Da esquerda para a direita: Murilo Parada, Marcelo de Campos e Silva, Márcia Barbosa, Juliana Lopes e Kieran Gartlan (Foto: Reprodução/ Twitter World Agri-Tech)
tecnologia agropecuaria sustentavel
Da esquerda para a direita: Murilo Parada, Marcelo de Campos e Silva, Márcia Barbosa, Juliana Lopes e Kieran Gartlan (Foto: Reprodução/ Twitter World Agri-Tech)

Tecnologia não é “bala de prata” para agropecuária sustentável, dizem especialistas 

Setor precisa também de projeto que envolva todos os atores e recompense o produtor agrícola

Redação

em 22 de junho de 2023


As novas tecnologias podem aumentar a eficiência e produtividade, reforçando a agropecuária sustentável na América do Sul, mas é preciso um trabalho que una setor privado e governo, aproveitando o potencial da região. Sozinhos, os recursos não são uma “bala de prata”, na avaliação de Juliana Lopes, diretora de Natureza e Sociedade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). 

Ela defendeu esse ponto de vista durante o painel Building a Sustainable Innovation Superpower, que aconteceu durante a edição 2023 do World Agri-Tech South America Summit, realizado em São Paulo nos dias 20 e 21 de junho.

Coordenadora da mesa, a diretora do CEBDS dividiu o debate com Marcelo de Campos e Silva, especialista em carbono no Banco do Brasil; Márcia Barbosa, secretária de Programas e Políticas Estratégicas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Kieran Gartlan, diretor do The Yield Lab Latam; e Murilo Parada, CEO da Louis Dreyfus Company Brazil.

Brasil tem só 1% do mercado potencial de carbono 

Sobre o Brasil, a especialista destacou que o país pode liderar pelo exemplo e tem condições de se posicionar como potência sustentável. De acordo com ela, no mercado de carbono, estimado em US$ 50 bilhões, o Brasil só estaria capitalizando atualmente cerca de 1%.

O potencial do agro sustentável do país foi reforçado por Murilo Parada, da Louis Dreyfus Company Brazil, que trouxe outro dado importante para a discussão. De acordo com ele, mais de 98% do desmatamento que acontece no país é ilegal e a agricultura não é o principal responsável por isso. Para o executivo, a rastreabilidade é uma das tecnologias que tem o poder de mostrar como a agropecuária brasileira pode impactar numa cadeia de suprimentos mais sustentável e produzir de maneira mais eficiente. 

Ele também destacou a participação de fontes de energia renovável na América do Sul, ressaltando que a região tem criado uma das matrizes de energia elétrica com forte presença de fontes limpas, incluindo solar, eólica e a geração hidrelétrica tradicional. De acordo com Murilo Parada, a região tem condições de ser parte do celeiro mundial para aumentar a produção de alimentos de forma sustentável. 

Márcia Barbosa, do MCTI, acrescentou outro fato positivo sobre o monitoramento das condições ambientais do Brasil, ao informar que o governo tem calculado a emissão de gases de efeito estufa em vários segmentos. O acompanhamento, de acordo com ela, permite verificar onde o país está melhorando e piorando, além de viabilizar o planejamento de ações futuras. Entre as melhorias, ela aposta na criação de um projeto nacional de descarbonização, com participação da agricultura.

Produtor pode ser compensado por serviços ambientais

Para Kieran Gartlan, do The Yield Lab Latam, o desafio não é a existência de tecnologias para tornar a América do Sul mais sustentável e produtiva na agropecuária. Ele argumenta que a rastreabilidade, por exemplo, já envolve visibilidade e isso pode incluir a captura de dados sobre uso de insumos pelo agricultor. Para isso, ele acredita que os modelos de negócios devem envolver incentivos para o produtor, inclusive para monetizar a rastreabilidade. 

Uma das sugestões é que o produtor receba algum tipo de crédito de carbono ou pagamento por serviços ambientais ao produzir e comprovar – via rastreabilidade – a origem de sua produção orgânica. 

“O agricultor tem de ser aquele que vê o maior benefício, porque ele está lutando para pagar suas contas e salvar o planeta. A agricultura é um risco muito alto, uma atividade de margem baixa de retorno”, explica Gartlan. 

O especialista lembra ainda que outras tecnologias que permitem a redução do uso de água podem ser um bom exemplo de um círculo virtuoso, que combina sustentabilidade com ganhos reais para a produção no campo. 

A concessão de crédito também entra nessa equação, segundo Marcelo de Campos e Silva, do Banco do Brasil. Ele posicionou a instituição como um dos principais parceiros do setor, ao implementar políticas públicas de financiamento, mas adiantou as demandas cada vez maiores de compliance para fornecimento de crédito. 

A conformidade trazida pelo compliance, na avaliação do executivo do BB, deve impulsionar a maior participação do mercado de capitais como fonte de crédito para o agronegócio. O potencial de descarbonização do setor também poderá ser usado como fonte adicional de receita, segundo Marcelo, confirmando o ponto de vista de Gartlan.