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“Brasil é líder no agro sustentável”

Para Flavio Zaclis, da Barn Investments, o Brasil lidera o conceito de agro sustentável, com áreas preservadas que representam 26% do território

Redação

em 28 de setembro de 2022


Com cerca de 850 milhões de hectares, o Brasil é um país gigantesco e a agricultura – especialmente soja, milho e cana-de-açúcar – ocupa apenas 8% desse território. Além disso, dois terços do país são de áreas preservadas em floresta nativa. A pecuária responde por cerca de 18% do território e, no que tange as áreas degradadas, temos 80 milhões de hectares nessas condições e isso nos permitiria, na avaliação de Flavio Zaclis, sócio e fundador da Barn Investments, dobrar a área útil de produção sem precisar derrubar uma árvore sequer. 

“Quando olhamos para as fazendas e as áreas produtivas, os números são impressionantes. Na média, os produtores no Brasil utilizam somente 51% de sua área. Então, se somarmos os 49% não usados e as áreas preservadas, isso representa 26% do território nacional”, disse ele, durante o Brazil Climate Summit, realizado em meados de setembro pela Universidade Columbia, em Nova Iorque. “Estes 26% representam uma área maior do que 185 (do total de 195) países do mundo. Portanto, o Brasil é, sem dúvida, um país líder no agro sustentável”, completou. 

Tecnologia aumenta a eficiência e sustentabilidade

O evento citado teve como objetivo apresentar ao mundo como o Brasil lida com a transição verde. O intuito, reforçado na apresentação de Zaclis, foi mudar a percepção negativa que se formou em torno do país nos últimos anos, especialmente em função do desmatamento, e posicionar o Brasil como um ambiente de soluções ambientais que podem ser exportadas e replicadas. 

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“Além de toda a área preservada, a tecnologia tem permitido melhorar a eficiência, reduzir desperdícios e economizar recursos”, acrescentou Zaclis, citando investimentos do agronegócio em geração de energia solar, marketplaces que permitem que pequenos produtores rurais comercializem a sua produção de forma sustentável, entre outras. “Tudo isso amplia a capacidade do agronegócio sustentável no país”, ressaltou. 

No Brasil, os produtores têm feito uso de bioinsumos, a agricultura de precisão tem se aprimorado e é feito o plantio direto. Mesmo assim, as áreas degradadas são um ponto de atenção, seja em função da necessidade de garantir a segurança alimentar, seja do ponto de vista climático. Seca, geada e outros eventos ambientais comprometem a produção de alimentos. 

“A agricultura regenerativa mostra que é mais rentável produzir junto com a natureza, ao invés de contra ela”, disse Felipe Villela, fundador da ReNature. “O agro tem papel fundamental para garantir segurança alimentar para o mundo, mas também para garantir resiliência climática. Por isso, as práticas sustentáveis são fundamentais”. 

Em sua visão, o agro tem de ser carbono positivo. “Para isso, precisamos de desmatamento zero, transição das práticas convencionais para regenerativas e apoiar a bioeconomia”, enumerou Villela. Além disso, as empresas que investem em commodities precisam ser estimuladas a valorizar produtos oriundos de boas práticas. 

Agro sustentável inclui pecuária de baixo carbono

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Além das boas práticas na agricultura, o evento abordou também a sustentabilidade na pecuária. Roberto Waack, presidente do conselho do Arapyaú Institute e membro do Comitê de Sustentabilidade da Marfrig, citou a importância da rastreabilidade. “Isso é algo que veio para ficar. A relação do boi com a sustentabilidade passa, inicialmente, por esse tema”, destacou. 

Segundo ele, a rastreabilidade tem alguns pilares, começando pelo tecnológico. “O Brasil é líder mundial em monitoramento por satélites, por exemplo. O mapa de biomas é referência para o mundo inteiro e é um exemplo de como a sociedade pode monitorar o uso de suas terras”, ilustrou, mencionando que existem outras tecnologias que monitoram toda a cadeia de suprimento, como a blockchain e o big data analytics. 

Outro pilar importante é o da inclusão. “Existem casos de produtores que não adotam boas práticas e as empresas simplesmente os colocam fora da cadeia. O processo tem de ser o inverso: ao invés de excluir esses produtores, é preciso incluí-los dentro das boas práticas”, disse Waack. 

Em sua visão, uma vez que a questão da rastreabilidade esteja minimamente solucionada, é possível começar a falar de carbono. “Se você não tem rastreabilidade, não sabe qual a pegada de carbono ao longo de toda a cadeia. Então um dos grandes desafios do campo, quanto às mudanças climáticas, é justamente compreender, com muita precisão, como as cadeias de produção se comportam”, pontuou.

A partir disso, segundo o especialista, é preciso adotar metodologias para medir metano, carbono e outros gases de efeito estufa. “Manejo de pastagens faz uma diferença enorme no processo de controle de emissões. Nutrição animal, melhoramento genético, práticas corretas de uso da terra e a combinação da produção do boi com a recuperação florestal são determinantes para a carne carbono zero, que faz parte do conceito de agro sustentável”, concluiu.