carne bovina de baixo carbono

Carne de baixo carbono: Embrapa valida diretrizes para produção

Potencial sustentável é apoiado pelo manejo de correto de pastagens

Redação

em 2 de abril de 2024


A Embrapa validou, recentemente, mais um protocolo com diretrizes específicas que pode beneficiar a produção de carne bovina e ainda ajudar a mitigar os gases de efeito estufa (GEE), permitindo que o pecuarista mantenha seu foco em sustentabilidade. Trata-se do protocolo de Carne Bovina de Baixo Carbono (Low Carbon Beef, ou LCB, em inglês).

Os resultados, com parâmetros técnicos, foram obtidos em dois ciclos produtivos no bioma Cerrado baiano, onde os sistemas de pecuária sem presença de árvores nas pastagens é notado. Apesar disso, a área tem potencial de mitigação de emissões de GEE com a adoção de boas práticas agrícolas. De acordo com a Embrapa, isso envolve temas como componentes de solo, pastagem e animal.

Outros oito parâmetros técnicos foram avaliados durante os dois anos de validação do protocolo: densidade do solo, estoque de carbono e qualidade do solo, disponibilidade de forragem e cobertura da área, ganho médio diário de peso dos animais, ganho de peso por área animal e emissões entéricas.

Segundo Márcia Silveira, pesquisadora que coordenou a validação das diretrizes para produção de Carne Bovina de Baixo Carbono, os resultados mostram que a implementação do protocolo pode garantir mais rendimento e a qualidade da carne, além dos estoques de carbono no solo e ações de mitigação das emissões de GEE, o que é muito positivo. 

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“É mais um passo em direção à eficiência produtiva que considera a qualidade do produto e seu ambiente de produção”, justificou a pesquisadora. 

Diretrizes para a produção de carne bovina de baixo carbono

A Embrapa, ao elaborar as diretrizes para a produção de carne bovina de baixo carbono, em 2020, antes mesmo do estudo de viabilidade, considerou manter sua proposta alinhada com o Plano de Agricultura de Baixo Carbono ( Plano ABC +), uma vez que isso agregaria valor ao produto de origem animal sempre que produzido em sistemas eficientes e com menor impacto ambiental.

Para Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte e líder da Plataforma de Pecuária de Baixo Carbono, os parâmetros precisavam da validação de um ambiente de produção comercial. 

“Neste sentido, a validação realizada pela Embrapa se tornará um modelo para certificação LCB em fazendas de pecuária de corte que desejam produzir carne nesse âmbito”, completou.

Componentes 

Para a pesquisadora Flávia Santos, os dados do componente solo, após estudo, apontaram que os nutrientes permaneceram maiores na produção de carne bovina de baixo carbono do que no manejo convencional.

“Considerando a camada de 0-20 cm de solo em 2019, o estoque de carbono, segundo o protocolo LCB, foi maior do que no Cerrado (5,4 toneladas extras por hectare), e em 2021 foi maior do que no manejo convencional (um adicional 2,5 toneladas por hectare). Essa diferença não foi observada na camada de 0-40 cm de solo, mas devido à textura arenosa, na qual não há proteção física da matéria orgânica pelas partículas do solo. Em tais casos, ocorre o acúmulo de matéria orgânica e o estoque de carbono é mais difícil e demorado de quantificar”, explicou Flávia.

Para os pesquisadores Manoel Ricardo, da Embrapa Milho e Sorgo, e  Manuel Macedo, da Embrapa Gado de Corte, “esses resultados mostram que, em solos arenosos, é necessário monitorar com mais frequência a fertilidade, a densidade e os estoques de carbono, pois seu baixo teor de argila, menor proteção da matéria orgânica e fraca estrutura física também levam a variações mais frequentes em suas características”.

Desempenho animal

De acordo com a Embrapa, os ganhos médios diários de peso por animal foram semelhantes entre os tratamentos, com média diária de 440 gramas por dia (g/dia) e 404 g/dia em LCB, tanto no primeiro como no segundo ciclo avaliado, e 430 g/dia e 375 g/dia no manejo convencional, nos dois ciclos avaliados. 

Impacto ambiental da produção de carne bovina de baixo carbono

“Do ponto de vista ambiental, o sistema de produção LCB proporcionou boa cobertura do solo, o que impactou na manutenção do estoque de carbono e na mitigação das emissões de gases de efeito estufa, além de promover um efeito de economia de terra e de resiliência no sistema produtivo”, justificou Giolo.

Segundo ele, a marca LCB está diretamente associada a sistemas de pecuária sem presença de árvores, que em sua maioria são fundamentados em boas práticas agrícolas, as quais envolvem a recuperação e manejo correto de pastagens em sistema integrado lavoura-pecuária. Além disso, promovem aumento do estoque de carbono no solo, mitigando as emissões de GEE do sistema.

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De acordo com a Embrapa, estima-se que as pastagens sejam responsáveis pelo armazenamento de 20% a 30% do carbono do solo mundial. Estudos da instituição ainda apontam que o correto manejo das pastagens “pode ser considerado a segunda tecnologia agrícola mais importante para a mitigação das mudanças climáticas globais”.