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Pecuária pode reduzir emissões do planeta, diz Ciniro Costa Junior

Especialista em clima e sistemas alimentares, Ciniro Costa indica que pecuária fará parte do futuro sustentável do planeta

Redação

em 4 de maio de 2023


O futuro sustentável depende da pecuária e da adoção de melhores práticas pela indústria. A produção de carne pode fazer parte da solução, afirma Ciniro Costa Júnior, cientista e especialista em clima e sistemas alimentares da Alliance of Bioversity International and CIAT do CGIAR. 

Recentemente, Costa Junior liderou uma equipe de pesquisadores que publicou o artigo “Roadmap for achieving net zero emissions in global food systems by 2050”, na renomada revista Nature. Na pesquisa, Costa projetou quais são os caminhos para o sistema alimentar atingir emissões zero até 2050. 

“Não conseguiremos implementar uma agenda net zero, que é a necessária para evitar mudanças drásticas no clima, sem o setor de pecuária estar incluído. Se não considerarmos a produção pecuária, em especial a bovina, é praticamente impossível atingirmos a meta, não importa o que aconteça nos outros setores, afirma o pesquisador.

Segundo ele, os sistemas alimentares contribuem com aproximadamente 30% das emissões globais. Deste montante, um terço vem da produção de carne bovina. “Ou seja, 10% das emissões globais vêm por esse tipo de produção. Se colocarmos uma lupa dentro desse sistema, podemos ver que entre 70% e 80% das emissões vêm de atividades de dentro da fazenda. É bem relevante o papel da produção de carne e do manejo dos animais na redução do efeito estufa”, fala o professor.

“A produção de carne bovina tem a maior pegada de gás efeito estufa entre os sistemas alimentares, sem dúvida, mas também tem o maior potencial de redução de emissões de gases de todos os sistemas alimentares”, afirma Costa Junior. 

“O Brasil tem papel fundamental. A indústria brasileira tem que se apropriar desse papel e aproveitar essa oportunidade. O potencial de intervenção que as grandes empresas brasileiras do setor têm para mudar os pequenos e os grandes produtores no mundo é relevante”, diz Costa Junior. Em outras palavras, a bola está no pé do Brasil.

Tudo começa no pasto

E, se há um mapa para o planeta chegar nas zero emissões, o mercado já está na primeira parte desse caminho. Para Costa Junior, o primeiro passo, de reconhecer os números e os impactos, já aconteceu. Agora é uma questão de colocar as boas práticas nas fazendas em atividade.

“Se a gente compara uma fazenda que não faz as práticas sustentáveis com uma que tem boas práticas de manejo de animal, manejo das pastagens, a emissão de gases efeito estufa chega a ser maior do que o dobro. Isso sem contar o impacto na produtividade, que é pelo menos 3 vezes menor “, fala o pesquisador.

Para ele, as boas práticas significam utilizar tecnologias na fazenda, mas, em alguns casos, também pedem a volta de culturas seculares, como a de rotação de pasto. “O pastejo rotacionado sempre existiu. Os pastoralistas já entendiam que, assim que o pasto acabou, precisavam mudar de lugar e dar tempo para aquelas plantas voltarem a crescer”, aponta Costa Junior.

O CIAT tem um trabalho de melhoramento de forragens há décadas, e os experimentos mostram que o pasto saudável também traz potencial para o sequestro de carbono do ar. “Além de ser uma prática que pode ser implementada agora, sem tecnologia alguma”, exemplifica Costa Junior. “O bom manejo de pastagem, deixando descansar, traria efeito enorme, o animal teria mais alimento e com maior qualidade. O animal convertendo melhor a comida que ingere, emite menos gases de efeito estufa”, aponta o pesquisador.

Da parte dos produtores, o primeiro passo para zerar as emissões está em uma ação que a Marfrig já está se empenhando: conhecer detalhadamente os fornecedores. “O leque de clientes é grande e precisa ter suas dores entendidas para que a transformação chegue no mercado como um todo”, afirma Costa Junior.

O prato do amanhã, segundo Ciniro Costa

No futuro, Ciniro projeta que o prato da nossa mesa será muito parecido com o que a gente já come naturalmente: feijão, arroz, carne e salada. “Mas tudo isso sendo produzido de uma forma mais sustentável”, diz.

Para ele, a tendência no curto e médio prazo é, inclusive, que mais pessoas consumam carne. “Hoje em dia, o consumo global de carne é desbalanceado, com os países mais ricos consumindo mais do que os mais pobres. Isso deve mudar, a tendência é que as pessoas, que hoje não comem carne, comam mais”, fala o pesquisador. 

“De acordo com as nossas análises, no curto prazo as fichas não podem ser colocadas na mudança de hábito alimentar da população, pois isso é uma ação de longo prazo e nao atenderia a urgência climática. O que a gente precisa é melhorar a prática de produção de carne para reduzir as emissões de forma massiva”, fala Ciniro.