu a maioria e o seu governo prometeu iniciativas mais ambiciosas. O parlamento australiano, por sua vez, aprovou recentemente a Lei das Alterações Climáticas 2022 do país, legislando para reduzir as emissões de GEE em 43% em relação aos níveis de 2005 (acima dos anteriores 26-28%) e atingir zero emissões líquidas até 2050.

De acordo com o CCPI, as reservas de gás desenvolvidas da Austrália classificam-na entre as 20 maiores do mundo. O país também está entre as nove nações responsáveis ​​por 90% da produção global de carvão e planeja aumentar a produção de carvão e gás em mais de 5% até 2030. O aumento não seria compatível com a meta global de 1,5°C.

No começo de setembro desse ano, o governo australiano anunciou seu posicionamento oficial para a COP 28 e destacou que o país desempenhará um papel de liderança nas negociações internacionais sobre a adaptação climática.

Segundo o comunicado, a ministra adjunta para Mudanças Climáticas e Energia, senadora Jenny McAllister, aceitou um convite do presidente designado da COP 28, Sultan Al Jaber, para facilitar consultas para alcançar resultados sobre adaptação na conferência climática.

Um dos focos do país nas negociações será o desenvolvimento de um quadro para promover o Objetivo Global de Adaptação. Este quadro ajudaria a acompanhar o progresso em relação às metas do do Acordo de Paris de reforçar a resiliência às alterações climáticas.

“A Austrália está agindo em relação às alterações climáticas em nível interno e contribuindo para o esforço global. A adaptação climática é uma prioridade para a nossa região, especialmente para os nossos vizinhos das ilhas do Pacífico”, disse a ministra adjunta McAllister.

Em termos gerais, todos os estados e territórios da Austrália – e a maioria das maiores empresas e instituições de finanças – têm compromissos de meta net zero até 2050.

Renováveis na matriz elétrica

Na avaliação do já citado UN Climate Summit, a Austrália poderia colocar 63 bilhões de dólares australianos em novas oportunidades de investimento ao longo dos próximos cinco anos, reforçando as metas e políticas climáticas em linha com a consecução de emissões líquidas zero até meados do século.

Um dado preocupante nessa jornada é o fato de o país da Oceania ter ainda 116 novos projetos de carvão, petróleo e gás em andamento. Se todas estas medidas prosseguirem conforme planejado, serão liberadas anualmente na atmosfera mais 1,4 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa até 2030.

Outro fato que reforça o papel dos combustíveis fósseis são os subsídios – estimados em 10 bilhões de dólares por ano, incluindo aqueles baseados em impostos, finanças públicas e doações diretas às grandes empresas. Os subsídios ao carvão, gás e petróleo excedem o apoio à energia limpa e aumentaram 48% desde 2015.

No entanto, o setor elétrico representa a maior parte das emissões da Austrália (33%). A Austrália tem ainda uma das redes elétricas mais poluentes do mundo, com 62% da geração proveniente da queima de carvão.

Prevê-se que as energias renováveis ​​representem cerca de 53% da produção de eletricidade em 2030, mas, com políticas melhoradas, planejamento e investimento, poderão tornar-se 100% renováveis ​​intermitentes até 2025, de acordo com o Operador Australiano do Mercado de Energia.