Fernando Sampaio
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Fernando Sampaio

Transição agropecuária já é realidade no MT, mostra Fernando Sampaio, do PCI

Em entrevista exclusiva ao Prato do Amanhã, diretor da PCI, no Mato Grosso, mostra por que estamos, de fato, na transição agropecuária

Redação

em 20 de julho de 2022


Assim como outros setores produtivos, como o de energia, a agropecuária pode estar vivendo a sua transição sustentável. É o que mostra o diretor executivo da Estratégia PCI (sigla para Produzir, Conservar e Incluir), do estado do Mato Grosso, Fernando Sampaio. “Estamos em uma transição para reduzir emissões com agropecuária de baixo carbono e a vantagem é que, além de reduzir emissões, temos a oportunidade de gerar mais produção e renda”, revela ele. 

Nesta entrevista exclusiva ao Prato do Amanhã, ele adverte que esse avanço sempre deve levar em consideração o equilíbrio entre produção e conservação dos ativos ambientais e sociais, o que inclui atenção especial aos pequenos produtores e às populações indígenas. Acompanhe.

O que é a PCI e qual é a sua relevância para a cadeia sustentável da agropecuária no Mato Grosso?

A Estratégia PCI é a política que envolve um grande compromisso do Mato Grosso e concentra um conjunto de metas de longo prazo para o seu desenvolvimento sustentável. Já o Instituto PCI é um instrumento que estamos criando para ajudar a implementar a estratégia. A ideia da PCI é proporcionar mais produção com o uso de menos áreas abertas do estado, integrando a agropecuária com boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG).

Em sua constituição, o PCI é uma parceria público-privada, na qual o governo estadual e a iniciativa privada combinam esforços para vencer os desafios de alcançar a sustentabilidade com equilíbrio produtivo.

Em uma apresentação recente, você comentou que a PCI é uma das grandes formas de descarbonização do país. Pode contextualizar?

Quando falam de emissões de gases de efeito estufa no mundo, estão se referindo principalmente à energia e combustíveis. No Brasil é diferente, pois as nossas emissões estão muito ligadas ao uso da terra. A PCI traçou o perfil das emissões no Mato Grosso e confirmou isso para ajudar o estado a estabelecer o seu compromisso de alcançar emissões líquidas zero até 2035. Para isso, contudo, precisamos basicamente conservar florestas, diminuir desmatamento e trabalhar com sistemas integrados.

Você avalia que a PCI pode ser expandida para todo o país?

Trabalhamos com o governo do Mato Grosso, pois entendemos que o estado consegue atuar consideravelmente para vencer os desafios de implementação de legislação e apoio às cadeias produtivas. Mas a PCI tem sim potencial de ser replicada em outros estados. O princípio seria o mesmo: colocar todos os agentes da cadeia de produção à mesa para desenvolver e trabalhar em conjunto o avanço da cadeia de produção sustentável da agropecuária.

O Instituto Mato Grossense da Carne (Imac) faz parte da PCI?

Sim, e é uma das instituições que o governo criou para trabalhar os desafios da cadeia sustentável da carne. O Imac tem o papel de trabalhar pela promoção do produto mato-grossense, entendendo os desafios dessa cadeia, como a qualidade da carne, rastreabilidade, etc, e propor soluções. Ao fazer isso, o Imac pode ajudar as metas do PCI a acontecerem. É importante destacar que a Marfrig faz parte do Imac e do PCI. Inclusive, ela integra este último desde a sua concepção, em 2015, se mostrando um parceiro muito importante para o nosso avanço.

Quais são as ambições climáticas do estado do Mato Grosso e o quanto o PCI contribui para isso?

O Mato Grosso é o maior estado produtor do Brasil e a nossa ambição é continuar produzindo de forma sustentável para nos tornar carbono neutro até 2035. Para isso, algumas metas estão estabelecidas, como conservar 60% de vegetação nativa no nosso território, acabar com desmatamento ilegal e trabalhar no apoio a pequenos produtores, com restauração de 2 milhões de hectares de pastagem e 1,5 milhão de hectares de Área de Preservação Permanente (APP). E a PCI existe para ajudar a buscar parceiros e investimentos para essa transição sustentável. O governo, claro, tem uma parte importante dessa missão, que é fiscalizar desmatamento, implementar código florestal, fazer regularização fundiária, dar assistência técnica pública, etc. Mas o setor privado também tem o seu papel e, novamente, a Marfrig é um exemplo, ao pôr em prática o plano Verde+, que ajuda tanto nas metas ambientais do estado como serve de exemplo para que outras empresas caminhem na mesma direção.

Com ações como as da PCI, você avalia que – a exemplo de outros setores produtivos – a demanda sustentável está impulsionando uma transição agropecuária?

Sim, e ela é é uma transição voltada à reduzir emissões, com as práticas de agropecuária de baixo carbono. Mas também apresenta grandes oportunidades de ampliar as produções e gerar mais renda, principalmente nas populações rurais mais desfavorecidas. Por esse motivo, a transição agropecuária precisa também trabalhar no equilíbrio entre produção e conservação dos ativos ambientais e sociais, com foco nos pequenos produtores e populações indígenas.